CIÊNCIA CONTAMINADA
Grupo de pesquisadores publica relatório sobre desinformação acerca da COVID-19 no Youtube
Um estudo encampado por pesquisadores do Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo (LAUT), do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD) e do Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário (Cepedisa) e lançado recentemente, apresenta um diagnóstico preciso sobre a proliferação de narrativas desinformacionais dentro do Youtube, visto que o trânsito de vídeos que passam por esta plataforma se alastra por outras, formando uma teia reticular de desinformação potente.
Os pesquisadores Caio Machado, Daniel Dourado, João Guilherme dos Santos e Nina Santos chegaram às seguintes conclusões, a saber: – Em primeiro lugar foi detectado que as campanhas de desinformação possuem caráter heterogêneo e acontecem em diversas frentes, inclusive, em redes de audiovisual. As temáticas são várias e as teorias são diversas.
Por outro lado, enfatizam que existe forte rejeição a conteúdos científicos e as abordagens que enfocam a ciência muitas vezes são mais desinformativas do que informativas. Afirmam os pesquisadores: “é muito comum, nessas redes, o uso enviesado de dados científicos para fomentar o entendimento do grupo”, quer sejam concernentes às teorias da conspiração ou outros temas.
Dentre as principais teorias da conspiração localizadas, os pesquisadores apontam duas como as mais recorrentes, a saber: narrativas de cunho geopolítico que culpabilizam a China pelo vírus e o vinculam a uma arma biológica que teria finalidade econômica, e narrativas de cunho religioso que procuram localizar a pandemia dentro de um contexto bíblico. Em geral, tais narrativas trazem orientações contrárias às dos cientistas e da Organização Mundial de Saúde – OMS para prevenção e combate ao novo coronavírus.
Capa do estudo: entendendo a desinformação sobre o novo coronavírus
Outra observação pertinente realizada pelos pesquisadores se refere aos antagonismos localizados nas narrativas desinformacionais. Ao tempo em que enfocam o vírus como arma biológica ou como praga bíblica, por outro lado, tentam minimizar a gravidade da COVID-19 com argumentos que procuram situar a atual crise sanitária no mesmo patamar de doenças do passado, como tuberculose, ou, mesmo, com os problemas existentes e que concernem à desigualdade social e fome.
Para os pesquisadores, a desinformação também está atrelada a interesses econômicos de diversas naturezas inclusive ao campo da medicina: “A pesquisa encontrou evidências de tentativa de monetização de conteúdo sensacionalista, além da oferta de produtos que prometem alguma forma de proteção contra a doença”.
Por outro lado, a atuação de autoridades políticas, religiosas ou de outros campos não vinculados diretamente à ciência envolvida nas pesquisas sobre a COVID-19 tem atrapalhado o processo informativo sobre o atual momento. A pesquisa enfoca que muitas vezes essas autoridades se utilizam de seu poder simbólico no seio da sociedade para questionar a OMS, o jornalismo, a própria ciência, etc.
Para os pesquisadores, o “dano maior da desinformação no campo da saúde advém do fato de que as únicas medidas atualmente eficazes no enfrentamento da pandemia de Covid-19 são as intervenções de saúde pública não farmacológicas, cuja eficácia depende da observância de certos padrões de comportamento pela população. O discurso da desinformação, ao minimizar a gravidade da doença ou cogitar medidas contrárias a esses padrões, mas ineficazes para prevenir a doença ou minimizar seus danos, prejudica justamente a capacidade de se obter esse comportamento social eficaz”.
A pesquisa também enfatiza a importância da informação de qualidade no combate ao mercado da desinformação.
Para acessar e baixar o estudo, clique aqui.