Afinal, as vacinas contra a Covid-19 são seguras?
As vacinas testadas até agora apresentam métodos de imunização diferentes, sendo necessários critérios de avaliação únicos para cada uma delas.
O mundo aguarda ansiosamente pelo dia em que a distribuição da vacina contra o novo coronavírus estará disponível. Até lá, muitas lacunas ainda precisam ser preenchidas, e muitas outras dúvidas necessitam de respostas urgentes. Qual a eficácia dessas vacinas? Quanto tempo dura a imunização? Quem já foi infectado precisa mesmo ser vacinado? A vacina oferece algum risco à saúde? Essas e muitas outras questões permeiam os debates atuais apresentados pela ciência e a mídia sobre o novo coronavírus. A pandemia da Covid-19 gerou uma recessão mundial em todas as esferas sociais, e ainda há uma gigantesca batalha sendo travada entre os órgãos competentes e a pandemia da desinformação. E as dúvidas são muitas…
Afinal, a vacina contra a Covid-19 é perigosa? O que dizem alguns estudos;
Atualmente, as vacinas que estão na fase 3 de testes em humanos pelo mundo são a CoronaVac, desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac Biotech, a BNT162b2 da Pfizer & BioNTech parceria americano-alemã, a mRNA-1273 da empresa Moderna dos Estados Unidos, a ChAdOx1 nCoV-19 da AstraZeneca e Universidade de Oxford, a Ad26.COV2-S produzida pela Johnson & Johnson e por fim a Sputnik 5 do Centro Nacional de Epidemiologia e Microbiologia de Gameleya na Rússia, dentre elas, as vacinas das farmacêuticas Pfizer, BioNtech e a vacina russa, anunciaram nesta segunda-feira, dia 9, que suas candidatas possuem 90% de eficácia contra a doença.
Na prática, isso quer dizer que, quem for vacinado por alguma dessas candidatas tem 90% menos chances de serem infectados pela doença do que quem não for vacinado. Este conceito de “eficácia” faz referência a experimentos na fase 3 em ambientes controlados pelos cientistas, onde, é possível verificar os efeitos das doses em seres humanos, e também facilita o monitoramento de quaisquer eventos adversos.
Segundo reportagem da Superinteressante, no caso da vacina desenvolvida pela Pfizer, 44 mil pessoas participam da terceira fase de testes. Desses, 94 foram diagnosticados com Covid-19. Os resultados divulgados indicam que 90% dos infectados estavam no grupo que recebeu o placebo, enquanto apenas 10% estava no grupo que recebeu a vacina.
Os resultados finais ainda não foram publicados, pois, ainda há a necessidade de aguardar e observar mais grupos testados com as doses da vacina.
Há discordâncias entre os próprios especialistas, pois, nunca uma vacina foi produzida em uma velocidade tão grande quanto as que estão sendo testadas contra a Covid-19. Os padrões de rigidez apontam para um período de tempo ainda maior, visto que, precisa-se monitorar de perto o contingente de voluntários que tomaram a primeira dose da vacina e o grupo que recebeu o placebo.
Outro ponto que sucinta discussão sobre as possíveis candidatas a vacina, é sobre a quantidade de doses que serão necessárias para garantir uma efetividade imunológica contra as infecções do novo coronavírus, ou seja, em números reais, a efetividade aponta para quantos casos na vida real e não em laboratórios poderão ser evitados. Em primeiro lugar, é preciso que fique esclarecido que nenhuma vacina possui 100% de eficácia. No caso de doenças infecciosas, o que deve ser levado em conta é o que a ciência chama de taxa de reprodução inicial do vírus, que indica a quantidade de pessoas no qual alguém infectado pode transmitir o vírus. Em relação ao novo coronavírus, a taxa de infecção é de 1 para 2, onde um único indivíduo pode transmitir a doença para até duas pessoas, e assim sucessivamente. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS),a Anvisa e a FDA, uma possível vacina contra a Covid-19 deve ter no mínimo 50% de eficácia para obter aprovação. De tal forma, uma vacina com 50% de eficácia deve ter uma cobertura vacinal de 100%. Quanto maior a eficácia, maior e melhores serão os resultados.
Em comparação com outras vacinas, como a de prevenção contra a Poliomielite, bastam três gotinhas para garantir 99% de imunização. No caso de algumas vacinas contra o novo coronavírus que utilizam parte do vírus inativo, serão necessárias mais de uma dose para garantir uma boa taxa de imunidade. E é isso que gera insegurança em parte da comunidade científica, pois, até agora, em quase todos os estudos apenas uma dose da vacina foi disponibilizada.
Uma outra questão levantada pela comunidade médica versa sobre as pessoas que já contraíram e se curaram da Covid-19. Quem já pegou precisa se vacinar? Atualmente, existem casos de reinfecção da doença que demonstram que muitos indivíduos ao contraírem a Covid-19 e se curarem não foram capazes de produzir anticorpos suficientes para combater as infecções do vírus. Uma possível vacina poderia evitar tais situações, entretanto, há também o outro lado da moeda, onde o próprio sistema imunológico pode atacar o próprio corpo. Segundo o The New York Times, esse tipo de reação causada por uma infecção viral não é tão incomum. Os vírus fazem as células morrerem, mas ocasionalmente elas acabam deixando um pedaço do DNA exposto. Enquanto isso, anticorpos funcionam reconhecendo o RNA viral e ligando-se ao vírus para impedir que ele invada as células. Só que, em algumas situações, em vez de o sistema imunológico reconhecer o RNA, ele encontra o DNA do próprio corpo exposto e produz uma resposta contra ele, fazendo com que anticorpos comecem a atacar o organismo. Essa é a causa de doenças como a lúpus, e parece estar acontecendo com alguns pacientes de Covid-19.
Por se tratar de uma doença nova e com desfechos ainda em aberto, as dúvidas da comunidade global pautam por preocupações pontuais que possam atentar contra sua própria saúde. A ciência corre contra o tempo. O que podemos observar em um cenário mundial, é que os casos têm aumentado exponencialmente em algumas regiões, e os motivos variam bastante dependendo de cada localidade e das medidas que estão sendo adotadas para a contenção vírus. No Brasil, em específico, houve um aumento significativo de casos devido às campanhas eleitorais que têm levado milhares de pessoas as ruas, burlando as medidas de distanciamento social e culminando em aglomerações que facilitam a transmissão do vírus.
A mídia tem tido um importante papel na cobertura dos novos casos e óbitos da doença no Brasil, tendo em vista o imenso desafio de lutar contra as informações falsas que põem em cheque a credibilidade das notícias. É preciso garantir a transparência das informações assim como a veracidade dos fatos, levando também em consideração os esforços governamentais para dificultar a apuração de acontecimentos e desdobramentos sobre o panorama do novo coronavírus no país. Portanto, ainda que muitas perguntas necessitem de respostas, o compromisso que os profissionais da ciência e da comunicação devem assumir é o de pautar a verdade e confiar nos avanços que estão sendo galgados frente a batalha contra a pandemia da Covid-19.