DESINFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA SOCIEDADE CONTEMPÔNEA
Por Ana Regina Rêgo
O título do meu texto de hoje é o mesmo da edição atual da revista ORGANICOM lançada recentemente e que possui no dossiê, cinco artigos que trabalham o tema sob diversas perspectivas.
O texto de Margareth Boarini e Pollyana Ferrari denominado A desinformação é o parasita do século XXI, aborda os fenômenos da desinformação, desde as simples fake News aos complexos negacionismos, refletindo sobre como estes ganharam robustez e fluidez e passaram a demandar atenção permanente dos usuário. Para acessar este texto vá ao link https://www.revistas.usp.br/organicom/article/view/170549/168689
O artigo Fake News, pós-verdade e os limites (ou desafios) da opinião pública na sociedade da plataforma de Kegler e Rejane de Oliveira Pozobon procura refletir sobre a produção da opinião pública na sociedade das plataformas, apontando como os fenômenos das fake News e da pós-verdade incidem sobre esse processo. Para ler o texto https://www.revistas.usp.br/organicom/article/view/170515/168690 .
Comunicação, dispositivo e espaço corporativo: a estratégia da promessa na dinâmica das organizações no capitalismo de Daniela Gonçalves e Eugenio Trivinho reflete sobre o dispositivo de comunicação a partir do conceito foucaultiano e seu desdobramento corporativo como promessa de comunicação. O texto se debruça sobre a relação entre o espaço corporativo e macrodispositivo do social procurando caracterizar a comunicação como estratégia inseparável da reprodução do capitalismo. Este texto pode ser acessado neste link https://www.revistas.usp.br/organicom/article/view/173547/168694
Luiz Alberto Farias, Ivelise Cardoso e Paulo Nassar no texto Comunicação, opinião pública e os impactos da revolução digital na era da pós-verdade e da fake New, procuram refletir sobre a propagação da pós-verdade e influência das notícias falsas, disseminadas por algoritmos e redes sociais, que muitas vezes são tomadas como fontes de informação capazes de se refletir em realidades paralelas, influindo nas atitudes e decisões sociais. O texto também aborda a gravidade do inter-relacionamento entre tecnologia digital e desinformação. Para ler o texto acesse: https://www.revistas.usp.br/organicom/article/view/176133/168695
Nesta edição publicamos um artigo denominado Vigilância, controle e atenção: a desinformação como estratégia em que trabalhamos temas já debatidos neste espaço opinativo desde alguns anos. No texto procuramos tensionar o debate sobre a desinformação procurando trazer para a visibilidade aspectos mais amplos e que se inserem silenciosamente em nosso contexto social nos dias atuais. Nas próximas linhas trazemos excertos do artigo mencionado.
No que concerne à vigilância digital é válido pensar com Fernanda Bruno que considera que a mesma já está inserida entre nós há algumas décadas e se concentra em filtrar três principais agentes constitutivos e interagentes no cenário econômico, que seriam: informações, dados e perfis, através de um monitoramento sistemático de nossas atividades no mundo virtual. A vigilância digital permanente garimpa nossos dados e constrói infinitos bancos de dados, e, por último, os perfis computacionais que possibilitam a transformação dos dados em conhecimento, trabalhando processos de individualização.
A vigilância digital é uma característica da sociedade atual, tendo se transformado em uma decisiva estratégia que interfere em nossas sociabilidades e afetividades, visto que a manipulação psicológica que sofremos nos agrupa em bolhas de pensamentos similares e nos faz rejeitar pensamentos opostos aos nossos, fomentando em muitos casos, o ódio e instalando o medo. A vigilância ocupa hoje o core business das plataformas digitais e não se restringe à garimpagem que realizam nos dispositivos em que atuamos sobre nós e nossas vidas, mas como pontuamos acima, influi diretamente na interferência psicológica das redes em nossas vidas.
A vigilância permanente e ubíqua abre espaço para o controle infinito. Na sociedade do controle as redes potencializam-se interconectando mundo real e virtual numa simbiose indistinta e com capacidade para envolver os usuários de forma ubíqua tornando cada um de nós refém de seus mecanismos. A senha passa ser o passaporte e a identidade de cada pessoa para o mercado informacional e essa nova conformação social estruturada em um poder ubíquo e silencioso, que se põe como gratuito e permite que se realizem inúmeras coisas boas para o conjunto da humanidade, é marcada, sobretudo, pela desconstrução do sujeito e sua mutação para o formato de dados, facilmente transformável em produto no e-commerce.
Como debatemos nesta coluna em outros momentos, também estamos em uma sociedade do julgar. Vigilância e controle se aliam ao julgamento, fazendo dos usuários das redes sociais, já vigiados e vigilantes, também julgados e juízes, como parte essencial da manutenção do sistema mercadológico em que nos inserimos como produtores voluntários e produtos pluridimensionais. Julgamos o atendimento e a comida dos restaurantes, com estrelas nos aplicativos, que nos oferecem a oportunidade de ganhar pontos junto aos nossos seguidores e também frente à empresa que estamos credibilizando. Julgamos o motorista do Uber. Julgamos a foto dos amigos e dos inimigos, com curtidas ou com silêncio, porque assim, aparecemos mais e nos colocamos disponíveis para o julgamento coletivo. Em geral, julgamos positivamente para que assim sejamos julgados.
Vale ponderar que essa sociedade do julgamento, cujas características foram apropriadas e potencializadas pelo mercado, sobretudo, pelas plataformas digitais e empresas do e-commerce, ganhou já há alguns anos, um grande aliado, o algoritmo, cuja funcionalidade é guiar nosso olhar e direcionar tanto experiências que nos sejam mais favoráveis, quanto produtos. Se há cerca de dez anos as empresas de publicidade começaram a perceber que a visibilidade de seus clientes tinha sido reduzida a 10% da capacidade potencial que as redes sociais ofereciam antes, determinando a via do pagamento, como o principal caminho para a projeção e reflexividade no ambiente virtual, para o caminho da visibilidade; inclusive, com formas de pagamento variadas e casadas entre si, com a concretização de relações comerciais, interesses em bancos de dados e pagamento em cash. Mais recentemente, a economia virtual do algoritmo tem mudado o dia-a-dia da linha do tempo dos nossos perfis nas redes sociais, procurando oferecer uma experiência agradável, eliminando por exemplo, as diferenças de opinião e ideológicas. Para ler o texto completo acesse https://www.revistas.usp.br/organicom/article/view/180753/16868