É falso que uma dose da vacina é suficiente para quem já teve Covid-19
Circula na rede social WhatsApp, um vídeo em que uma médica do extremo sul baiano faz um alerta as pessoas sobre as vacinas contra a Covid-19. Nesse vídeo, que conta com o apoio de algumas empresas como uma ótica e uma hamburgueria, por exemplo, a médica e secretária de saúde de Porto Seguro, Raíssa Soares, afirma que apenas uma dose da vacina é suficiente para quem já teve Covid-19.
Ela inicia o vídeo fazendo um alerta sobre a vacina, apresenta o intervalo de tempo entre as duas doses em diferentes tipos de vacina como a Oxford e a CoronaVac e afirma que quem já teve Covid-19 toma apenas uma dose. “Pessoal, um alerta sobre a vacina: a intenção da vacina é produzir anticorpo, ok? Então a gente toma uma dose da vacina, seu corpo produz anticorpos contra aquela doença e você vai repetir com 30 dias a vacina da Covid-19 em caso de ser a CoronaVac. Se for Oxford são 90 dias. É o reforço da vacina. Um alerta que precisa ser seguido: quem já teve Covid só toma uma dose, seja antes ou seja depois, você tomou a vacina e teve Covid? Não tome a segunda dose. Se você teve Covid, você só vai tomar mais uma dose. Porque? Se não nós vamos super estimular o sistema imunológico, ok? Fique atento e divulgue essa informação importante para todos saberem”, falou ela.
O material foi encaminhado para nossa equipe através do aplicativo Eu Fiscalizo da Fiocruz (disponível para Android e iOS) e por meio dele, o Nujoc Checagem, com informações do Governo da Bahia verificaram o vídeo e constataram que as afirmações da Dr.ª Raíssa são falsas, caracterizando-se assim, mais uma desinformação no tocante a vacinação de pessoas.
A afirmação da médica publicada no vídeo que circula no WhatsApp possui embasamento em dois estudos preliminares que saíram já este ano, referentes a eficácia das vacinas e a necessidade de aplicação das duas doses. Esses estudos sugerem que pessoas que já foram infectadas pelo novo coronavírus devem sim receber a vacina, contudo, apenas uma dose das vacinas Pfizer ou Moderna seria suficiente para “turbinar” seus anticorpos e destruir o vírus – até mesmo as variantes mais infeccionas.
Um dos estudos é liderado pelo imunologista Andrew T. McGuire, do Fred Hutchinson Cancer Research Center, em Seattle. O segundo, por sua vez, é da Universidade de Nova York (NYU). Os dois batem com os achados de outras duas pesquisas publicadas recentemente, sendo uma da Escola de Medicina Icahn, do Hospital Mount Sinai, também de Nova York; e outra da Universidade de Marylend.
Informações do jornal O Globo destacam que um estudo mais recente, porém, não publicado em um jornal científico analisou amostras de sangue de pessoas que tiveram Covid-19. Os pesquisadores obtiveram amostras de 10 voluntários do Seattle Covid Cohort Study, que foram vacinados meses após contrair o coronavírus. Sete dos participantes receberam a vacina Pfizer-BioNTech e três receberam a vacina Moderna. As descobertas sugeriram que seus sistemas imunológicos teriam dificuldade para se defender do B.1.351, a variante do coronavírus identificada pela primeira vez na África do Sul. Mas a aplicação de uma dose da vacina contra a Covid-19 da Pfizer-BioNTech ou da Moderna mudaram significativamente o quadro: a dose amplificou a quantidade de anticorpos no sangue em mil vezes: “um impulso enorme”, disse Andrew T. McGuire, imunologista do Fred Hutchinson Cancer Research Center em Seattle, que liderou o estudo. Repletas de anticorpos, as amostras de todos os participantes puderam então neutralizar não apenas o B.1.351, mas também o coronavírus que causou a epidemia de SARS em 2003.
Segundo as informações de O Globo, a pesquisa constatou que os anticorpos destas pessoas pareciam inclusive ter um desempenho melhor do que aqueles nas que não tiveram Covid-19 e receberam duas doses de vacina. Vários estudos vem sugerindo que as vacinas da Pfizer-BioNTech e da Moderna são cerca de cinco vezes menos eficazes contra a variante. O sangue colhido cerca de duas a três semanas após a vacinação dos voluntários para o estudo mostrou um salto significativo nas quantidades de anticorpos em comparação com as amostras coletadas antes da vacinação.
De acordo com McGuire, os pesquisadores ainda não sabem por quanto tempo o aumento da quantidade de anticorpos persistirá, mas “felizmente, durarão muito tempo”, acredita ele. Segundo ele, os pesquisadores também observaram aumentos nas células imunológicas que têm memória e lutam contra o vírus. “Parece muito claro que estamos aumentando a imunidade pré-existente”, disse Andrew.
Contudo, por se tratar de estudos preliminares, não há qualquer eficácia que comprove que apenas uma dose da vacina, independentemente de marca, é suficiente para quem já teve Covid-19, sendo recomendado, assim, a vacinação entre as pessoas com as duas doses.
O Governo da Bahia manifestou-se em decorrência do vídeo que viralizou no estado e em uma nota de esclarecimento, a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), ressalta que o esclarecimento se dá em virtude de um vídeo que a médica e secretária de Saúde de Porto Seguro, Raissa Soares, orienta equivocadamente a população. Nesta nota, a Sesab afirma que todos os pacientes que tiveram o diagnóstico positivo para a Covid-19 devem se vacinar com as duas doses da vacina, sendo a primeira após 30 dias a partir do início dos sintomas da Covid-19 ou da data de coleta da primeira amostra de RT-PCR positiva para Sars-CoV-2. A imunidade natural (provocada pela doença) não possui um tempo exato de permanência, logo é preciso fazer o esquema vacinal em duas doses. Segundo a assessoria, trata-se de uma orientação das autoridades sanitárias federal e estadual.
Além do Governo da Bahia, a Organização Mundial de Saúde também ressalta a importância da segunda dose da vacina contra Covid-19: “Tomar essa segunda injeção na data recomendada fortalece a resposta do seu sistema imunitário ao vírus. Se você não tomar a segunda dose conforme recomendado, você não estará protegido da doença de forma ideal”.
Com isso, o argumento da médica Raíssa Soares é descredibilizado visto que o próprio Ministério da Saúde recomenda as duas doses da vacina contra a Covid-19 e por não ter estudos conclusivos que comprovem que pessoas que tiveram a Covid-19 devem tomar apenas uma dose da vacina.