Brasil é o segundo país no mundo com maior taxa de recuperação de Covid-19?
Não é possível confirmar essa informação, pois a plataforma utilizada para medir essas estatísticas não leva em conta o número de testagens feitas por cada nação e também desconsidera os altos índices de subnotificação inerentes à cada país.
Em abril deste ano, o site do ?Estadão? publicou uma reportagem que desmentia a informação de que o Brasil estava em primeiro lugar no ranking mundial de país com a maior taxa de recuperados de Covid-19 em relação a outras nações. A agência apontava que a plataforma de dados utilizadas para medir estes índices não possuíam consistência suficiente para poder afirmar tal informação. Isso porque a plataforma citada como fonte das informações, compila dados das mais diversas fontes em tempo real, elabora e fornece estatísticas globais sobre a Covid-19, ou seja, apresenta apenas um relatório de dados brutos, portanto,a listagem omite países com mais casos de recuperação e faz comparações inadequadas.
Fazer uma comparação exata da taxa de recuperados de cada país seria um trabalho árduo e evaria mais tempo do que dados brutos gerados por computador e compilados em estatísticas, pois capacidade de testagem de cada governo é limitada, logo tanto a cifra de infectados quanto a de recuperados poderia estar defasada devido ao grande número de subnotificação e de óbitos, que em muitos casos demora mais de 24 horas para ter um laudo médico assertivo para Covid-19 . Só no Brasil, as entidades sanitárias de monitoramento apontam que o número real de casos de coronavírus pode ser até 12 vezes maior do que o divulgado oficialmente.
Em entrevista ao ?P?ortal G1?, Maurício Féo, cientista de dados e engenheiro, afirma que essa não é a conta mais adequada para se calcular a taxa de recuperados. Ele recomenda que se pegue o número de recuperados e se divida pelo total de casos com desfecho já concluído (ou seja, é preciso levar em conta também o número de óbitos).
No mês de julho, o ?Brasil ainda aparece como um dos países que menos realizava testes em massa para detectar a presença do novo coronavirus no contingente populacional. Fora isso, ainda há o dilema que concerne a pouca eficácia dos testes rápidos utilizados aqui e que contribui negativamente para o mapeamento da presença do vírus na sociedade brasileira,tendo em vista os resultados falso positivo e falso negativo advindos desse método de testagem.
Maurício Féo ainda afirma que; “Níveis de testagem da população diferentes levam a percentuais de subnotificação diferentes. Então quem fizer um estudo desse precisa fazer também um estudo da subnotificação para cada região considerada. Sem isso, realmente não se pode comparar os dados de diferentes países”.
O Chile, por exemplo,tem dez vezes menos mortes e testou quatro vezes mais que o Brasil, e a Eslováquia, que notificou 28 mortes até agora, testou quase três vezes mais que a nação brasileira, ?segundo uma comparação internacional feita pela BBC News Brasil a partir de dados oficiais compilados pela Universidade de Oxford, no Reino Unido.?
Neste sentido, o uso de dados da plataforma Worldmeters deixa dúvidas sobre a veracidade e consistência dos resultados que apontam o Brasil como o segundo país com maior número de
recuperados.
O site de checagem ?Aos Fatos? também realizou verificação semelhante sobre esse percentual, e segundo o entrevistado, pesquisador de Informática Aplicada da UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco) que atualmente monitora casos de Covid-19 em tempo real, Jones Albuquerque afirma que hoje não é possível elencar os países que têm maior número de recuperados da doença porque a testagem em massa não foi adotada por todos: “a taxa de recuperação só pode ser afirmada quando toda a população é testada”.
Alberto Chebabo, infectologista e diretor da Divisão Médica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ, afirma que: o fato de o Brasil só testar casos graves inviabiliza esse tipo de conta. “Não tem como fazer essa comparação. A gente não testa a maior parte dos pacientes, só os internados. Hoje, a gente só consegue fazer teste nos que apresentam Síndrome Respiratória Aguda Grave. Quem foi ao hospital e liberado não foi testado. Fora os que nem chegaram a ser atendidos.”
Maurício Féo ainda explica que “Níveis de testagem da população diferentes levam a percentuais de subnotificação diferentes. Então quem fizer um estudo desse precisa fazer também um estudo da subnotificação para cada região considerada. Sem isso, realmente não se pode comparar os dados de diferentes países.Cada país tem suas equipes fazendo estudos para se chegar ao percentual de subnotificação. No Brasil, há vários, de universidades, que sugerem que o número de casos é 12 ou 15 vezes maior do que o divulgado. Outro exemplo: ?em Nova York, o número é dez vezes maior? que os já confirmados. É preciso levar isso em conta na comparação”.
Em entrevista à CNN?, em abril, o porta-voz da Universidade Johns Hopkins, Douglas
Donovan, comentou a falta uniformidade nos dados americanos sobre recuperações, que
não são considerados prioritários pelo CDC. Segundo especialistas, esses números podem
ser imprecisos.
“Não existe um método uniforme para relatar recuperações nos Estados Unidos. Se isso mudar, o painel refletirá esses números de acordo”, disse Donovan. Ele reconheceu que contagens de recuperados são feitas com “estimativas em nível de país com base em relatórios da mídia local e podem ser substancialmente inferiores ao número real”.
Atualmente, segundo o ?portal oficial do Governo?, o número de recuperados contabiliza 1.634.247. Os óbitos confirmados somam 87.004 e o total de casos confirmados é de 2.419.091