Da obrigatoriedade da vacina a campos de concentração na Nova Zelândia: vídeo carrega vários fatos mentirosos sobre a COVID-19
Circula nas redes sociais um vídeo do missionário religioso Daniel D’Andrea com alegações em relação a pandemia de COVID-19, entre as afirmações levantadas estão sobre uma suposta obrigatoriedade da vacina, perseguição em relação às pessoas que não querem usar máscaras, imunidade de rebanho na Suécia e campos de concentração na Nova Zelândia. O vídeo chegou até nossa equipe, por meio de parceira com o aplicativo Eu Fiscalizo da Fiocruz (disponível para Android e iOS).
Obrigatoriedade da vacina – Logo no início do vídeo, a personalidade afirma que independente da obrigatoriedade da vacina ou não o indivíduo vai ter que se vacinar, uma vez que não poderá se locomover. “Se elas (pessoas) não tomarem, você não sai do Brasil, no máximo você vai sair de São Paulo e ir para o Paraná. Você não vai para o Paraguai, você não entra na Argentina, você não vem para Itália. Não faz absolutamente nada sem tomar esse negócio. Então se é obrigado ou não é, não vai fazer a mínima diferença”.
As medidas adotadas no mundo inteiro quanto a entrada e saída de viajantes estrangeiros têm como propósito conter a circulação do vírus, são estratégias sanitárias. No Brasil, por exemplo, com informações da CNN Brasil, em portaria publicada no Diário Oficial da União (DOU), o governo brasileiro anuncia a “restrição temporária” para a entrada de estrangeiros no território do país por rodovias, meios terrestres ou transporte aquaviário a partir do dia 26 de janeiro.
Como justificativa, o texto cita recomendações da Anvisa diante dos potenciais riscos das duas variantes do novo coronavírus detectadas originalmente no Reino Unido e na África do Sul – ambas consideradas versões mais contagiosas do vírus causador da Covid-19.
As orientações de restrição também valem para pessoas que estejam vacinadas. A vacina impede que o vacinado adoeça caso entre em contato com o coronavírus. Contudo, ainda não se sabe se as pessoas imunizadas podem continuar a transmitir o vírus. Até que isso fique totalmente esclarecido, não é seguro aumentar drasticamente a circulação de pessoas pelo globo, para o bem de quem ainda não tomou a vacina. De acordo com um informe publicado pelo renomado Johns Hopkins Coronavirus Resource Center, dos Estados Unidos, “será importante entender se os indivíduos vacinados têm menos propensão a transmitir o vírus. Isso é provável, mas não garantido. Se a vacina não apenas proteger contra o vírus, mas também reduzir a transmissão, e assim for por vários anos, nós poderemos chegar a um estado de imunidade de rebanho no qual máscaras e distanciamento social não serão mais necessários”.
Perseguição de quem não usa máscaras – O missionário afirma que existe a implantação de uma agenda que busca nortear o comportamento, ou seja, a pessoa ser obrigada a usar máscara, caso contrário ela é insultada e até mesmo perseguida nas ruas.
Tema corriqueiro no Nujoc Checagem, o uso de máscaras é essencial para a prevenção da COVID-19. O Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC), por exemplo, indica em seu site 19 artigos publicados em diferentes revistas científicas que atestam a efetividade do uso de máscaras como parte da estratégia para controlar a pandemia. A OMS, por sua vez, conta com uma Divisão Científica que subsidia a elaboração das normas da organização e que produz inúmeras pesquisas na área da saúde pública. Confira a matéria completa.
Em artigo publicado pela Universidade Federal do Paraná e que entrevistou 11 pesquisadores da instituição da área da saúde e todos reforçam o uso de máscaras sempre que for necessário sair de casa. “Atualmente, usar máscaras é um gesto de coletividade e solidariedade, pois mesmo que para quem está usando máscara a proteção seja baixa, barra parte das gotículas produzidas ao falar, ao tossir e ao espirrar, protegendo os outros”, explicam. O texto ainda traz instruções de como usar as máscaras e chama o novo hábito de “gesto de coletividade” no meio da pandemia. Confira o artigo na íntegra.
Imunidade de rebanho na Suécia – “O gráfico da Suécia é que não tem segunda onda por lá. Não se usa máscara, não tem boate fechada, está tudo lá aberto. Mas porque não tem mortes? Por que muita gente recebeu imunidade de rebanho”, disse o missionário.
Com informações da Istoé, apesar da adoção de medidas mais rígidas pelas autoridades nas últimas semanas de dezembro de 2020, a Suécia e sua atípica estratégia contra o coronavírus enfrentam novamente grandes dificuldades com a temida segunda onda, que o país nórdico acreditou durante muito tempo que conseguiria evitar.
“A Autoridade de Saúde Pública havia preparado três cenários no verão. Nos baseamos no pior deles. Porém, está duas vezes do que se temia”, afirmou à AFP Lars Falk, diretor do departamento de UTI no hospital Karolinska de Estocolmo.
Serviços de reanimação sob pressão, demanda por reforços de profissionais de saúde qualificados em Estocolmo, taxa de mortalidade até 10 vezes superior a dos vizinhos nórdicos: durante o outono, a estratégia sueca, menos estrita a respeito da epidemia, repete o balanço medíocre da primavera.
Campos de concentração na Nova Zelândia – Por último a seguinte alegação “Tem muita gente achando que isso é fake news, por causa do terror que essa mensagem transmite. Estariam sendo construídos uma espécie de campos de concentração”, pontuou Daniel D’Andrea.
Segundo o portal Uol, no país existe na verdade um “isolamento gerenciado”. Essa modalidade de isolamento criado pelo governo funciona como uma loteria: quem desembarca no país é transportado de ônibus direto do aeroporto para hotéis de quatro ou cinco estrelas. Alguns azarados acabam em albergues de mochileiros ou hotéis básicos de aeroporto. Os hóspedes passam por checagens de temperatura diárias e realizam dois testes de covid.
A Nova Zelândia tem o tamanho do estado de São Paulo, mas uma população oito vezes menor. Sua localização remota, a 2 mil quilômetros da Austrália, aliada a uma política rígida de quarentena, ajudou a evitar as fatalidades sofridas por outras nações, embora tenha deixado a economia em frangalhos.
Até agosto de 2020 o programa de quarentena era bancado pelo governo. Agora, quem desembarcou desde então, precisa pagar uma taxa de R$ 11 mil reais (NZ$ 3.100) pelo isolamento obrigatório, sem contar R$ 3.400 por adulto extra e R$ 1.700 por criança, seguindo a prática na Austrália.