Covid-19 significa “Certificado de Identificação de Vacinação com Inteligência Artificial” e faz parte de um plano de controle populacional?
Essa afirmação é falsa e não faz referência a nenhum estudo sério realizado por cientistas em todo o mundo
Apuramos essa denúncia através do aplicativo @EuFiscalizo e constatemos que este conteúdo é falso. Atualmente, não são poucas as teorias que tentam explicar toda a complexidade de questões em torno do novo coronavírus. Teorias capciosas que vão desde a propagação do vírus através de tecnologia 5G a rumores que dizem que o vírus foi fabricado em laboratórios na China, fazem parte da vasta gama de informações falsas que pouco contribuem para o avanço da ciência durante a pandemia.
Ideias assim apenas reforçam questões xenofóbicas e de visões políticas autoritárias e alienantes. No bojo de tantas conjecturas surgem, inclusive, teorias da conspiração muitas vezes propagadas até mesmo por profissionais de saúde. O respaldo científico frente às ondas de fake news envolvendo o novo coronavírus, em muitos momentos durante a pandemia, tornou-se uma preocupação.
Uma vez que toda a população mundial está ansiosa pelo dia em que poderá ser imunizada contra a Covid-19, é comum vermos pessoas adotando métodos duvidosos que prometem a cura contra o novo coronavírus, desde chás com ervas milagrosas a recomendações médicas que incentivam a população a não se vacinarem contra o Sars-Cov-2.
Recentemente, o médico italiano Roberto Petrella publicou um vídeo que ganhou as redes em todo mundo ao afirmar que Covid-19 significa: “Certificado de Identificação de Vacinação com Inteligência Artificial” e 19 é o ano em que foi criado. Essa informação é falsa e sem nenhum fundamento.
O nome Covid-19 foi anunciado pela Organização Mundial da Saúde em 11 de fevereiro de 2020. Para constar nas diretrizes de certificação de causas de mortes, o termo “coronavírus” deve ser evitado, visto que existem muitos outros tipos de coronavírus. Além, é claro, de se tratar de um vírus completamente novo cuja nomenclatura requer grafia e nomes específicos de identificação. Logo, o nome Covid-19 faz referência a uma abreviação das palavras em inglês “CoronaVirus” (Covi) e “Disease” (d), traduzido como “doença do coronavírus”. Um documento a respeito lançado pela própria Organização elucida e refuta este argumento a respeito do nome do novo coronavírus. Confira aqui.
Jorge Kalil, professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e coordenador do Instituto de Investigação em Imunologia, comenta que o vídeo, claramente, expressa ideias que fazem parte de uma campanha antivacina, e afirma: “Esse vídeo é mais um daqueles da teoria da conspiração, completamente paranoico, achando que está todo mundo armando, que toda a ciência mundial está armando contra a população. Esse indivíduo claramente é um antivacinas. Os trabalhos científicos estão justamente dizendo que as vacinas anteriores protegem as pessoas contra esse vírus. E esse indivíduo, um antivacina, quer dar seu recado paranoico e utiliza a internet. O movimento antivacina é um movimento que cresceu muito no mundo com essa atitude. Neste caso, ele acha que querem controlar toda a população”.
Ainda sobre o vídeo, em dado momento, o médico italiano afirma que as vacinas, em especial a que está por vir contra o novo coronavírus, enfraquece o sistema imunológico, deixando assim, toda população mais vulnerável a infecções mais severas e suscetíveis a contaminações. Na contramão desses argumentos, o virologista Rômulo Neris, doutorando da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que: “Vacinas agem expondo ao nosso organismo partes de um agente infeccioso ou uma versão dele que não é capaz de causar doença. A partir desta exposição, nosso sistema imune é capaz de gerar resposta muito mais rápida e eficiente no caso de uma infecção por este patógeno. O objetivo da vacina é exatamente o oposto do que é apontado por esta fake news”.
O pesquisador prossegue: “Além disto, não existe fenômeno de ‘reativação viral’ associado a vacinas conforme o autor tenta sugerir. O evento recente de um indivíduo infectado duas vezes por Sars-CoV-2 foi um quadro de reinfecção. Ele foi exposto em dois momentos diferentes a vírus que circulavam em regiões diferentes, o que pode ser comprovado por análise em laboratório”.
Portanto, é preciso redobrar a atenção com os conteúdos consumidos e viralizados nas redes de internet. As vacinas que estão sendo testadas seguem um rigoroso padrão de qualidade e de fiscalização. Campanhas antivacinas não são novidades no mundo científico, vários especialistas divergem sobre a utilização dos métodos de imunização. Porém, o que podemos esperar é que, com uma vacina, o número de mortes e infectados possa diminuir e novas conquistas possam ser alçadas frente à corrida contra o novo coronavírus.
No Brasil, o próprio Ministério da Saúde, em seu site oficial, publicou uma nota sobre a importância de manter a vacinação em dia, com a finalidade de salvar vidas e prevenir novos surtos. Muitas doenças comuns no Brasil e no mundo deixaram de ser um problema de saúde pública por causa da vacinação massiva da população. Poliomielite, sarampo, rubéola, tétano e coqueluche são só alguns exemplos de doenças comuns no passado e que as novas gerações só ouvem falar em histórias.