China diz que não há necessidade de vacinar toda a população contra Covid-19
Declaração foi feita pelo diretor do Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), Gao Fu.
Uma declaração feita pelo diretor do Centro Chinês para Controle e Prevenção de Doenças (CDC), Gao Fu, causou polêmica nas redes sociais esta semana.
Em entrevista, cedida para a agencia de notícias China News Service, no sábado (12), o profissional afirmou que não há necessidade de vacinar toda a população chinesa contra a Covid-19. “Desde que a primeira onda de Covid-19 apareceu em Wuhan, a China já sobreviveu ao impacto da Covid-19 várias vezes”, afirmou Gao.
Berço da doença, o país acredita que as medidas já tomadas para a manutenção da saúde são suficientes para o controle da pandemia.
Segundo o diretor, a questão de vacinar a população envolve equilibrar “riscos e benefícios”, acrescentou, apontando para fatores como custo e potenciais efeitos colaterais. “Atualmente, não há necessidade de vacinação em massa neste estágio, embora isso possa mudar se outro surto grave ocorrer”, disse Gao.
Essa política distingue a China de muitos governos, principalmente da Austrália, que traçaram planos para realizar campanhas de vacinação em massa.
Especialistas disseram anteriormente que a vacinação é fundamental para países como a China, onde a porcentagem de pessoas infectadas na população é relativamente baixa devido a medidas de contenção rígidas. “A imunidade geral é muito baixa. Então, nesses lugares, definitivamente o caminho a seguir são as vacinações”, disse Ivan Hung, especialista em doenças infecciosas da Escola de Medicina da Universidade de Hong Kong, no final de agosto.
De acordo com Gao, qualquer vacina potencial será priorizada para aqueles na linha de frente de combate à doença: médicos, cidadãos chineses que trabalham no exterior em locais com circulação do vírus e pessoas que trabalham em ambientes densos e de alto risco, como restaurantes, escolas ou serviços de limpeza. O diretor ainda alertou que o desenvolvimento da vacina ainda é um trabalho em andamento, com riscos de efeitos colaterais indesejados.
“Uma vez que nunca houve uma vacina contra Covid-19 desenvolvida antes, o que torna este caso o primeiro na ciência, é possível que ela possa induzir efeitos ADE (aprimoramento dependente de anticorpos) como qualquer outra inovação que possivelmente enfrentaremos”, disse. “A pesquisa científica é um processo muito rigoroso, precisamos dar aos cientistas um pouco mais de tempo”, finalizou.
Os números de infecções pelo coronavírus na China permanecem baixos há vários meses. Houve alguns surtos – concentrados na província de Jilin em maio, um surto em Pequim em junho e outro na capital de Xinjiang, Urumqi, em julho – mas eles foram atendidos com medidas imediatas de bloqueio e testes em massa, e contidos em poucas semanas.
Para o infectologista e professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Mateus Westin, a descoberta de uma vacina não é necessariamente o fim de uma doença. “Nós já tivemos, por exemplo, a erradicação da varíola, a partir do desenvolvimento de vacina. Mas nós tivemos o desenvolvimento de várias outras vacinas, como a de sarampo, caxumba, tétano, coqueluche e rubéola, e nós ainda convivemos com essas doenças”, explica. Mas ele acrescenta que a imunização garante que haja uma diminuição nos casos. “Quanto maior a cobertura vacinal de uma população, menor vai ser a circulação de determinado vírus, bactéria ou qualquer doença infecciosa que tenham vacina contra”, aponta.
O professor Westin completa explicando que a eficácia de uma vacina nunca é 100%. “É preciso tentar desenvolver uma vacina com a maior eficácia possível e, com boa parte das pessoas vacinadas, a gente interrompe a cadeia de transmissão. Então, a gente pode até erradicar uma doença com uma vacina, mesmo que não tenha eficácia de 100%”, analisa.
*Com informações da CNN e entrevista da Universidade Federal de Minas Gerais.