COVID-19 é arma biológica produzida por chineses?
O Nujoc recebeu para checagem uma reportagem da jornalista australiana Sharri Markson, da emissora Sky News. O texto, que acompanha o vídeo, relata que um suposto vazamento de documentos do governo chinês comprova que os cientistas daquele país haviam desenvolvido e testado o novo coronavírus como arma biológica cinco anos antes do início da pandemia. O material encaminhado para verificação através do aplicativo Eu Fiscalizo (Disponível para Android e IOS) pode ser encontrado na página do deputado estadual André Fernandes (Republicanos -CE).
As afirmações levantadas são falsas. Segundo a Agência Lupa, a reportagem de Sharri Markson em nenhum momento fala que os chineses criaram e testaram o novo coronavírus como uma arma biológica cinco anos atrás. Na verdade, a situação é que a jornalista apresenta um livro que discute como seria a possibilidade de um ataque biológico. A obra publicada em 2015 é resultado da produção de cientistas militares do Exército Popular de Libertação da China e oficiais de saúde pública daquele país.
O livro trata-se de A Origem Não-Natural da SARS e Novas Espécies de Vírus Feitos pelo Homem como Armas Genéticas (“The Unnatural Origin of SARS and New Species of Man-Made Viruses as Genetic Bioweapon”, em inglês). Ele foi editado por Xu Dezhong, um professor aposentado da Universidade Médica da Força Aérea (chefe de um grupo de especialistas que analisou a epidemia de Sars), e Li Feng, ex-vice-diretor do Escritório de Prevenção de Epidemias da China. Contudo, o coronavírus apresentado na obra é o Sars-Cov, responsável pela epidemia de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS, ou SRAG) entre os anos de 2002 e 2003. A covid-19, por sua vez, é provocada pelo vírus Sars-Cov-2, conhecido também por “novo coronavírus”.
Nesse sentido, o livro defende uma tese controversa de que o vírus da SARS teria sido manipulado por terroristas e lançado em um ataque contra a China, em 2002. O material discute a chance desse modelo de pesquisa estar sendo conduzido no mundo e traz detalhes de como um ataque dessa natureza aconteceriam, além dos impactos esperados.
De acordo com o Projeto Comprova, desde 2003, evidências sólidas apontam que o vírus da SARS surgiu em animais. No ano de 2017, virologistas chineses identificaram todas as “peças genéticas” que compõem o Sars-Cov humano em 15 cepas virais encontradas em uma caverna de morcegos — praticamente encerrando a questão, segundo a Scientific American.
A reportagem de Sharri Markson foi alvo de críticas por tratar o livro como um “vazamento de documentos”. O jornal chinês Global Times alinhado ao Partido Comunista Chinês divulgou uma nota alegando que o noticiário australiano escreveu um “artigo embaraçoso para sustentar uma teoria da conspiração de que a China investiu na criação do novo coronavírus como arma biológica anos antes da pandemia”.
O tabloide chinês critica o jornal por tratar como um “documento vazado” o que seria apenas “um livro acadêmico que explora o bioterrorismo e as possibilidades de vírus sendo usados ??na guerra” que chegou a ser vendido na Amazon, ainda que esteja fora de estoque atualmente.
Origem do novo coronavírus – Ainda em março de 2020, um estudo desenvolvido por cinco pesquisadores dos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália e veiculado pela revista científica Nature concluíram que “a análise mostra claramente que o SARS-CoV-2 não é uma construção de laboratório ou um vírus propositalmente manipulado”.
Ao atingir os resultados, os pesquisadores compararam a estrutura genética do SARS-CoV-2 com a de outros vírus da mesma família. Os cientistas destacam que, se houvesse manipulação genética em laboratório, a estrutura do novo coronavírus seria parecida com a de outros organismos existentes, porque essas alterações partiriam de moldes conhecidos. “As informações genéticas mostram de maneira irrefutável que o SARS-CoV-2 não é derivado de nenhuma estrutura central de vírus usada anteriormente”.
A revista National Geographic, em abril de 2021, aborda um relatório conduzido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em que pesquisadores internacionais viajaram à China para investigar quatro possíveis hipóteses para o surto inicial do Sars-CoV-2.
No relatório, a equipe concluiu que o vírus provavelmente se deslocou de um animal a outro antes de chegar a nós. Também foram estudadas evidências que fundamentam teorias de que o Sars-CoV-2 teria se deslocado à população humana de forma direta, saindo de um animal hospedeiro original, ou que teria sido transportado pela cadeia de abastecimento de alimentos congelados e refrigerados.