Cloroquina funciona?
Diversas fontes científicas internacionais ainda não encontraram evidências que comprovam sua eficácia
Durante o atual período de pandemia no qual nos encontramos, a cloroquina, sem sombra de dúvidas teve tanto destaque no campo científico e social, quanto o próprio vírus do Sars-Cov-2. Na ausência de uma vacina, a busca por um medicamento que fosse capaz de mitigar os danos à saúde ocasionados pelo novo coronavírus, levou o mundo a uma corrida desenfreada e sem comprovações ao uso de diversos remédios, no anseio de conter as vidas que vinham sendo perdidas no combate contra o inimigo desconhecido.
Muitas dúvidas ainda perduram desde o início da pandemia até agora, e muitas questões ainda desafiam à ciência a prestar esclarecimentos mais precisos e assertivos a respeito dessas lacunas. Por exemplo, a cloroquina, após tantos estudos, apresentou algum resultado diferente de eficácia contra a Covid-19?
O que dizem as fontes Oficiais?
No dia 11 de janeiro de 2021, o Ministério da Saúde lançou, em Manaus, o aplicativo TrateCOV. Uma plataforma do governo na qual profissionais da saúde se utilizam de um protocolo clínico para dar diagnósticos da Covid-19, baseado num sistema de pontos que segue à risca critérios médicos. O aplicativo, ainda sugere a prescrição de alguns remédios, onde dentre eles, a cloroquina e hidroxicloroquina, e outras drogas aparecem na lista.
Apesar de ser um tratamento opcional segundo as políticas de uso do aplicativo, ter a representação do Governo Federal endossando o uso de medicamentos no qual outras instituições sanitárias de cunho internacional não recomendam, põe em evidência o desencontro de informações no qual resulta em equívocos que levam consigo a vida de mais de 200 mil brasileiras e brasileiros em decorrência do novo coronavírus.
A Organização Mundial da Saúde – OMS, não recomenda o uso de muitas dessas medicações, em específico da Cloroquina e Hidroxicoloquina pois, até o momento, nenhuma eficácia dessas drogas foi comprovada em estudos clínicos e laboratoriais contra a Covid-19. Segundo reportagem do Correio Braziliense: A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), braço da OMS, afirma que “não há evidência científica até o momento de que esses medicamentos (cloroquina e hidroxicloroquina) sejam eficazes e seguros no tratamento da covid-19”.
A Food and Drugs Administration – FDS, órgão equivalente à ANVISA nos Estados Unidos, revogou, inclusive revogou a autorização do uso emergencial dessas drogas no tratamento contra a Covid-19, devido a ausência de estudos que comprovem a eficácias dos ditos medicamentos. Em reportagem publicada pela CNN Brasil: Depois de revisar pesquisas disponíveis sobre os medicamentos, a FDA determinou que eles não atendem aos critérios legais para autorização de uso emergencial, pois é improvável que sejam eficazes no tratamento da Covid-19 de acordo com as últimas evidências científicas. A conclusão foi publicada na sexta-feira (15) em relatório disponível no site da agência.
“A FDA concluiu que, com base nessas novas informações e em outras informações discutidas no memorando em anexo, não é mais razoável acreditar que as formulações orais de HCQ [hidroxicloroquina] e CQ [cloroquina] podem ser eficazes no tratamento da covid-19, nem é razoável acreditar que os benefícios conhecidos e potenciais desses produtos superam seus riscos conhecidos e potenciais”, escreveu a cientista-chefe da FDA, Denise Hinton, em uma carta a Gary Disbrow, da Autoridade de Pesquisa e Desenvolvimento Biomédica Avançada (BARDA, em inglês) – CNN Brasil.
A Sociedade Brasileira de Imunologia –SBI, divulgou em seu site oficial, um parecer científico a respeito da Cloroquina e dos estudos realizados para avaliar a abordagem terapêutica com a droga. Em nota, a SBI pontua:
“Baseados nas evidências atuais que avaliaram a utilização da hidroxicloroquina para a terapêutica da COVID-19, a Sociedade Brasileira de Imunologia conclui que ainda é precoce a recomendação de uso deste medicamento na COVID-19, visto que diferentes estudos mostram não haver benefícios para os pacientes que utilizaram hidroxicloroquina. Além disto, trata-se de um medicamento com efeitos adversos graves que devem ser levados em consideração. Desta forma, a SBI fortemente recomenda que sejam aguardados os resultados dos estudos randomizados multicêntricos em andamento, incluindo o estudo coordenado pela OMS”. E também em reportagem publicada pelo Portal G1, no último dia 8 de janeiro de 2021, em entrevista o médico da Sociedade Brasileira de Infectologia Jaime Rocha alerta a população para a ineficácia desses medicamentos.
“Não existe ivermectina, hidroxicloroquina e várias outras tentativas que se mostraram frustradas e sem sucesso. Tentar usar esses medicamentos é fazer mau uso do dinheiro público e fazer lançar expectativas falsas para a população”, disse. Confira a rerpotagem completa aqui.
Já a Fundação Osvaldo Cruz – Fiocruz, em entrevista com o pesquisador Francisco Paumgartten, da Fiocruz, e a médica Elizabeth Machado, do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho/UFRJ, comentam sobre a cloroquina e hidroxicloroquina que não possuem eficácia comprovada no tratamento da COVID-19, podendo ser nocivo quando utilizadas de forma inadequada e sem orientação médica. Confira a entrevista aqui.
Mesmo diante de todos os estudos realizados até agora por instituições científicas de pesquisa, e de cunho internacional, o que pode-se apurar temporariamente de suas conclusões, ainda em abertas, é que, nenhuma delas confirmou que o uso da cloroquina ou hidroxicloroquina tem eficácia comprovada contra o novo coronavírus. Assim como, também não recomendam tratamentos precoces sem um devido diagnóstico laboratorial fidedigno. Em desencontro com essas recomendações, campanhas encabeçadas por médicos de todo o mundo apoiaram e difundem informações a respeito do uso dessas medicações como forma de terapia profilática contra a Covid-19, é o caso da hashtag #chloroquine Works, que ganhou as redes sociais e tinha o intuito de comunicar a população que a cloroquina funciona e pode salvar vidas.
Semana passada, inclusive, o médico francês Didier Raoult, considerado o “Pai da cloroquina”, voltou atrás e reconheceu que o medicamento não tem eficácia comprovada contra Covid. Clique aqui para ler na íntegra a reportagem.
Ressaltamos que, em sintonia com o que a ciência vem discutindo e pesquisando a respeito dessas medicações, seguimos a orientação de divulgar apenas o que as fontes científicas acadêmicas têm mostrado para o público em geral. Portanto, na ausência de dados que comprovem a eficácia dessa ou de qualquer outra medicação, o recomendado ainda continua sendo manter o distanciamento social, hábitos de higiene com as mãos e no caso de alguma suspeita de infecção buscar atendimento médico o mais rápido possível.