Anvisa publicou uma retratação sobre o uso da ivermectina para o tratamento contra o covid-19?
Esta informação é verdadeira e a Agência Brasileira de Vigilância Sanitária diz que as únicas indicações aprovadas para a ivermectina são aquelas contidas na bula do medicamento.
Em maio deste ano, nós do Nujoc Checagem, publicamos uma ?matéria? a respeito do uso da ivermectina em estudos previamente publicados em preprints.
O estudo realizado apenas em fase inicial ,in vitro, mostrava que o medicamento supostamente era capaz de erradicar em até 48 horas a presença do novo coronavírus no organismo. ?Este estudo?, inicialmente
publicado 14 de abril, trouxe a hipótese de que o vermífugo possuía eficácia contra a Covid-19. O que desencadeou em diversos países a aprovação de protocolos de administração do remédio como forma de tratamento paliativo contra o Sar-Cov-2.
Entretanto, essa informação teve reformulação, e é de nossa responsabilidade trazer atualizações a respeito de medicamentos utilizados no atual momento de pandemia. Há pelo menos três dias, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma nota de retratação sobre o uso da medicação como forma de terapia alternativa à Covid-19.
A agência pontuou que o uso adequado do medicamento,bem como suas indicações para tratamento, limitam-se apenas ao que está descrito na bula.
Informou também que não há estudos em fase avançada que comprovem a eficácia da Ivermectina contra as infecções ocasionadas pelo vírus,porém, ressaltou também que não há estudos que comprovem o contrário.
Artigos publicados em maio deste ano mostraram que ,in vitro, a ivermectina era capaz de erradicar tanto a presença quanto a entrada e replicação do vírus em células saudáveis, mas, esses testes ainda precisavam ser reproduzidos in vivo e não somente em células infectadas em laboratório.
Além do mais, estes resultados utilizavam informações do mesmo banco de dados da empresa Surgisphere, a mesma que gerou enorme imprecisão e desconforto na comunidade científica a respeito das conclusões sobre a hidroxicloroquina, e que teve suspenso seus resultados publicados na revista The Lancet em decorrência de suas inferências duvidosas.
Em ?entrevista?, a pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), médica Margareth Dalcomo, diz achar lamentável estas conclusões precipitadas, pois indicam falta de conhecimento prévio,visto que os ensaios a respeito da droga estavam apenas em fase inicial. E quanto ao uso da droga afirma que:
“A ivermectina é um vermífugo, usado há muitos anos para tratamento de vermes e piolhos. Existe na formulação humana e veterinária, é muito usada na veterinária para tratar vermes de gado. Foi um dos fármacos, entre muitos outros, que são sempre estudados em laboratório para verificar se podem servir para alguma coisa. Estudos in vitro (em laboratório) não têm nada a ver com in vivo (em seres vivos). A distância que existe entre um estudo feito no laboratório e no ser humano é muito grande.As doses de ivermectina que foram testadas em laboratório, que não mostraram ser viricida, isto é, não matam o vírus, mas poderiam reduzir a replicação viral, são dezenas, centenas de vezes mais altas do que aquelas que são tomadas comprando o remédio na farmácia. Portanto, é uma bobagem, não faz o menor sentido.”
A pesquisadora acredita ser demagógico que este medicamento seja utilizado de forma profilática para tratamento da covid-19,e acha lamentável que tais medidas de administração do remédio estejam ocorrendo.
“Acho muito lamentável que isso esteja ocorrendo, que as pessoas se iludam e que nós não utilizemos o melhor da ciência para dizer a verdade e esclarecer as pessoas. É uma doença para a qual, até este momento, não há nenhum medicamento que tenha demonstrado eficácia, isto é, resultado em laboratório, e nem efetividade, que é resultado no mundo real, nas pessoas”.
Ainda sobre a nota, a Anvisa informa que:
“Diante das notícias veiculadas sobre medicamentos que contêm ivermectina para o tratamento da Covid-19, a Anvisa esclarece:Inicialmente, é preciso deixar claro que não existem estudos conclusivos que comprovem o uso desse medicamento para o tratamento da Covid-19, bem como não existem estudos que refutem esse uso. Até o momento, não existem medicamentos aprovados para prevenção ou tratamento da Covid-19 no Brasil.
Estes estudos estavam sendo realizados pela Universidade de Monash na Austrália, e mesmo durante a execução dos testes, a Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA), alertava que, por mais que os resultados em laboratórios tenham sido positivos, outras fases de testagem deveriam ser executadas para que se pudesse fazer uso da medicação em escala global, ressaltando a importância da população não se
automedicar sem uma prescrição médica,pois o medicamento ainda não estava aprovado. Veja esta publicação ?aqui?.
Diante de toda situação envolvendo a Ivermectina,e com a grande torrente de informações que circularam na internet, os resultados dos ensaios foram baixado mais de 15 mil vezes, segundo o ?The Guardian?, e governos como o do Peru, Bolívia e Brasil anunciaram distribuição do fármaco para a população.
A Anvisa é categórica ao afirmar que “ as indicações aprovadas para a ivermectina são aquelas constantes da bula do medicamento.Cabe ressaltar que o uso do medicamento para indicações não previstas na bula é de escolha e responsabilidade do médico prescritor”.
Para que se possa lograr resultados clínicos consideráveis no organismo, a dosagem administrada deveria ser bastante alta, o que eventualmente pode ocasionar overdose. Estima-se uma dose 17 vezes maior do que a dose máxima permitida para humanos.
Portanto, não temos até o momento resultados que assegurem a segurança do uso ivermectina,seguimos ainda em busca de um medicamento ou vacina que possa atuar contra todos os efeitos infecciosos causados pelo novo coronavirus. Veja a nota oficial da Anvisa na íntegra ?aqui?.