Tratamento profilático ajuda contra a Covid-19?
Mensagens em grupos de WhatsApp têm levado pessoas a estocarem remédios em suas casas para tratamento prévio contra a Covid-19
Circula na internet, em grupos de WhatsApp, informativos que fazem alusão ao uso profilático de algumas medicações para tratamento contra a Covid-19. A denúncia chegou à equipe do NUJOC Checagem pelo aplicativo Eu Fiscalizo, da Fiocruz. Até o momento, não há estudos que comprovem a eficácia de nenhum medicamento contra o novo coronavírus, apesar de, em ensaios laboratoriais, ou seja, não testados em humanos, algumas drogas terem resultados promissores, mas precisam avançar nas fases de testes para que possamos confirmar sua eficácia.
Estocar e fazer uso indiscriminado de remédios sem a devida prescrição ou orientação médica configuram atitudes de risco que podem até levar à morte.
Uma medicação deve ser utilizada sob condições específicas, com o devido acompanhamento no qual se possa se avaliar sua eficácia e, assim, chegar a um diagnóstico mais preciso do(a) paciente assistido mediante o uso daquele medicamento.
Automedicação – Porém, em tempos de pandemia, notícias a respeito de tratamentos profiláticos contra a Covid-19 têm levado inúmeras pessoas a se automedicarem e até mesmo estocarem remédios em seus lares na iminência de, caso seja necessário, terem a sua disposição aquelas drogas para uso preventivo.
Inúmeras entidades e organizações médicas criticam essas medidas preventivas tendo em vista que o uso desorientado de medicações pode levar a intoxicação, graves efeitos colaterais e até overdoses.
No que se refere à Covid-19, notícias envolvendo o vermífugo ivermectina, e até mesmo a polêmica em torno da cloroquina, fizeram com que muitos brasileiros e brasileiras comprassem caixas e mais caixas desses remédios para usar de forma preventiva em suas próprias casas, mesmo sem nenhuma eficácia comprovada contra o novo coronavírus.
A respeito desses medicamentos como forma de prevenção ou tratamento contra Covid-19, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), no dia 29 de junho, posicionou-se sobre o assunto por meio de nota e ressaltou: “Não existem evidências científicas de que quaisquer das medicações disponíveis no Brasil, tais como ivermectina, cloroquina ou hidroxicloroquina, isoladas ou associadamente, colaborem para melhor evolução clínica dos casos. Isso também é verdade para vitaminas, como, por exemplo, a C e D, e suplementos alimentares contendo zinco ou outros nutrientes”.
A falta de opções e a ausência de uma vacina que imunize e reduza a severidade das infecções causadas pelo novo coronavírus faz com que, inclusive, muitos médicos defendam o uso de determinadas substâncias para o tratamento da doença mediante protocolos e do consentimento dos pacientes que serão submetidos a esse tratamento.
Apesar da ineficácia, muitos pacientes submetem-se a esses tratamentos pois agarram-se a qualquer opção que possa indicar uma salvação para luta contra o Sars-Cov-2.
Em uma reportagem publicada no dia 07 de julho desse ano, a BBC publicou uma matéria na qual reúne uma série de depoimentos, e observa que “entidades como a OMS, a FDA (equivalente americana à Anvisa), a Sociedade Americana de Infectologia (IDSA) e o Instituto Nacional de Saúde Norte-Americano (NIH) recomendaram, em meados de junho, que os profissionais de saúde não usem cloroquina ou hidroxicloroquina em pacientes com a covid-19, exceto em pesquisas clínicas”.
Rede pública – Mesmo assim, diversos hospitais adotaram protocolos com a adoção desses medicamentos nas redes públicas de tratamento. Em Natal, por exemplo, a Secretaria Municipal de Saúde de Natal fornecerá o remédio ivermectina, um antiparasitário, para profissionais da saúde, como medida de “prevenção” à Covid-19. A ação faz parte de um novo protocolo, que também vai adotar, para o tratamento dos sintomas da doença, a ministração dos medicamentos Hidroxicloroquina, Cloroquina e Azitromicina”, como informa o portal G1.
O Código de Ética Médica proíbe “a divulgação fora do meio científico de tratamentos ou descobertas que não sejam reconhecidas cientificamente por órgão competente. Desta forma, a SBI pontua que médicos que fazem publicidade de tratamentos contra a covid-19 podem estar infringindo as normas da profissão”.
Portanto, como ainda não temos nenhum estudo no qual fique comprovado que alguns medicamentos funcionam contra o novo coronavírus, a luta contra a Covid-19 ainda terá de esperar um pouco, visto que não há nenhum medicamento comprovado cientificamente que possui eficácia contra suas infecções. Medicar-se por conta própria e estocar medicação não são medidas eficazes contra o vírus. Pois se não há remédio para a doença provavelmente ainda não há também tratamento preventivo.