Covid-19 é imune a organismos com pH maior que 5,5?
A resposta é NÃO!
Circula pelas redes uma tabela com informações de uma suposta dieta de alimentos cujo o pH é superior ao valor de 5,5.
Segundo o que consta na tabela, ingerir alimentos como manga, abacate e limão, por exemplo, ajudariam o organismo a combater o vírus devido ao aumento das taxas de pH no sangue.
Verificamos essa informação junto ao aplicativo @eufiscalizo e, infelizmente, esta notícia é falsa.
Faz parte de mais uma daquela série de receitas que prometem a cura para o novo coronavirus. Ja verificamos uma matéria bastante similar a esta é pode ser vista aqui.
Adoraríamos que fosse verdade, em virtude da simplicidade do tratamento proposto e que poderia ser acessível para inúmeras pessoas, entretanto…
Para simplificar, o pH ou Potencial Hidrogeniônico, consiste em um índice que indica a acidez, neutralidade ou alcalinidade de um meio qualquer, incluindo o organismo humano.
É uma característica presente em todas as substâncias, incluindo alimentos e é determinado pela concentração de íons de Hidrogênio. Os valores que medem o pH vão de 0 a 14 (valores acima ou abaixo disso são muito raros).
Virologista da UFRJ, Rômulo Nery, explica ha contradição nessas informações, e afirma que não é possível, por exemplo, mudar o pH da garganta, esôfago ou pulmões , locais de percurso do vírus, através da ingestão de alguns alimentos, e que o vírus precisa de um ambiente celular para se propagar.
“Esse pH de 5,5 não é próprio do vírus, mas é o que ele precisa encontrar no ambiente celular para se propagar. E isso não pode ser mudado pela alimentação, ao contrário do que consultores dizem (ao tratar de dietas). Não é possível mudar o pH da sua garganta ou do seu pulmão pelo fato de a alimentação ser mais ácida ou mais básica. Os alimentos são processados no estômago, que tem pH muito ácido. Quando os nutrientes são absorvidos pelo sangue, o pH não é mais relevante.O vírus não está só na garganta, mas no pulmão, traqueia, brônquios, onde comida e bebida não chegam.”
É preciso ficar atento para situações em que o pH do sangue encontra-se com taxas alteradas e altas. Ao que tudo aponta o pH do sangue deve estar entre 7,35 e 7,45.
Quando esses Índices ultrapassam esse valor, ocorre o que se chama de alcalose, quando as taxas do sangue está entre 7,45 e 7,95.
Valores de pH no sangue abaixo de 6,9 ou superiores a 7,8 podem levar à morte, portanto, quando o sangue está com o pH ideal as células estão saudáveis, e quando o sangue encontra-se mais ácido ou mais básico as células morrem mais cedo, havendo doenças e complicações.
Outra contradição podem ser encontradas nas informações contidas na tabela, como é o caso do abacate cujo é visto tendo pH 15,6. Como seria isso possível, uma vez que a escala termina em 14, não é mesmo.
Uma dieta saudável favorece o fortalecimento das defesas do organismo contra possíveis infecções.
Patrícia Canto Ribeiro, médica pneumologista da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz adverte que não há tratamento em larga escala. Todos os protocolos estão em estudo: há algumas drogas sendo testadas isoladamente e algumas combinadas com outras medicações.
Ou seja, atualmente não há nada que comprove que a ingestão de determinados alimentos possa ser eficaz contra o novo coronavirus.
A única exceção é um estudo feito no Piauí utilizando o buriti, porém ainda está nas fases iniciais, precisando passar pelas etapas in vitro e in vivo.
Além do mais, as informações a respeito desses alimentos fazem referência a um artigo publicado em 1991 publicado no “Journal of Virology”, da Sociedade Americana de Microbiologia, e que estudava outro tipo de coronavirus, no caso o MHV4. O vírus que causa a atual pandemia é o SARS-Cov-2.
O artigo visava observar o que acontecia quando células de camundongos ou ratos eram infectadas com o vírus. O artigo original pode ser consultado aqui.
Portanto, são falsas as alegações de que a ingestão de alimentos com certo percentual de acidez podem neutralizar as infecções ocasionadas pelo novo coronavirus, não há qualquer dieta cientificamente comprovada que iniba as complicações em virtude da Covid-19.