Doenças respiratórias fizeram 356 milhões de mortos no Brasil?
A informação foi repassada pelo jornalista Alexandre Garcia, em comentário na CNN
O jornalista Alexandre Garcia afirmou, em vídeo que está circulando nas redes sociais, que as doenças respiratórias contabilizam 356 milhões de mortes desde o início da pandemia no Brasil. Ele contrasta o número – que ultrapassa a totalidade da população brasileira – com as vítimas da Covid-19, mais de 300 mil. O vídeo foi repassado à equipe do NUJOC pelo aplicativo Eu Fiscalizo, da Fundação Oswaldo Cruz.
“Agora, a gente não pode esquecer de outras doenças. A gente tá muito concentrado… Veja só. De dezesseis de março [de 2020] para cá, de acordo com o Registro Civil das Certidões de Óbitos e Causa Mortis, vejam só o que as doenças respiratórias mataram, sem o Covid. Pneumonia, síndrome respiratória aguda e insuficiência respiratória mataram 356 milhões de brasileiros, no mesmo período em que a Covid matou 300 mil”, diz o jornalista em seu comentário na rede CNN.
O trecho repassado a nossa equipe contém, certamente, um equívoco por parte do jornalista, já que não haveria como as doenças respiratórias fazerem mais vítimas do que o total da população do país – estimada em pouco mais de 210 milhões de brasileiros, conforme dados do IBGE. O número apresentado pelo jornalista, de 356 milhões de vítimas no Brasil por outras doenças respiratórias em um ano, é uma impossibilidade lógica e factual, como observaram sites de notícias como este, este e este aqui.
Alexandre Garcia vem sustentando em diversas ocasiões um olhar crítico sobre os números da pandemia no país. Ele sustenta que a gravidade da Covid-19 vem sendo superestimada, frente a outras doenças não relacionadas. No vídeo em questão, o jornalista opina que os números da pandemia, apesar de preocupantes, não podem ser superestimados, diante das outras doenças que fariam mais vítimas e também seriam igualmente letais, como as outras doenças respiratórias.
O comentário do jornalista Alexandre Garcia não se sustenta nos fatos. A Covid-19 já é a principal causa de morte no país, conforme dados desta matéria da CNN. Em 2021, a doença já supera todas as outras causas de óbito, sendo responsável por 28% deles. Quando se considera o total de mortes por Covid-19 em um ano de pandemia (275 mil) com a média de mortes por outras causas entre 2015 e 2019, a Covid-19 já é a causa principal de óbitos no Brasil, superando infarto (93 mil), pneumonia (80 mil), assassinatos (56 mil) e acidentes de transporte (36 mil). Portanto, toda a atenção que vem sendo dada ao combate à Covid-19 ainda é insuficiente, quando se considera a gravidade da doença e o número de casos e de mortes.
A síndrome do Sars-Cov-2 ainda tem causa desconhecida e foi potencializada no final de 2020 com o surgimento de novas cepas do vírus, com maior poder de disseminação, pelo menos uma delas no Brasil. As vacinas, aliadas às medidas preventivas para evitar o contágio, são as únicas formas de conter o avanço das infecções.
Outro ponto que não se sustenta no comentário de Alexandre Garcia é a afirmação de que se preocupar com a Covid-19 em demasia pode levar ao aumento das outras doenças respiratórias. “Então, não podemos esquecer das outras também, porque senão aceleram as outras, a gente só cuida de uma”, conclui.
Os números mostram que foi exatamente o contrário que aconteceu no ano passado: os casos de doenças respiratórias diminuíram, em razão dos cuidados adotados para combater a Covid-19 – uso de máscara, higienização e isolamento social, conforme explicado nesta matéria do jornal O Estado de S.Paulo.
O Brasil tem se destacado negativamente na pandemia, sobretudo pela resistência do atual presidente em reconhecer a gravidade da situação. O NUJOC já fez várias checagens envolvendo a disseminação de desinformação por parte do jornalista Alexandre Garcia. Confira aqui.