Apresentador fala em “briga política” por vacina e ignora estudos científicos
Desde que surgiram os primeiros estudos de possíveis vacinas eficazes contra a covid-19 (coronavírus), tem se acentuado um fenômeno que já era conhecido no Brasil: o movimento anti-vacina.
Tal discurso vem sendo reforçado por alguns jornalistas e meios de comunicação, que questionam ações de planejamento de imunização executadas por alguns governos. Um dos exemplos recentes foi a entrevista ao vivo concedida pelo governador de São Paulo, João Dória, ao apresentador José Luiz Datena, no programa Brasil Urgente, na rede Bandeirantes.
O Nujoc Checagem teve acesso, por meio do aplicativo Eu Fiscalizo, ao vídeo da entrevista, que foi ao ar no dia 22 de outubro. Nela, o jornalista da Band põe em dúvida todos os estudos que estão sendo feitos, sobretudo sobre a Coronavac, a primeira que deve ser adquirida pelo Brasil.
No vídeo, é possível ver que o governador e o apresentador não possuem o mesmo ponto de vista e isso fica claro quando os dois se desentendem, principalmente quando Datena argumenta que haveria uma “briga política” em torno de uma vacina que, segundo ele, sequer possuía eficácia comprovada cientificamente.
“Porque tanta briga em cima de uma vacina que não está aprovada? […] Essa vacina não é unanimidade mundial, então a população acha que isso é uma briga política do senhor com o presidente Bolsonaro. Tomara que não seja mesmo e que o povo fique em primeiro lugar”, disse Datena.
O que o apresentador não considerou nem colocou para a população é que os estudos clínicos dessa vacina em específico estão tendo seguimento de maneira célere.
Após a entrevista na Band, o Governo de São Paulo anunciou, no dia 17 de novembro, que os estudos clínicos da Coronavac foram publicados pela revista científica Lancet Infectious Diseases, e a publicação informa que a vacina é segura e tem capacidade de produzir resposta imune no organismo 28 dias depois de sua aplicação em 97% dos casos.
Já na última segunda-feira, 23 de novembro, o Instituto Butantan confirmou que o estudo clínico chegou em sua fase final e que os resultados sairão na primeira semana de dezembro.
Os resultados vão ser enviados pelo Comitê Internacional independente na primeira semana de dezembro para que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) analise o relatório para verificação da vacina.
Com isso, a previsão é de que 46 milhões de doses estejam disponíveis no Brasil até janeiro de 2021.
Diante disso, verifica-se que o jornalista já mencionado apresentou questionamentos sobre a vacina sem se preocupar em saber sobre os estudos que estavam sendo realizados com celeridade. O apresentador também insinuou que a vacinação teria fins meramente políticos, agindo assim de modo desrespeitoso para com todos aqueles envolvidos nessa corrida rumo à imunização da população.