Vídeo traz informações incompletas sobre o uso da cloroquina no tratamento de pessoas com COVID-19 e fetos infectados pela zika vírus
“O medicamento é uma das apostas em pesquisas realizadas durante a pandemia do novo coronavírus, mas ninguém sabe ainda se funciona mesmo nem contra a zika, muito menos contra a covid-19”, afirma Marcus Lacerda, pesquisador da Fiocruz Amazônia.
Um vídeo divulgado no Instagram da ativista Carla Zambelli, mostra quatro reportagens incompletas sobre o tratamento com a cloroquina. 3 das reportagens foram exibidas pela Rede Globo e uma pela CNN Brasil. Ambas estão cortadas e induz o público a uma interpretação errada.
As três reportagens se referem ao uso da cloroquina em pacientes com COVID-19 e uma ao uso da droga em mulheres grávidas, a fim de impedir que as células do sistema nervoso central do feto sejam infectadas pela zika vírus.
O vídeo tem como abertura uma reportagem exibida em 2016 pelo Jornal Nacional, que fala sobre um medicamento usado no tratamento de doenças como a malária (cloroquina) que pode ser eficaz para proteger o cérebro de fetos contra a infecção pelo vírus da zika. Na reportagem original a apresentadora, afirma que apesar da descoberta ainda é preciso fazer testes em humanos. Leia a matéria completa aqui.
Embora o vídeo se refira a duas doenças diferentes e a uma mesma medição não significa que a droga seja eficaz para duas, pois, há uma diferença em todos os aspectos dos dois vírus. Alysson Muotri, biólogo brasileiro que em 2018 esteve na linha de frente das pesquisas de zika e cloroquina nos Estados Unidos, explica que:
“O fato de a zika ter um vetor, o mosquito, torna mais fácil atacar o vírus. A covid-19 não tem um vetor intermediário, por isso se propaga de forma mais rápida. A situação é mais emergencial. O vírus da zika começou restrito, agora o coronavírus é um vírus de mutações rápidas, que se adapta rapidamente”.
É importante ressaltar que ainda não foram realizados ensaios clínicos com o uso da cloroquina no combate a zika vírus em humanos e a busca por um remédio acabou interrompida. Saiba mais aqui.
Entenda o Caso
Há exatos quantro anos atrás o Brasil se deparava com a epidemia da Zika Vírus, em virtude disso pesquisas para descobri um tratamento para a doença foram constantes. Durante o período, o Brasil liderou a descoberta da relação do vírus zika e o aumento de casos de microcefalia e outras alterações em bebês.
Em 2016 a equipe do Instituto de Biologia e do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ e do instituto D’Or comprovou que o medicamento cloroquina pode evitar que o vírus da zika danifique as células nervosas em formação.
A pesquisa, que foi realizada em camundongos, comprovou a relação entre zika e microcefalia. De acordo com a matéria publicada no site G1, as células em estágio inicial foram produzidas em laboratório a partir de células tronco. Elas representam a formação do sistema nervoso nas primeiras semanas de gestação, quando o vírus da zika é mais destruidor.
“A cloroquina mostrou aqui no laboratório que é muito eficiente pra impedir a infecção de células que estão se tornando neurônios durante o desenvolvimento do sistema nervoso e isso é muito importante no contexto da microcefalia porque aparentemente os estudos estão mostrando que o cérebro dos fetos é mais suscetível a essa infecção logo no início da gestação e como a cloroquina é segura pra se usar com gestantes o que a gente viu é que existe esse potencial de se usar a cloroquina em mulheres grávidas e a impedir que as células do sistema nervoso central do feto sejam infectadas”, disse Loraine Campanati, professora do Instituto de Ciências Biomédicas, segundo o site de notícias G1.
Segundo a médica, a cloroquina ainda não pode ser usada, principalmente por mulheres grávidas para evitar a zika, porque ainda são necessárias algumas etapas do estudo para garantir o resultado contra a doença e os efeitos dela em humanos.
Finalizando o vídeo divulgado no Instagram da ativista, foi exibida uma reportagem de 2020, onde o jornalista Alexandre Garcia, fala no programa CNN Liberdade de Opinião que a hidroxicloroquina é decisiva no tratamento prematuro da COVID-19 e que tem exemplos em casa da eficácia da droga.
Entretanto, já foi abordado aqui pelo Nujoc Checagem que a cloroquina e hidroxicloroquina não possuem eficácia comprovada no tratamento da COVID-19. O infectologista Marcus Lacerda adverte que “as pessoas só devem usar cloroquina em um ambiente de pesquisa, sendo monitoradas por um médico e sob regime de pesquisa clínica. O uso profilático, como precaução, não. Não tem qualquer evidência no planeta de que as pessoas que usam cloroquina não desenvolvem formas graves da covid-19”.