Os riscos da desinformação no mercado de mídia brasileiro
Por Ana Regina Rêgo
Em 2018 o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) divulgou os resultados de uma pesquisa, que por sinal, já tratamos aqui em outras ocasiões, e que atestava que as “notícias falsas” se espalhavam numa velocidade 70% mais rápido do que uma informação jornalística comprovada, por exemplo. À época a pesquisa teve como foco o Twitter e analisou 126 mil postagens replicadas por 3 milhões de pessoas. Os resultados dão conta de que uma notícia que se aproxima do real atinge em média, mil pessoas, já as narrativas falsas e de cunho sensacionalista e desinformacional, podem chegar a um público variante entre mil e 100 mil pessoas, dependendo dos personagens (políticos, digital influencers, artistas, etc.) que no meio do caminho venham a se engajar e a compartilhar a postagem mentirosa.
Nesse sentido, e, embora tenhamos visto as grandes plataformas digitais negarem que uma narrativa que desinforma possui maior potência do que uma notícia que se aproxima do real, para conseguir engajamento e potencializar a circulação, os dados de inúmeras pesquisas revelam exatamente o contrário, ou seja, revelam que a desinformação é um dos produtos mais lucrativos da atualidade, tanto para quem o produz na rede mundial de computadores, independente da plataforma que utiliza, assim como, para as próprias big Techs.
Diante desse cenário inúmeras iniciativas de combate à desinformação têm surgido em vários países e muitos têm como foco o mercado potencial que produz e faz circular narrativas criadas para desinformar, construir e manter a ignorância pessoal e social. Uma destas iniciativas é o Global Desinformation Index (GDI) que é uma organização sem fins lucrativos do Reino Unido e que opera com base nos princípios de neutralidade, independência e transparência e tem como missão restaurar a confiança na mídia, fornecendo classificações de risco automatizadas em tempo real dos sites de mídia do mundo, por meio de um Índice de Desinformação Global (GDI). No Brasil o GDI se associou ao Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS-RJ) que procura analisar os processos tecnológicos sob diversas dimensões que os atravessam, para avaliar os riscos de desinformação dos sites e portais brasileiros.
No sumário executivo do documento publicado recentemente pelo GDI e ITS sobre os riscos da desinformação no Brasil, os responsáveis pela pesquisa afirmam que a “ metodologia de classificação de riscos do GDI não visa identificar ou rotular sites de notícias como veículos confiáveis ou de desinformação. Pelo contrário, a abordagem do GDI se ancora na ideia de que um conjunto combinado de indicadores pode refletir o risco global de que um determinado site veicule desinformação. As classificações devem ser vistas como uma maneira de oferecer insights iniciais ao mercado brasileiro de notícias e seus níveis gerais de risco de desinformação, assim como os pontos fortes e desafios que os sites enfrentam para mitigar os riscos de desinformação”.
A análise realizada pelo ITS e GDI no Brasil englobou 35 sites considerados players importantes no mercado de notícia nacional tendo em vista que no ambiente virtual possuem considerável número de acessos e de seguidores/inscritos nas redes sociais, conformando fluxos de opinião que se reverberam em câmaras. A amostra abrange desde sites do jornalismo tradicional como O Estadão e a Folha de São Paulo, até sites como Terça Livre, cujo canal no YouTube permanece fora do ar, por propagação de fake News.
Dentre os principais resultados sobre os riscos da desinformação no Brasil a pesquisa indica que metade dos sites possuem risco alto ou máximo de desinformar seus usuários. Sendo que 10 deles apresentam risco alto, enquanto que 7 (20% da amostra) apresentam risco máximo. Os pesquisadores alertam que “muitos desses sites publicam conteúdo tendencioso, usando segmentação negativa, sensacionalismo e elementos visuais, criando assim uma oportunidade de manipular seu público. Em termos de freios e contrapesos operacionais, este grupo de sites carece de políticas que regulem sua seção de comentários visando assegurar a precisão jornalística, assim como políticas de atribuição. Cinco dos sites classificados como de risco máximo são conhecidos propagadores de desinformação”.
Por outro lado, somente 3 sites foram classificados como de risco mínimo de desinformação. São os sites que apresentam desempenho satisfatório para a maioria dos requisitos propostos pela metodologia GDI, muito embora, possam apresentar algum nível de sensacionalismo e não sejam transparentes no que concerne à suas políticas de financiamento.
Já no que concerne aos indicadores do pilar de Operações definido na metodologia GDI, somente 2 dos 35 sites obtiveram pontuação média. Para os pesquisadores, “os sites de notícias avaliados no Brasil poderiam melhorar significativamente suas pontuações caso se concentrassem em suas políticas operacionais e editoriais. Muitos dos sites da amostra poderiam tornar públicas suas políticas relativas à atribuição, à regulamentação da seção de comentários e às medidas para assegurar a precisão jornalística”.
Vale destacar que do ponto de vista metodológico o Índice de Desinformação Global (GDI) consiste em um processo analítico a partir de dois pilares, a saber: Conteúdo e de Operações. O pilar de Conteúdo inclui indicadores que avaliam os elementos e características do conteúdo de cada domínio a fim de aferir seu nível de credibilidade, sensacionalismo e imparcialidade. Os indicadores do pilar de Operações avaliam as políticas e regras que um determinado domínio estabelece para garantir a confiabilidade e a qualidade das notícias veiculadas. Essas políticas dizem respeito, por exemplo, a conflitos de interesse, precisão dos relatórios e responsabilidade. Por outro lado, as etapas da metodologia são realizadas em momentos alternados por programas computadorizados e por pesquisadores que analisam os dados em cada uma das etapas.
Por fim, o relatório atesta que o mercado de mídia brasileiro se apresentou como de alto risco para a desinformação, visto que dos 35 sites analisados, somente 6 se encaixaram nos substratos de risco baixo ou mínimo (sendo 3 em cada). Segundo a pesquisa aqui em pauta, “os sites de mídia brasileiros geralmente apresentam níveis médios de acordo com nosso quadro de avaliação, quando se trata de indicadores do pilar de Conteúdo. No entanto, as pontuações gerais são mais baixas para os indicadores do pilar de Operações, especialmente no âmbito das informações sobre fontes de financiamento, garantia de precisão e atribuição.
Para conhecer os resultados do trabalho do GDI e ITS no Brasil em 2021 acesse:
Para conhecer o GDI e o documento mundial vá ao site: