Cientistas fizeram abaixo-assinado contra as medidas de isolamento?
Documento assinado por mais de 6.400 cientistas e médicos defende a estratégia da “imunidade de rebanho”
Um documento assinado por mais de 6.400 cientistas pede o fim das medidas de isolamento adotadas como estratégia contra o novo coronavírus. A notícia foi divulgada no Instagram da deputada federal Bia Kicis, do Partido Social Liberal – DF, onde há um trecho de programa de debate da Rádio Jovem Pan em que se comenta o fato. Confira a postagem do debate aqui. A postagem do Instagram da deputada chegou à equipe do NUJOC para verificação por meio do aplicativo Eu Fiscalizo, da Fundação Oswaldo Cruz.
A informação sobre o manifesto assinado pelos cientistas é verdadeira.
O site do jornal Folha de S.Paulo deu a notícia no dia 07 de outubro, como você pode conferir nesta matéria aqui. De fato, um grupo de 6,4 mil cientistas assina o documento que defende o fim dos lockdowns e apoia a estratégia conhecida como “imunidade de rebanho”. Essa consiste na exposição deliberada ao vírus para que os anticorpos criados naturalmente possam servir de barreira à propagação da epidemia.
No documento os cientistas advogam a adoção do que chamam “proteção forçada”, que consiste na exposição dos mais jovens e no resguardo dos mais velhos. A versão em português do documento assinado pelos cientistas você pode conferir aqui.
Durante a pandemia, diversos países adotaram a estratégia do isolamento social, que obteve resultados promissores em alguns casos e medíocres em outros. Os cientistas explicam que há outros fatores que interferem no sucesso do isolamento, como é o caso da testagem em massa e da efetividade das medidas de lockdown em países mais pobres.
No Brasil, por exemplo, onde a pandemia já fez mais de 150 mil vítimas, o isolamento foi prejudicado por fatores como a desinformação, a falta de testes e a pobreza.
Debate – No trecho que nos chegou para checagem, o debate gira em torno da estratégia adotada até o momento pela maioria dos países, que estaria equivocada e teria trazido mais prejuízos do que ganhos na luta contra a Covid-19. A carta aberta dos cientistas seria a “prova” de que tanto a Organização Mundial da Saúde como os governos que apostaram no isolamento social estavam enganados.
O isolamento é uma medida efetiva de proteção contra o avanço da pandemia e vários estudos demonstram sua eficácia, como você pode conferir nesta matéria da BBC News Brasil. Casos isolados de sucesso que não incluíram medidas de isolamento apresentam outros fatores a considerar, como o rigoroso controle da cadeia de contágio e o isolamento natural oferecido pela localização geográfica. O fato de um grupo de cientistas se colocar contra a orientação majoritária não significa por si só que a estratégia do isolamento foi fracassada.
Um dos debatedores afirma que os cientistas não admitem o erro por medo de se desmoralizarem frente à opinião pública. Pelo contrário, a ciência legítima tem de ser também humilde para reconhecer quando erra. No caso do isolamento, no entanto, nada indica que se trata de erro, dadas as projeções feitas pelos cientistas até o momento sobre quantas vidas foram salvas pela adoção das medidas de isolamento social.
O NUJOC já fez outras checagens de mensagens envolvendo o isolamento social. Nesta aqui, o foco é a situação na Argentina. Nesta outra, verificamos informação sobre a eficácia do isolamento vertical.