Cientistas brasileiros, liderados por Miguel Nicolelis, descobrem possível interação entre os vírus da Covid-19 e da dengue.

 Cientistas brasileiros, liderados por Miguel Nicolelis, descobrem possível interação entre os vírus da Covid-19 e da dengue.

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Se comprovada essa hipótese, “abre-se uma nova porta” de tratamento, até que se consiga a vacina contra a Covid-19.

Ao elaborarem estudos epidemiológicos sobre a disseminação geográfica do coronavírus, cientistas brasileiros fizeram uma importante descoberta sobre a possibilidade de uma correlação negativa, ou inversa, entre o SARS-CoV-2 e o vírus da dengue.

Eles constataram que populações que foram altamente afetadas pela dengue entre 2019 e 2020 tiveram menos casos de infecções e óbitos de Covid-19, o que pode indicar uma possível interação imunológica entre os vírus, “totalmente inesperada, pois os dois vírus são de duas famílias diferentes”, explicou o neurocientista Miguel Nicolelis, professor catedrática do Universidade Duke, na Carolina do Norte, nos EUA e coordenador do Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Nordeste.

Nicolelis chefiou a equipe que conta com mais três cientistas: o estatístico Rafael Raimundo, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o médico Pedro Peixoto, da Universidade de São Paulo (USP) e a médica Cecília Siliansky de Andreazzi, da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ).

“Essa descoberta surpreendente levanta a intrigante possibilidade de uma reação cruzada entre o vírus da dengue e o SARS-CoV-2. Se comprovada correta em futuros estudos, esta hipótese pode significar que a infecção pela dengue ou uma eventual imunização com uma vacina eficaz e segura para dengue poderia produzir algum tipo de proteção imunológica para SARS-CoV-2, antes de uma vacina para SARS-CoV-2 se tornar disponível”, diz o estudo.

A distribuição geográfica de casos de Covid-19 e sua incidência até 30 de junho de 2020 e de casos de dengue e sua incidência até 31 de maio de 2020 foram a base do estudo. Ao comparar os mapas das duas doenças, os cientistas perceberam que os espaços vazios do mapa de uma doença correspondia à incidência da outra doença no outro mapa, indicando uma interação imunológica entre os dois vírus.

Os dados deixaram claro que regiões com pouco coronavírus têm muita dengue. Estados que tiveram alta incidência de dengue, no ano passado e começo de 2020, como Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, demoraram mais para alcançar um patamar elevado de transmissão comunitária de Covid-19 que Amapá, Maranhão e Pará, com poucos casos de dengue no mesmo período.

Dados do Ministério da Saúde analisados pelos cientistas mostram que a dengue no Brasil começou 2020 com muito mais casos que em 2019. No entanto, teve queda brusca a partir da semana epidemiológica de número 11 (encerrada em 13 de março), quando houve aceleração dos casos de Covid-19.

Além disso, o surto de dengue se encerrou semanas antes do que no ano anterior, enquanto a Covid-19 avançava. Os cientistas confirmaram os mesmos resultados em dados de mais 15 países da América Latina, África e Ásia. Já, os resultados da mesma análise da incidência da Chikungunya, não foram parecidos.

“Sabíamos, por outros trabalhos, que há pessoas que tiveram dengue e testam falso positivo para Covid-19”, diz Nicolelis. O estudo, entretanto, mostrou uma significativa correlação negativa entre incidência, mortalidade e taxa de crescimento da Covid-19 e o percentual da população com níveis de anticorpos IgM para dengue no Brasil. “Ou seja, a hipótese é que essas pessoas possam produzir um anticorpo que atua sobre as duas doenças”, afirma o neurocientista.

Nicolelis ressalta, porém, que se trata de um estudo preliminar, que precisa ser aprofundado e que ainda não é possível confirmar se quem é imunizado para a dengue tem mais proteção contra o coronavírus. “Mas, os números mostraram resultados significativos, suficiente para aparecer nesses gráficos”, conclui o cientista.

Com informações do Projeto Mandacaru.

Confira a pesquisa original aqui.

Equipe NUJOC

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