Coronavírus foi criado artificialmente em um laboratório na China?

 Coronavírus foi criado artificialmente em um laboratório na China?

Em parceria com o aplicativo @euficalizo apuramos que esta afirmação é falsa. Não há evidências concretas que possam confirmar a informação. E diversos cientistas refutam esta teoria.

Em março deste ano, inúmeras teorias da conspiração surgiram com o intuito de culpabilizar a China pelo atual cenário de pandemia. Todas as acusações referentes à criação de vírus em laboratório ficaram apenas no âmbito da especulação e cientistas em cooperação uniram forças para desmentir tais alegações.

Desde a declaração do francês Luc Montagnier, vencedor do Nobel de Medicina em 2008 ao podcast Pourquoi Docteur? (Por quê, doutor?, em português), afirmando que o coronavírus (SARS-CoV-2), causador da Covid-19, havia sido criado em um laboratório de Wuhan, na China, inúmeras pessoas, incluindo representantes de Estados, repercutiram a fala do médico.

Assim, iniciou-se uma onda de ataques xenofóbicos munidos de acusações infundadas, contribuindo para piorar ainda mais o clima vivido pelo mundo  em decorrência do vírus. Toda essa confusão causou conflitos entre países e deu forças para uma nova onda de desinformação.

O médico disse: “A história de que ele surgiu em um mercado de peixes é lenda”, contrariando diversas investigações sobre o surgimento do vírus no epicentro da cidade chinesa e aumentando as incertezas da população sobre a crise do coronavírus.

Luc Montagnier: origem do boato. Imagem: Reprodução/Internet

Ele ainda afirma ter realizado um estudo minucioso a respeito da sequência genética do vírus em parceria com o matemático Jean-Claude Perrez. E diz que o a sequência do HIV foi inserida no genoma do coronavírus na tentativa de fazer uma vacina contra o HIV. O que também não procede.

Erro – Simon Wain Hobson, virologista molecular do Instituto Pasteur, de Paris, em entrevista contesta as afirmações do médico: “Ele não é o único a falar isso, outros pesquisadores já cometeram o mesmo erro. É muito simples. O genoma do novo coronavírus é particularmente rico em duas bases em seu genoma, e o HIV é rico em uma delas. Olhando a sequência genética, pode-se chegar à conclusão de que há similaridades [dentro da hipótese de que o novo coranavírus teria sido “manipulado” em laboratório durante testes de uma vacina contra o HIV]. Mas eles não compararam o genoma do novo coronavírus com outros genomas, como o humano, que também possuem partes dessa sequência. Esse é um erro fácil de ser cometido, e que eu percebo desde o início da minha carreira, nos anos 1980. Assim, as conclusões de Montaigner estão erradas. Trabalhamos com informações disponíveis e publicadas, então só posso comentar em cima destas informações previamente catalogadas. Tudo leva a pensar que a covid-19 seja uma infecção natural. Ou seja, vem do mundo animal, e o ponto de partida seria um outro mamífero”, afirma o virologista.

A The Lancet , em uma publicação de artigo mostrou que, sim, a maioria dos pacientes iniciais de Covid-19 tiveram algum contato com o mercado, já outros não tiveram ligação com o local. É possível que essa ligação ocorra de uma forma que ainda não foi decifrada pela ciência, porém não se pode descartar a que hipótese não seja verdadeira, ao afirmar que se trata de lenda, invenção das organizações para mapear a origem do vírus, tendo em vista a enorme proporção de transmissibilidade do vírus.

Trump – Essas suspeitas ganharam forças, devido a publicações feitas pelo The Washington Post em 14 de abril de 2018. Segundo reportagem feita pela BBC, foi quando diplomatas do Departamento de Estado americano alegaram preocupações quanto à biossegurança de um laboratório viral na China, justamente em Wuhan, cidade onde surgiram as primeiras notificações da doença. Estas mesmas pessoas emitiram dois alertas para Washington sobre o laboratório. Ao que consta na reportagem, os cientistas estavam preocupados quanto à segurança e quanto ao gerenciamento de falhas no Instituto de Virologia em Wuhan (WIV) e os mesmos pediram ajuda.

Porém, desde já, não havia quaisquer evidências concretas e com bases científicas firmes de que o novo coronavírus tenha sido, de forma acidental, liberado ou criado de um laboratório. Não se pode afirmar isso.

Mesmo assim, o The New York Times publicou que membros do governo Trump haviam pressionado estes agentes de inteligência para que eles apoiassem esta teoria, mesmo sem nenhuma evidência, de que o vírus tenha surgido de algum acidente em Wuhan.

Não há quaisquer informações em relatórios oficiais que apontem falhas nas condições de segurança dos laboratórios dos quais surgiram suspeitas, logo, não há como concluir que, de fato, o vírus tenha vazado de lá.

Um estudo americano publicado pela revisa científica Nature sobre o genoma do coronavírus, realizado em março, não encontrou nenhum sinal de que ele tenha sido fabricado, levando por terra essa teoria conspiratória de que os chineses o haviam moldado.

“Ao comparar os dados disponíveis da sequência genômica das cepas conhecidas do coronavírus, podemos dizer com segurança que o Sars-CoV-2 se originou de processos naturais”, disse o coautor Kristian Andersen, do Instituto de Pesquisa Scripps, na Califórnia.

A própria Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) em seu site oficial, posicionou-se sobre esta teoria afirmando: “Não há nenhum registro científico que indique essa semelhança e muito menos que o vírus foi criado em laboratório. Um estudo publicado na renomada revista Lancet fez uma descrição de 10 sequências genéticas do novo coronavírus que demonstrou uma similaridade com o vírus SARs (COV), tendo o morcego como hospedeiro original e como hospedeiro intermediário animais do mercado de Wuhan”.

Origens – Os autores desta pesquisa propuseram duas possíveis origens: pode ser que o vírus tenha evoluído para seu estado atual em hospedeiros animais antes de passar para humanos, ou pode ter “pulado” de animais para humanos e só então ter desenvolvido suas características distintivas.

Os responsáveis pelo estudo são Kristian G. Anderson, do Scripps Research Institute nos Estados Unidos, Andrew Rambaut, da Universidade de Edimburgo no Reino Unido, Ian Lipkin, da Universidade de Columbia University nos Estados Unidos, Edward C. Holmes, de Sydney na Austrália, e Robert F. Garry, da Universidade de Tulane nos Estados Unidos.

Estes estudiosos afirmam categoricamente: “Nossas análises mostram claramente que o SARS-Cov-2 não é uma construção de laboratório ou um vírus manipulado posteriormente”.

Portanto, é inviável afirmar que este vírus tenha sido criado em laboratórios na China e que tenha se espalhado pelo mundo devido a falhas de segurança.

Equipe NUJOC

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