Senadores republicanos dos EUA atacam China, empresas de tecnologia e o médico Anthony Fauci
Liderados pela senadora Marsha Blackburn, eles questionaram a origem do vírus e acusaram a China de esconder informações
Em coletiva de imprensa na quinta, 10, senadores do partido Republicano dos Estados Unidos acusaram a China de esconder informações sobre a origem do novo coronavírus. Eles também acusaram o médico Anthony Fauci, do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas, de atuar em conluio com as grandes empresas de tecnologia, e pediram seu desligamento do cargo de conselheiro do governo Biden para a área da saúde. A informação está circulando na internet e foi enviada para checagem pelo aplicativo Eu Fiscalizo, da Fundação Oswaldo Cruz.
Os senadores republicanos Marsha Blackburn, Roger Marshall, Mike Braun, Ron Johnson e Roger Wicker lançaram diversas suspeitas sobre a China, as grandes empresas de tecnologia, como Facebook e Google, e a atuação do médico imunologista Anthony Fauci, conselheiro do governo americano sobre a pandemia. A entrevista coletiva dos senadores pode ser acessada aqui.
A senadora Marsha Blackburn, do estado do Tennessee, acusou a China de ter escondido informações sobre a origem do vírus, e as empresas de tecnologia de censurarem conteúdos sobre o assunto. E resume: “As grandes empresas de tecnologia foram longe demais”. O senador Mike Braun pede acesso às informações confidenciais do serviço de inteligência americana sobre a origem do vírus.
Há cerca de um mês o governo Biden anunciou que vai aprofundar as investigações sobre a origem do novo coronavírus, depois que relatório da inteligência americana apontou o adoecimento de cientistas em Wuhan um mês antes do surgimento do primeiro caso de Covid-19. Embora falte transparência do governo chinês sobre o que aconteceu em Wuhan, isso não significa que o vírus tenha sido manipulado em laboratório intencionalmente pela China. Faltam dados conclusivos sobre o assunto.
Referindo-se a mensagens de e-mail recentemente vindas a público do médico imunologista e conselheiro do governo Biden, Dr. Anthony Fauci, o senador Roger Marshall afirma que a imprensa e as grandes empresas trabalharam juntas para suprimir a informação da origem do vírus em Wuhan. O senador Ron Johnson é enfático: “A China é culpada. Eles sabiam que tinham um coronavírus. Eles têm de ser responsabilizados”. Ele também acusa as mídias sociais de cumplicidade e defende o tratamento precoce para o combate à Covid. Johnson afirma que México e Índia tiveram sucesso ao adotar tal medida recentemente.
Nos documentos que vieram a público, que você pode conferir aqui, não há provas de conluio entre as empresas de tecnologia e a imprensa na cobertura da pandemia. E nenhum estudo em larga escala provou a eficácia do chamado tratamento precoce na prevenção ou na cura da Covid-19. Por essa razão, a Organização Mundial da Saúde não reconhece o tratamento precoce contra a doença.
O senador Roger Wicker enfatiza o enorme poder concentrado em um punhado de empresas de tecnologia: “Elas decidem o que é notícia, qual informação o público vai ter e qual vai ser bloqueada”. Ele menciona o caso de um ex-presidente dos EUA que teve sua conta do Facebook derrubada por questionar as informações sobre a pandemia: “Isso é muito poder para eles, decidir quem pode e quem não pode criar notícias e ser mencionado!”.
O Facebook e o Google de fato vêm adotando medidas de controle de conteúdos sobre a pandemia, mas fizeram isso pressionados pela opinião pública mundial. As redes têm sido utilizadas por grupos que criam e espalham fake news, e têm sido cobradas para adotar medidas de controle. Um dos que tiveram sua conta bloqueada foi o ex-presidente americano Donald Trump, notório disseminador de fake news. O senador Wicker diz estar preocupado com a liberdade de expressão, mas essa tem sido a desculpa dos grupos que espalham desinformação na internet.
A senadora Marsha Blackburn encerra a coletiva de imprensa pedindo que as investigações sejam conduzidas pelo senado americano e que Dr. Anthony Fauci seja afastado de suas funções e seja convocado para depor sobre o que de fato aconteceu em Wuhan: “O dr. Fauci é pago pelo contribuinte americano, e o contribuinte está perguntando: ‘O que você fez com meu dinheiro?’”.
Em 1° de junho vieram a público e-mails do médico que supostamente apontariam complacência em relação à China e descarte apressado da hipótese de origem do vírus naquele país. Conforme checagem feita pelo Estadão, os e-mails não trazem nada de novo e não apontam para a origem manipulada do vírus.
As acusações feitas ao médico na entrevista estão relacionadas com a pressão do partido Republicano sobre o governo Biden, do partido Democrata, e por enquanto não há nada que desabone a conduta do imunologista. Em outra ocasião, Anthony Fauci classificou como “ridículas” as declarações da senadora Blackburn.
Portanto, sobre as acusações levantadas pelos senadores americanos acerca da origem do vírus e do conluio entre grandes empresas de tecnologia e o médico Anthony Fauci, elas são falsas. Sobre as origens do novo coronavírus, não há dados conclusivos por enquanto, mas a OMS já indicou que provavelmente o vírus surgiu do contato entre um hospedeiro animal e um humano. Sobre a eficácia do tratamento precoce, as informações são falsas.
A falta de transparência de Pequim sobre as origens do novo coronavírus tem alimentado diversas teorias da conspiração, nenhuma delas comprovada. O NUJOC já fez a checagem de outras mensagens sobre a China e a pandemia. Confira aqui.