Anitta é criticada por aglomerar pessoas em show na Itália, mas realidade europeia é diferente da brasileira
Setores da direita, como o deputado Eduardo Bolsonaro, classificaram o show como “hipocrisia da esquerda”, mas Itália já flexibiliza a quarentena desde maio.
Enquanto no Brasil os eventos que reúnem grande público (shows e eventos esportivos, por exemplo) seguem suspensos, na Itália eles já voltam a acontecer. No país europeu, as restrições para circulação de pessoas e fechamento do comércio vigoraram entre março e maio.
No Vaticano, por exemplo, o Papa retornou as audiências gerais no dia 2 de setembro, com os fiéis reunidos na praça de San Damaso, ao invés da tradicional praça de São Pedro.
No entanto, um evento acontecido na Itália gerou polêmica no Brasil: um show da cantora Anitta, que aconteceu em 10 de agosto, lotou uma casa de shows em Gallipoli, e foi motivo de críticas feitas por pessoas e portais da direita brasileira.
É o caso desta postagem no Instagram, recebida pelo Eu Fiscalizo, que mostra uma imagem da Anitta junto da legenda “A esquerda mente que dá exemplo, mas não consegue, sua hipocrisia sempre vence”, em alusão a um tweet do deputado Eduardo Bolsonaro.
O post do Instagram está relacionado a uma publicação do site Jornal da Cidade Online, que comenta o show da cantora na Itália como um ato de hipocrisia da esquerda: “Anitta, um dos ícones da esquerda e do feminismo […] é uma das principais influenciadoras nas redes sociais, participou de show lotado na Itália no último sábado, 08.”
Apesar da aglomeração em shows ser um dos cenários mais arriscados para disseminação e infecção pelo novo coronavírus, os procedimentos rigorosos na Itália contribuiram para a redução das mortes e controle da ocorrência de novos casos.
Especialistas afirmam que a combinação de ampla testagem, sistemas de rastreamento, regras estritamente aplicadas e o fato de tudo ter sido fechado cedo e ter aberto mais tarde do que nos países vizinhos podem explicar o sucesso da Itália no controle da Covid-19.
Os números dos gráficos abaixo ilustram esse contexto: enquanto a Itália apresenta cerca de 294 mil casos confirmados e 35 mil mortes, o Brasil já conta mais de 4,4 milhões de infectados e quase 135 mil mortes.
Enquanto o país europeu tomou medidas fortes e com antecedência durante a pandemia, o Brasil segue relaxando as regras de abertura do comércio e de locais públicos.
As críticas apresentadas na matéria são infundadas, pois as estatísticas da Covid-19 no Brasil podem contribuir para evidenciar o descaso do governo e da população em lidar com a pandemia, ao mesmo tempo que mostram que o controle estrito na Itália proporcionou uma redução das mortes e novos casos. Podemos conferir isso nos gráficos a seguir:
Podemos observar que a curva cresce constantemente no Brasil enquanto, na Itália, ela se manteve achatada entre maio e agosto, tendo crescido sensivelmente a partir do mês de setembro. Devido a essa retomada nos casos, há o receio de uma segunda onda de infecções na Europa.