Bolsonaro sempre apoiou as vacinas contra a Covid-19?

 Bolsonaro sempre apoiou as vacinas contra a Covid-19?

Para o empresário Gustavo Gayer, a resposta é positiva. Em vídeo, ele sustenta que o Brasil se destaca mundialmente no combate à pandemia

Está circulando pelas redes um vídeo em que o empresário Gustavo Gayer faz leitura dos números da pandemia para afirmar que o presidente Jair Bolsonaro sempre foi a favor da vacinação.  Candidato derrotado à prefeitura de Goiânia no último pleito, o empresário tem divulgado vídeos em que defende as políticas do governo federal e o presidente da República. O vídeo foi postado em 28 de março, soma mais de 40 mil visualizações no Youtube e tem como título “A verdade sobre a vacinação no Brasil”. A mensagem foi enviada para verificação pelo aplicativo Eu Fiscalizo, da Fiocruz. Assista ao vídeo na íntegra aqui.

Resumidamente, o empresário afirma que o governo federal agiu para combater a pandemia desde o início da crise sanitária e que essa atitude vem sendo distorcida pela imprensa nacional. Em suma, a imprensa seria a culpada pela imagem negativa do chefe do executivo quando o assunto é a vacinação. As pessoas que pensam que o governo “vacilou” quando o assunto é a vacina são vítimas do “mais eficiente sistema de desinformação em massa que o mundo já viu, que é o jornalismo brasileiro”, diz ele.

É fato público e notório que Jair Bolsonaro nunca foi a favor da vacina. Sua declaração mais conhecida sobre a gravidade da Covid-19 foi classificar a doença do Sars-Cov-2 como “gripezinha”, em pronunciamento em rede nacional na data de 24 de março de 2020. De lá para cá, foram diversas provas públicas de desinteresse em relação à gravidade da pandemia, conforme você pode conferir nesta compilação aqui. A imprensa nada mais fez durante esse período do que relatar os fatos, em que pesem eventuais simpatias de veículos e jornalistas como fator de distorção das narrativas.

Gustavo Gayer: em defesa das ações do governo Bolsonaro contra a pandemia. Imagem: Reprodução/Youtube

Gayer também mostra dados sobre o número de vacinados no país, para supostamente provar que o Brasil está no grupo dos países que mais vacinaram até o momento. Considerando os 10 países mais populosos, “em porcentagem da população vacinada, nós perdemos apenas para os Estados Unidos”, afirma o empresário.

A informação distorce a realidade dos fatos. Embora seja verdadeira isoladamente, conforme os dados do site Opera Mundi, ela desconsidera todos os dados que colocam o país em situação calamitosa diante do aumento do número de casos e de mortos. Os números que de fato interessam para o momento atual mostram o colapso no sistema de saúde, com falta de leitos na rede hospitalar e recordes diários de novas infecções e de óbitos.

“O Brasil está dando um show, de passar vergonha nos outros países”, enfatiza ao concluir sua fala. A frase é como o ato falho freudiano, que diz de forma involuntária o que a mensagem consciente não quer transmitir. O show que o Brasil tem dado nos últimos meses é de fato de passar vergonha, como apontam os analistas: número recorde de mortos, falta de insumos básicos na rede hospitalar, mortes por asfixia, falta de coordenação entre os entes e de plano factível de combate à pandemia, que já fez mais de 300 mil mortos.

Reescrevendo a história – Desde que a pandemia fugiu do controle no Brasil, tem havido movimento por parte de lideranças do mundo da política, do judiciário e da economia, para que o governo mude o tom e assuma a situação de forma mais efetiva. Ou isso ou a base aliada no Congresso pode debandar. Nas últimas semanas, a mudança de tom do presidente começou a aparecer também nas mensagens falsas ou distorcidas que circulam nas redes e que chegam para verificação pela equipe do NUJOC.

A mensagem do empresário Gustavo Gayer sobre o suposto apoio do atual governo à vacinação é mais uma amostra da tentativa de reescrever a história conforme a mudança dos ventos políticos. Iniciativas semelhantes de reescrita da história para atender a interesses ideológicos são típicas de períodos de exceção: o governo soviético apagava imagens de desafetos do regime, assim como o atual governo brasileiro tenta apagar a imagem da ditadura militar e vendê-la como revolução democrática. Só que hoje temos a internet e a história está toda ao alcance de um clique. Mas é preciso querer conhecê-la como foi e não como gostaríamos que tivesse sido.

O NUJOC Checagem já fez várias verificações de mensagens sobre a suposta conversão de Bolsonaro a defensor das vacinas, como você pode conferir aqui, aqui e aqui.

Equipe NUJOC

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