Dr. Rey afirma que foi curado da Covid-19 fazendo caminhadas
O cirurgião plástico também diz que usou ivermectina e hidroxicloroquina em seu tratamento
O médico cirurgião plástico Roberto Miguel Rey Júnior, conhecido como Dr. Rey, afirmou, em entrevista à Rede TV!, que se curou da Covid-19 fazendo exercício de caminhada. A declaração foi enviada para nossa equipe pelo aplicativo Eu Fiscalizo, da Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz. O vídeo com a entrevista pode ser acessado aqui.
O trecho do vídeo começa com o médico respondendo à entrevistadora sobre se pegou a Covid-19: “Peguei, eu peguei variante. Então, sendo cirurgião, eu sabia que ia morrer, porque eu sou asmático. Várias vezes na Ilhabela quando pequeninho eu simplesmente desmaiava no ferry boat. Parava de respirar e caía no ferro do ferry boat, na Ilhabela. Então eu tenho asma supersevera, eu sabia que eu ia morrer. E quantas vezes […] pegava o telefone e chamava ambulância sabendo que seria o fim da minha vida se a ambulância chegasse”.
Em seguida, Dr. Rey afirma que se curou da Covid por meio de caminhadas, que estimulariam o pulmão, mediante a produção do hormônio irisina: “Então, gente, o dia que eu comecei a espirrar, eu sabia que eu tinha o Covid. Eu comecei a caminhar, eu forcei o meu pulmão a expandir. Porque irisina […], ela bloqueia a entrada do vírus na sua célula. Você notou que quando você tá super… fazendo seus exercícios, você não fica doente?”.
A afirmação de que a Covid pode ser curada mediante caminhadas não é verdade. Também não é verdade que os exercícios físicos possam curar a doença, embora um corpo saudável e uma mente em equilíbrio sejam naturalmente mais resistentes a doenças. Sobre o potencial do hormônio irisina para o tratamento da Covid-19, há estudos preliminares que indicam resultados positivos, como relata esta matéria aqui, mas os dados não são conclusivos.
A fala de Dr. Rey pode induzir pacientes acometidos pelo coronavírus a tentaram se curar por conta própria, praticando exercícios em casa, o que pode levar à deterioração do quadro de saúde. A recomendação das autoridades é procurar os serviços de saúde aos primeiros sintomas, para testagem e tratamento a ser indicado por profissional médico.
“Sou formado em Harvard” – Dr. Rey também diz que se curou usando medicamentos como ivermectina e hidroxicloroquina. Neste momento da fala, ele usa o argumento de autoridade, mencionando a universidade de Harvard, para reforçar sua declaração: “Então eu também tomei ivermectina. Eu sou formado em Harvard. Eu não tô preocupado com a política boba. Eu tomei ivermectina, eu tomei o zinco, tomei hidroxicloroquina e eu comecei caminhar, caminhar, caminhar. E sarei, gente. Hoje estou mais magro, mais forte”.
A afirmação do médico implica sugerir que os medicamentos citados funcionam para combater a Covid-19, mas isso não é verdade. Não há comprovação de eficácia da ivermectina, do zinco e da hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19, apesar da insistência do governo federal em recomendar o chamado “kit Covid”. Esta matéria aqui esclarece por que o kit Covid não funciona. Nesse ponto, a fala de Dr. Rey também pode resultar em agravamento do quadro de saúde das pessoas infectadas, pois, além de não ter eficácia comprovada, os medicamentos do “kit Covid” podem contribuir para deteriorar a saúde dos pacientes de Covid-19. Na página da Wikipédia dedicada a ele, você pode conferir a formação e o histórico de vida do Dr. Rey.
Autoridade médica em xeque – A crise sanitária do novo coronavírus deu origem a muita discussão sobre a autoridade médica e sua relação com a divulgação científica. Desde o início da pandemia, a desinformação sobre a Covid-19 aumentou de forma dramática, e muitas vezes foi impulsionada pelos próprios profissionais da área da saúde. Esta matéria aqui, da agência de checagem Aos Fatos, mostra o poder de disseminação de fake news pelos médicos brasileiros no Youtube.
Uma dica para não cair em desinformação da área médica é analisar o histórico e o currículo do profissional a sua frente. Médicos infectologistas e epidemiologistas, e não cirurgiões plásticos, são os que têm mais conhecimento sobre doenças infecciosas como a causada pelo novo coronavírus. Os conselhos de classe devem ser acionados para investigar e eventualmente punir os médicos que se desviam dos padrões éticos que precisam ser observados no exercício da profissão. Acesse aqui para saber mais.