Brasil atinge o primeiro lugar em recuperados por COVID-19, mas o posto não tem relação com uso da cloroquina
Recebemos, por meio de parceria com o aplicativo Eu Fiscalizo da Fiocruz (disponível para Android e iOS), uma mensagem que circula nas redes sociais sobre publicação realizada pelo empresário Luciano Hang. O post traz informações de que o Brasil se tornou o primeiro lugar em números de recuperados, superando a Índia, Estados Unidos e Rússia, respectivamente. Após a elucidação, o empresário faz o seguinte questionamento: “Será que não foi a Cloroquina que ajudou a ter este número de recuperados? O que você acha?”
Com informações do Ministério da Saúde, a informação veiculada por Luciano Hang procede. Em publicação do dia 03 de setembro, o ministério aponta que o resultado reflete as orientações de de procurar atendimento logo nos primeiros sintomas da doença – reforçando a importância do tratamento precoce. Atualmente, o Brasil é o primeiro país em número de recuperados em todo o mundo, seguido da Índia, dos Estados Unidos e da Rússia.
A pasta realiza ações para ampliar o diagnóstico da COVID-19, com protocolos para exames clínicos, radiológicos, além da ampliação da capacidade laboratorial. Com isso, mais pessoas são diagnosticadas rapidamente e atendidas, o que favorece a adoção de medidas de isolamento de casos e o monitoramento de contatos, possibilitando a redução de novas infecções, casos graves e óbitos.
Segundo o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello: “O atendimento médico precoce está salvando vidas, aumentando as chances de recuperação e diminuindo a ocorrência de casos graves e, consequentemente, o número de internações e de óbitos pela doença”. Pazuello destaca também o trabalho dos profissionais de saúde que atuam na linha de frente e a importância do grande alcance do SUS. “O Brasil atingiu mais de 80% de pessoas recuperadas graças à capilaridade do Sistema Único de Saúde e do trabalho de todos os profissionais que salvam vidas diariamente”, ressaltou à Agência Saúde.
Apesar de celebrar a posição do Brasil em relação ao número de recuperados, há outros dados alarmantes que merecem atenção. Atualmente, o país figura em terceiro lugar em números de infectados por COVID-19, são 4.150.311, antecedido por Estados Unidos, 6.411.392, e Índia, 4.280.422. Além de estar em segundo lugar no mundo no índice de óbitos, 127.034 pessoas perderam a vida por causa do novo coronavírus, sendo superado apenas por Estados Unidos, 192.451.
De acordo com o Estado de Minas, há outra questão que também é preocupante. No domingo, 06 de setembro, o Brasil ultrapassou a Itália em número de mortes por milhão de habitantes e, agora, é o oitavo país do mundo com maior mortalidade por COVID-19 – enquanto tem 593 mortes por milhão de habitantes, o país europeu tem 588.
Na primeira semana de setembro, o Brasil já havia ultrapassado o índice de mortes por milhão de habitantes dos Estados Unidos (583) e da Suécia (577), “país que não fez nenhum controle e que voltaram atrás pedindo desculpas”, como afirmou ao Estado de Minas o pesquisador Domingos Alves em tom de crítica à “insistência ao comportamento negacionista dos governantes brasileiros”.
Domingos é um dos responsáveis pelo Portal COVID-19 Brasil, iniciativa desenvolvida por pesquisadores das universidades de São Paulo.
Em depoimento ao G1 também sobre a posição do Brasil no ranking de mortes por milhão, o epidemiologista e reitor da Universidade Federal de Pelotas, Pedro Hallal, faz a seguinte elucidação. “Ainda não estamos liderando o ranking de mortes por milhão neste momento, neste estágio em que estamos da pandemia, mas certamente vamos liderar se os números não baixarem. É só comparar os registros do Brasil semana a semana com países que lideram o ranking, e veremos que temos muito mais casos e mortes”.
Sobre os atuais números que o Brasil se localiza na pandemia, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta também emitiu opinião apontando as interferências do presidente Jair Bolsonaro na pasta da Saúde “Houve uma série de fatores, mas o fator presidente foi preponderante. Ele deu argumento para as pessoas não ficarem em casa. Ele deu esse exemplo e serviu de passaporte para as pessoas aderirem politicamente a essa ideia”, afirmou ao Valor Econômico.
Para Mandetta, o alto número de pessoas na economia informal e a pressão causada pelas eleições municipais também pesaram para uma adesão menor ao isolamento. “[Prefeitos] veem a popularidade diminuir, e como tem um contraponto político feito pelo presidente, ficam pressionados”, finalizou.
A cloroquina é eficaz no tratamento a COVID-19? – Com informações do Comprova, um estudo desenvolvido sobre a eficácia da cloroquina foi divulgado pelo New England Journal of Medicine no dia 03 de junho. Realizado por pesquisadores da Universidade de Minnesota, nos EUA, com 821 norte-americanos e canadenses risco alto a moderado de contrair COVID-19. O teste foi planejado de acordo com padrões científicos internacionais. Parte dos voluntários recebeu uma dose diária de hidroxicloroquina — forma menos tóxica da cloroquina — ao longo de cinco dias. Outro grupo recebeu placebo. A conclusão foi de que a hidroxicloroquina não foi eficiente para prevenir a infecção pelo novo coronavírus. “Foi decepcionante, mas não surpreendente”, frisou em entrevista o pesquisador David Boulware.
A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), o Conselho Federal de Medicina (CFM), a Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), a Sociedade Brasileira de Virologia (SBV), a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e a Associação Médica Brasileira (AMB) são algumas das entidades científicas e profissionais que publicaram orientações e recomendações reforçando que ainda não há evidências que comprovem a eficácia do remédio, e que sua eventual aplicação seja feita conforme a situação ou protocolo determinado. Em outras ocasiões, o NUJOC Checagem fez publicação tratando que a cloroquina e hidroxicloroquina não é recomendado pelas entidades médicas, assim como pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no tratamento a COVID-19. Os estudos realizados até o momento não comprovaram a eficácia dos medicamentos, assim como a OMS também cancelou os estudos realizados com as substâncias.