Cidade de Porto Feliz (SP) cria o “kit COVID-19” com hidroxicloroquina para pacientes em tratamento
Procede que o município paulista Porto Feliz criou um protocolo para tratamento de pacientes em estágio inicial do novo coronavírus. O protocolo consiste em disponibilizar para as pessoas infectadas um kit com os seguintes medicamentos: hidroxicloroquina, azitromicina, enoxaparina, remédio para enjoo e anti-inflamatório. A informação chegou ao NUJOC Checagem, por meio de parceria com o aplicativo Eu Fiscalizo da Fiocruz (disponível para Android e iOS), resultado de mensagem veiculada pelo deputado estadual Capital Assumção (PSL-ES) que parabenizou o prefeito, Cássio Habice Prado (PTB-SP), da então cidade paulista por criar o “kit COVID-19”.
Com informações do Uol, a prefeitura de Porto Feliz gastou R$ 100 mil para a produção de 2 mil kits. O kit de remédios foi colocado à disposição em dois postos de saúde e no pronto-socorro do município, por meio do pagamento de 40 reais por parte da população e com a devida receita médica. O protocolo foi adotada em abril, um mês antes do Ministério da Saúde divulgar a recomendação do uso da hidroxicloroquina em casos leves de COVID-19
O Estadão Verifica, neste mês, apontou ainda uma fake news envolvendo a criação dos kits e a ausência de mortes no município. Conforme checado pelo jornal, a informação falsa está presente em pelo menos cinco publicações virais no facebook que tratavam da eficácia da hidroxicloroquina e, consequentemente, do kit. O município de Porto Feliz, com 53.098 habitantes, não evitou mortes pelo novo coronavírus com uso do medicamento. O boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde do Estado informa que em 11 de junho, data da publicação das postagens falsas, a cidade tinha registrado acumulado de 354 casos confirmados e 6 óbitos. Em 16 de julho, data da checagem de O Estadão, eram 376 casos e 8 óbitos.
Vale ressaltar que os medicamentos cloroquina e hidroxicloroquina não tiveram a eficácia comprovada, além de que os estudos apontam que elas aumentam o risco de morte súbita por complicações cardíacas. O uso do medicamento rotineiramente não é recomendado pelas associações médicas brasileiras de cardiologia, medicina intensiva, de infectologia e de pneumologia.
Confira a nota emitida pela Sociedade Brasileira de Cadiologia:
O Ministério da Saúde, no âmbito de suas atribuições, publicou novas orientações para tratamento medicamentoso precoce de pacientes com diagnóstico de COVID-19, infecção causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2).
A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) não recomenda o uso da Cloroquina e Hidroxicloroquina associada, ou não, a Azitromicina, enquanto não houver evidências científicas definitivas acerca do seu emprego.
No entanto, para os pacientes que optarem pela realização do tratamento, orienta que, desde que resguardada as condições sanitárias necessárias para minimizar o risco de contágio de profissionais de saúde e outros pacientes, que sejam realizados eletrocardiogramas a fim de avaliar a evolução do intervalo QT, de forma a subsidiar o médico quanto a pertinência de se persistir no tratamento. Para tanto, a Telemedicina pode ser uma alternativa viável para suportar essa iniciativa.
Por fim, a SBC, com base em seus propósitos sociais estará sempre a disposição para contribuir com as autoridades sanitárias do país na adoção de políticas públicas de interesse da sociedade brasileira.
Em maio, uma pesquisa veiculada pelo Journal of the American Medical Association (JAMA) aponta que a hidroxicloroquina não é capaz de evitar mortes pela covid-19 e ainda pode causar problemas no coração, tanto sozinha como quando relacionada à azitromicina.
A pesquisa, promovida em pacientes de hospitais do estado de Nova York (EUA), é a maior deste tipo e corrobora com outro estudo divulgado na semana passada, no New England Journal of Medicine, que também expõe que o medicamento não funciona contra o novo coronavírus.