Senador Flavio Bolsonaro afirma ter se curado da Covid-19 utilizando Hidroxicloroquina e Azitromicina
Estudos da Coalizão Brasil, demonstraram que ambas as medicações não possuem eficácia comprovada contra o novo coronavírus
Do início da pandemia até agora, a procura por um medicamento que possa diminuir os sintomas ocasionados pelo novo coronavírus tornou-se algo tão estimado quanto a chegada de uma vacina. Ensaios clínicos e laboratoriais envolvendo algumas medicações ganharam notoriedade pelo mundo devido as altas expectativas pela comprovação de sua eficácia contra a doença.
Entre elas, a Hidroxicloroquina, a Ivermectina e Azitromicina tiveram maior destaque, sobretudo aqui no Brasil, em virtude de muitos profissionais da saúde apostarem nessas medicações para tratar casos de Covid-19 e também por vários posicionamentos vindos da presidência da república em apoio ao uso do medicamento, mesmo sem nenhuma comprovação científica. Sem contar a grande quantidade de informações falsas que sugeriam que a cura para o novo coronavírus se encontrava nesses remédios.
Seguindo essa linha de pensamento, essa semana, em suas redes sociais, o senador Flávio Bolsonaro fez uma publicação no qual relata ter se curado através do uso de duas dessas substâncias, a Hidroxicloroquia e Azitromicina. Usando seu perfil no Instagram o parlamentar comentou:
“Estou curado da covid-19, graças a Deus! Tratei desde os primeiros sintomas com hidroxicloroquina e azitromicina, com acompanhamento médico! Comigo, já são quase 3,3 milhões de brasileiros recuperados! ”
Segundo especialistas, a taxa de recuperação de pessoas infectadas pelo novo coronavírus é de 90% ou mais. Atribuir ás medicações o sucesso pela recuperação da doença é uma premissa inconsistente. Em um estudo realizado com pacientes que desenvolveram a forma grave da Covid-19, as conclusões obtidas apontam para ineficácia do medicamento contra o Sars-Cov-2, sem apresentar nenhuma melhora clínica. O mesmo se aplica ao caso da Hidroxicloroquina.
A coalizão é formada por um grupo de oito hospitais, o (Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital do Coração – HCor, Hospital Sírio Libanês, Hospital Moinhos de Vento, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Brazilian Clinical Research Institute – BCRI, e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva – BRICNet).
Integrante executivo da coalisão e diretor da BCRI (Brazilian Clinical Research Institute), Renato Lopes comenta que: nosso grupo, por meio de mais uma pesquisa de alto nível e realizada em tempo recorde, mas mantendo o rigor científico, aponta uma resposta para o mundo: não há vantagem em se usar azitromicina rotineiramente para pacientes graves com Covid-19. Essa conclusão é baseada na metodologia padrão-ouro da pesquisa clínica. Portanto, diretrizes e protocolos hospitalares nacionais e internacionais deverão agora usar nossos achados para reformularem suas condutas padrões no tratamento de pacientes graves com Covid-19″.
O estudo aconteceu da seguinte maneira: 214 pacientes receberam doses de Azitromicina administrada em doses de 500mg via oral, diariamente durante um período de dez dias, mais o tratamento padrão (antivirais) para casos de Covid-19. Enquanto outros 183 receberam apenas o tratamento padrão sem nenhuma dose de Azitromicina. Passado esse período, os pacientes foram acompanhados por mais 29 dias, mas a principal análise foi feita com base no estado clínico dos participantes 15 dias após a implantação dos regimes terapêuticos. A avaliação considerou seis aspectos: ter recebido alta, mas manifestar sequela; estar internado, porém sem limitações; permanecer internado e continuar recebendo oxigênio; precisar de oxigênio, mas sem ventilação mecânica; e por fim, ter vindo a óbito. Entre aqueles que utilizaram o antibiótico, a taxa de óbitos, após 29 dias, foi de 42%. Já entre o grupo controle, de 40%. De acordo com os pesquisadores, a elevada taxa de óbito demonstra a gravidade desta população e a necessidade de pesquisas adicionais para identificação de terapias seguras e eficazes. A incidência de efeitos colaterais também foi semelhante entre os grupos.
Após a análise principal, constaram nos resultados que o uso das medicações não indicou nenhuma diferença entre os grupos estudados.
Alexandre Biase, pesquisador do Hcor e da Coalisão, afirma que:
“Como não há efeito benéfico, recomendamos que a comunidade médica considere a não prescrição do medicamento, que tem sido bastante usado no combate ao novo coronavírus, mas cujos efeitos benéficos ainda não foram comprovados”
No site oficial da Hcor, por meio de nota, a rede hospitalar informa que a; “pesquisa feita por grupo de hospitais, rede e instituto de pesquisas brasileiros verificou que o uso de hidroxicloquina, sozinha ou associada com azitromicina, não mostrou efeito favorável na evolução clínica de pacientes adultos hospitalizados com formas leves ou moderadas de Covid-19”
A Fiocruz, por sua vez comentou que a “Azitromicina é um antibiótico e, portanto, não ataca vírus. Os antibióticos são indicados apenas contra bactérias”.
Portanto, ao que tudo indica, essas medicações ainda não estão disponíveis para um tratamento devidamente comprovado e com eficácia, logo, devem ser evitadas ou utilizados apenas sob orientação e prescrição médica. Nos casos suspeitos de Covid-19, a recomendação das autoridades de saúde é de não se auto medicar e procurar imediatamente uma UBS mais próxima de casa para realizar os devidos exames.