Covid-19: é falso que estudos clínicos de vacinas foram cancelados após morte de voluntários
O Nujoc Checagem recebeu, por meio do aplicativo Eu Fiscalizo, um vídeo gravado pelo enfermeiro Anthony Ferrari Penza, do Rio de Janeiro, que afirma que os testes e pesquisas da vacina contra covid-19 foram cancelados após a morte de voluntários.
No vídeo, de pouco mais de 6 minutos de duração, o enfermeiro faz uma série de declarações contra a vacina e afirma que os testes e pesquisas foram cancelados. Para embasar suas afirmações, ele traz a tona no caso do médico João Pedro Feitosa, que participava como voluntário em testes clínicos da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e pelo laboratório Astrazeneca, e que acabou falecendo no dia 15 de outubro.
“Esse médico amigo, trabalhador, faculdade federal de medicina, 28 anos, agora saiu a notícia que o João Pedro, o que foi aplicado nele foi um placebo, pura e simplesmente para poder não dizer que essa vacina mata, como eu estou dizendo”, afirma Anthony Ferrari no vídeo.
O profissional se mostra adepto de teorias da conspiração. “Existem alguns políticos de esquerda que estão politizando [a vacina]”, diz em outro momento do vídeo.
Apesar de toda a sua eloquência, o enfermeiro Anthony Ferrari apresenta informações falsas em seu vídeo, uma vez que as pesquisas e testes envolvendo a vacina contra covid-19 não foram cancelados por conta da “morte de voluntários”.
Até esta sexta-feira (06), não foi divulgada qualquer notícia sobre a morte de alguém que tenha se submetido ao teste com a vacina (vale ressaltar que o médico João Pedro Feitosa tomou apenas um placebo, e não a dose do imunizante).
Recentemente, a Agência Lupa fez uma checagem junto às quatro instituições que estão executando testes de potenciais vacinas no Brasil: Centro Paulista de Investigação Clínica (Cepic), responsável pelos estudos das vacinas da Janssen (Johnson&Johnson) e da Pfizer/BioNTech; Instituto Tecnologia do Paraná (Tecpar), que atua em parceria com o Fundo de Investimento Direto da Rússia e o Instituto Gamaleya no projeto da Sputnik V; Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais da Universidade Federal de São Paulo (CRIE/Unifesp), que coordena os testes da vacina da AstraZeneca/Universidade de Oxford; e Instituto Butantan, que está a frente dos ensaios clínicos da CoronaVac, vacina da empresa Sinovac. Segundo a Lupa, nenhuma delas informou ter encerrado seus estudos.
Cada uma dessas instituições encaminhou nota de esclarecimento à Lupa.
Segundo a agência, os testes da Janssen foram pausados após um dos participantes apresentar uma doença inexplicada. Conforme uma nota encaminhada pelo Cepic, o caso passa por uma auditoria de um grupo independente de médicos. Em relação a vacina da Pfizer/BioNTech, o Cepic explicou que os testes seguem normalmente e que até o momento não houve qualquer registro de efeito colateral ou falecimento causado pela aplicação do imunizante.
A pesquisa com a Sputnik V ainda não teve início, pois, de acordo com o Tecpar, o instituto aguarda definição sobre as ações de cooperação por parte do Fundo de Investimento Direto da Rússia. O Instituto Butantan revelou que o estudo clínico está na fase 3 e que até agora não foi registrado qualquer efeito adverso grave ou óbito entre os participantes.
Por fim, a Unifesp declarou que o estudo com a vacina da AstraZeneca e Universidade de Oxford continua sendo realizado. Sobre o médico João Pedro Feitosa, a instituição respondeu que um comitê independente de médicos e as agências reguladoras brasileiras fizeram uma análise minuciosa e constataram que o caso não colocou em dúvida a segurança da continuidade dos testes.
Diante de tais informações, fica evidente que o conteúdo do vídeo gravado pelo enfermeiro Anthony Ferrari é falso, e contribui apenas para confundir ainda mais a população brasileira nesse momento de pandemia.