Risco de Covid severa foi 14 vezes maior em pessoas com deficiência de Vitamina D?
Por Thalita Albano
O Nujoc Checagem, por meio de parceria com o aplicativo Eu Fiscalizo – da Fiocruz (disponível para Android e iOS), recebeu para análise uma publicação da página @verum_vitae_, no instagram, que trazia a seguinte informação: Vitamina D e Covid: Risco de Covid severa foi 14x maior entre os com deficiência de Vitamina D.
O post relata através da legenda que diversos blogueiros chegaram a não recomendar a vitamina D na Covid e que um estudo realizado em Israel comprovou que quem tinha deficiência de vitamina D (menor que 20ng/mL) era 14x mais provável ter a doença na sua forma mais severa. Além da insuficiência da vitamina D no organismo, possuir alguma comorbidade também aumentava o risco de pacientes com Covid desenvolverem a forma mais severa da doença. Além desses, pacientes hospitalizados com deficiência de vitamina D também corriam o risco de terem seu quadro de saúde agravado.
Com base no material recebido e com a ajuda de informações sobre a relação entre vitamina D e Covid-19, o Nujoc Checagem apurou a publicação da página @verum_vitae_ e constatou que trata-se de uma informação ainda em estudo, ou seja, sem comprovação científica, visto que até o momento pesquisas estão sendo realizadas sobre o assunto, não comprovando cientificamente que haja alguma relação entre a vitamina D no tratamento da Covid-19.
Desde o começo da pandemia que muito tem se questionado se haveria alguma relação entre a deficiência de vitamina D no organismo e a Covid-19, sobretudo, em casos mais graves da infecção. A vitamina D, a título de informação, nada mais é que um hormônio esteroide responsável pela regulação dos níveis corporais de cálcio e sódio, e da mineralização óssea. Além disso, ela ainda exerce importante papel no controle de diversas patologias, como doenças autoimunes e imunossupressão, auxilia na manutenção da massa muscular e tem forte relação com a imunidade do organismo humano.
A vitamina D é sintetizada no organismo humano de duas maneiras: a primeira delas é pela ingestão de alimentos ricos em proteínas animais e vegetais, podendo ser classificada como colecalciferol (D3) e ergocalciferol (D2) respectivamente, de acordo com sua origem alimentar; e a segunda é através da exposição aos raios ultravioletas (UVB), que pela epiderme transforma um derivado do colesterol (7-DHC) em colecalciferol.
Recentemente, alguns estudos realizados em diferentes países como Itália, França, Estados Unidos e Indonésia, por exemplo, correlacionam a deficiência de vitamina D com um maior risco de complicações junto a infecções por Covid-19, sobretudo em pacientes obesos e com diabetes tipo 1e 2. Contudo, esses estudos têm se mostrado confusos e esparsos, apresentando variáveis e impedindo que haja uma conclusão assertiva que possa correlacionar efetivamente a deficiência de vitamina D com casos graves de Covid-19.
No entanto, um estudo brasileiro realizado pelo geriatra e professor da Unifesp, Alberto Frisoli, afirma que além dos outros benefícios, a vitamina D pode ainda, contribuir para a prevenção de infecções por Sars-Cov-2, o vírus causador da Covid-19, ou de quadros mais graves da doença.
A pesquisa realizada no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, com 200 pacientes, teve início com o objetivo de analisar a relação entre a falta da vitamina D e a contaminação por Covid-19 em idosos. Com previsão para ser finalizado no segundo semestre de 2021, os resultados do estudo até então são promissores, segundo o pesquisador. “Os pacientes que participaram do estudo apresentavam elevado percentual de suplementação de vitamina D. A deficiência dessa vitamina foi associada ao maior tempo de internação, maior chance de ir para UTI e tendência para insuficiência renal aguda, fator determinante para levar o paciente a sessões de hemodiálise. A maioria dos pacientes que morreram tinham na admissão baixos índices de vitamina D. Os baixos níveis de vitamina D também estavam associados aos altos índices de substâncias inflamatórias, como interleucina”, explicou Alberto.
Frisoli pontua ainda que se faz necessário o desenvolvimento de novos e mais profundos estudos, a fim de entender os impactos e diferenças no que diz respeito à contaminação pelo novo coronavírus por pacientes que tomam vitamina D para aqueles que não tomam. É o chamado estudo controlado. “O mesmo deverá ser feito com pacientes hospitalizados, no qual a vitamina D deve ser avaliada de forma isolada e em conjunto com outros medicamentos, para que se possa entender qual o efeito e como ele ocorre”, disse ele.
Ele, inclusive, lembra que outros estudos feitos com vitamina D no Brasil e no mundo ainda apresentam resultados controversos. “Alguns estudos com populações pequenas sugerem que uma dose elevada de vitamina D pode ter algum benefício em pacientes graves, já o estudo publicado na revista “Jama – Journal of American Medical Association –” mostrou que não tem efeito no tempo de hospitalização e mortalidade, quando dada a vitamina no início da internação. Então, do ponto de vista simplificado, temos aqui uma inconclusão a respeito disso. Isso porque o estudo brasileiro não levou em consideração o uso de medicamentos durante a internação, nem a dosagem desses medicamentos. Por exemplo, o uso de corticosteroides pode interferir significativamente na taxa de sobrevida dessas pessoas, bem como no período de hospitalização. Pontos como esse ainda não nos permitem fazer muitas conclusões, por isso ainda são necessários mais estudos”, frisou o geriatra.
Além disso, segundo um artigo publicado pela revista científica “The Lancet”, o papel da vitamina D na resposta à infecção por Covid-19 pode ser duplo: apoiar a primeira defesa do organismo ao vírus, que inclui a produção de peptídeos antimicrobianos no tecido das vias respiratórias, protegendo o organismo da invasão do vírus causador da doença e, no segundo momento, promovendo a redução da resposta inflamatória à infecção.
Com isso, mesmo com estudos em andamento, fica claro que não há nenhuma comprovação científica de que a vitamina D auxilie na prevenção e no tratamento da Covid-19. Enquanto isso, a melhor forma de se prevenir da doença continua sendo o distanciamento social e o uso da máscara, bem como a vacinação em massa.