Atividade física moderada não causa baixo nível de oxigênio no sangue
Suposto bombeiro faz afirmações incorretas sobre o uso de máscara na prática de exercícios
O Nujoc Checagem recebeu denúncia por meio do aplicativo Eu Fiscalizo, da Fiocruz, de um vídeo que dá instruções sobre o uso de máscara durante a prática de atividade física.
O vídeo tem cerca de três minutos e meio de duração e foi gravado no que parece ser um estacionamento. É apresentado por um homem usando máscara e camisa com identificação do Corpo de Bombeiros de São Paulo. Ele afirma que as máscaras podem induzir à hipóxia, que é a baixa concentração de oxigênio no sangue.
O homem se apresenta como supervisor de espaços confinados de empresas, e traz na mão um aparelho que mediria o nível de oxigênio nesses espaços. Trata-se de um aparelho com as dimensões de uma máquina de cartão de crédito, com uma mangueira na extremidade.
“Será que é legal correr de máscara?”, indaga. “Porque eu estou inalando o mesmo ar que eu tô colocando para fora”, prossegue. Diz que o aparelho indica quando a quantidade de oxigênio é insuficiente – abaixo de 20.9 na medição da máquina.
Para provar seu argumento, ele insere a mangueira do aparelho na máscara duas vezes, sendo que nas duas o aparelho começa a apitar alto imediatamente, o que, segundo o homem, é uma prova do baixo nível de oxigênio quando se usa máscara. A conclusão seria que usar máscara é arriscado e pode levar a pessoa a passar mal devido ao baixo nível de oxigênio: “Eu posso ter tontura, eu posso ter mal-estar, eu vou entrar num procedimento chamado de hipóxia”, argumenta. Segundo o homem, a máscara só é necessária para a atividade física se houver concentração de pessoas. “Quando estou sozinho, aí eu posso ficar sem a máscara”, assevera.
A informação é incorreta. Até o momento, não há estudos que comprovem risco no uso de máscara na atividade física leve a moderada. Os estudos sobre o assunto mostram que a máscara é eficaz como barreira mecânica que impede a passagem do vírus sem ocasionar hipóxia. Pode haver algum mal-estar até a pessoa se acostumar, mas não existe risco de baixa oxigenação em atividades leves e moderadas. Isso porque as máscaras não vedam a entrada de ar, mas permitem as trocas gasosas por meio da porosidade do tecido. Mais sobre o assunto você pode conferir aqui, na verificação feita pela Agência Lupa.
Quanto à corrida e atividades de maior impacto, alguns estudos observam desconforto e piora na performance dos atletas. Se muito intensa a atividade, o uso da máscara tende a sobrecarregar o organismo e a transpiração tende a umedecer a máscara, sendo necessária a sua troca, conforme dados reunidos neste artigo aqui.
Partículas suspensas – Sobre a recomendação de só usar a máscara quando houver aglomeração, o vídeo também desinforma. Deixar de usar a máscara pode ser arriscado mesmo quando não houver aglomeração, pois as partículas transmissoras do novo coronavírus podem se dispersar pelo ar, ficando suspensas por horas, conforme reconheceram os cientistas em diversos estudos conduzidos mundialmente. Foram esses estudos que mudaram a posição da Organização Mundial da Saúde sobre o assunto em 07 de julho, data em que a organização passou a reconhecer oficialmente a transmissão pelo ar, como você pode conferir nesta matéria aqui.
A OMS recomenda que as atividades físicas sejam feitas em casa, para evitar o desconforto eventual que o uso das máscaras pode causar na prática da atividade. O grau de desconforto das máscaras e eventual risco para atletas ainda é questão ainda em aberto. As recomendações da OMS foram sintetizadas pelo grupo Covid Verificado, da USP, conforme essa postagem aqui.
Combinado com a higienização das mãos e o distanciamento social, o uso da máscara é essencial no contexto da retomada das atividades no cenário pós-pandemia que começa a se desenhar no Brasil e no mundo. Trata-se de uma medida simples e segura, que garante a proteção de todos.
O Nujoc Checagem já verificou outras notícias sobre o uso de máscaras para evitar a infecção pelo novo coronavírus: nesta aqui a gente desmentiu uma postagem no estilo “manual”, com várias afirmações falsas. Nesta outra, a gente verificou e descartou boato sobre supostas máscaras contaminadas vindas da China e da Índia.