Contrair Covid-19 dentro de casa é mais fácil do que fora?
Afirmação é verdadeira, mas é preciso avaliar o contexto da disseminação
Uma postagem feita por Nikolas Ferreira, candidato a vereador pelo município de Belo Horizonte (MG), em seu perfil no Instagram, traz a publicação de uma matéria divulgada pelo site Uol, com o título “Contrair Covid-19 dentro de casa é mais fácil do que fora, diz estudo“. O material foi enviado para verificação via aplicativo Eu Fiscalizo, projeto parceiro do Nujoc Checagem.
O estudo foi realizado por membros do Korea Centers for Disease Control and Prevention e do Hallym University College of Medicine, a partir de relatórios de 59.073 contatos de 5.706 pacientes infectados pelo coronavírus relatados na Coreia do Sul no período de 20 de janeiro a 27 de março de 2020. Em um universo de 10.592 contatos domiciliares, foi detectado que 11,8% tinham COVID-19. De 48.481 contatos não residenciais, 1,9% tinham COVID-19.
O artigo também chama atenção para estudos anteriores com o mesmo foco. Um deles, realizado nos Estados Unidos, apontou que a taxa de infecção para contatos domiciliares sintomáticos no país era de 10,5% (IC 95% 2,9% -31,4%), significativamente maior do que para contatos não domiciliares. O estudo coreano, apresentado nesta publicação, também mostra que a transmissão domiciliar do SARS-CoV-2 era alta se o paciente índice tivesse entre 10 e 19 anos de idade.
Entretanto, embora o estudo e as conclusões dele extraídas sejam verdadeiras, é preciso avaliar melhor a questão. Apenas o título da matéria não dá conta de todo o contexto evidenciado pelo estudo e Nikolas não forneceu essa contextualização ao seguidor do seu perfil. O seu compartilhamento leva a uma compreensão errônea da situação e o reforço da negação do distanciamento social entre os que criticam a prática como estratégia para conter a disseminação do coronavírus.
Um trecho da conclusão do artigo elucida a questão: “maior detecção domiciliar do que não familiar pode refletir parcialmente a transmissão durante o distanciamento social, quando os membros da família em grande parte ficavam em casa, exceto para realizar tarefas essenciais, possivelmente criando disseminação dentro da família”. Isto que significa que a saída de casa para realizar algum tipo de tarefa, seja trabalho ou ida ao supermercado e farmácia, foi a porta de entrada para o vírus no ambiente domiciliar. Vale lembrar, ainda, que medidas de proteção individual, como o uso de máscaras, em muitos casos não costumam ser tomadas dentro do ambiente familiar. O estudo está disponível na íntegra neste link (em inglês).