É FALSO: Áudio de suposto médico espalha desinformação sobre as vacinas
A mensagem, que está circulando pelo WhatsApp, também recomenda tratamento sem eficácia contra a Covid-19
As vacinas não funcionam e podem modificar o código genético humano. Elas foram feitas a toque de caixa e seus efeitos são imprevisíveis. A ivermectina, o sol e o zinco são eficazes contra o novo coronavírus. Essas informações, que já foram desmentidas diversas vezes por sites de checagem, estão circulando novamente, agora sob a forma de uma mensagem de áudio, pelo WhatsApp e Facebook. A mensagem foi enviada para checagem pelo aplicativo Eu Fiscalizo, da Fundação Oswaldo Cruz.
O narrador se autointitula médico: Dr. Robert – ou Roberto – Klaus, virologista do hospital Albert “Stein”, de São Paulo. Pesquisa no Google desmente que exista um médico chamado Robert ou Roberto Klaus. Também não existe um hospital Albert Stein em São Paulo, mas sim o hospital Albert Einstein. E, finalmente, não há uma especialidade médica intitulada virologia, que é um ramo da Biologia. Os médicos especializados em doenças como a Covid-19 são infectologistas.
Inconsistências – O áudio do suposto médico tem inconsistências na identificação que fazem disparar o alerta de fake news. E o conteúdo só confirma que é tudo falso. Dr. Klaus começa dizendo estar preocupado com a população: “Sinto que a população está perdida nas informações. Eu entendo que quem não é médico pode às vezes confundir a informação ou não pesar a importância delas”.
Ele relata o caso de um senhor que teria tomado as duas doses da Coronavac e, após fazer testagem no “Instituto Fleury”, constatar que não havia desenvolvido anticorpos contra a Covid-19: “Isso foi uma surpresa para ele, lógico. Não é surpresa para nós, médicos, que sabemos que a vacina da Coronavac tem uma baixíssima eficiência. A eficiência da Coronavac é a pior vacina que surgiu da Covid nesses tempos atuais. Ela tem uma eficiência de 50,38%. Metade das pessoas que tomarem a vacina da Coronavac não vão fabricar nenhum tipo de proteção. Ela não deveria nem ter sido aprovada pela Anvisa, mas foi”.
A informação sobre a baixa eficácia da Coronavac é falsa, como explica esta checagem do site Boatos.org: “A informação, claro, é absurda. Na realidade, o número de 50,38% diz respeito a uma avaliação de todas as pessoas que contraíram a doença nos dois grupos (imunizados e placebo) analisados durante os estudos da vacina. Dessa forma, ao analisar os 252 casos de pessoas que acabaram adoecendo durante os estudos (com qualquer gravidade da doença), os pesquisadores puderam comprovar que a vacina Coronavac é 50,38% eficaz para prevenir a doença. E caso uma pessoa imunizada desenvolva a doença, provavelmente vai apresentar sintomas leves e não vai morrer”.
“Dr. Klaus” revela antipatia pelo governador do estado de São Paulo, João Doria: “Essa é a vacina da Coronavac, do seu João Doria, que taí, no mercado, que ele lançou, né, e todo o mundo foi atrás”. O suposto médico também afirma que as vacinas são experimentais e só o tempo vai estabelecer a eficácia delas. Todas elas seriam “perigosíssimas”, pois modificariam o código genético humano.
Essas afirmações já foram desmentidas diversas vezes por sites de checagem. O tempo de produção acelerado das vacinas foi possível pelo esforço conjunto e o avanço tecnológico mundial, e todas elas têm de observar rigorosos padrões de qualidade para serem aprovadas. E não, as vacinas não alteram o código genético. O que elas fazem é estimular a produção de anticorpos simulando o ataque do vírus. Uma explicação completa você pode conferir aqui.
Na parte final do áudio que tem cerca de sete minutos, o falso médico passa a recomendar medidas de tratamento precoce, incluindo a ivermectina, a exposição ao sol para produzir vitamina D e a ingestão de zinco. Nada disso funciona para prevenir ou tratar a Covid-19. As medidas eficazes são já bastante conhecidas – e simples: lavar as mãos, usar máscaras e evitar aglomerações.
Vozeirão – Com jeito bonachão de locutor de auditório, Dr. Klaus conclama os ouvintes: “Pessoal, vamos lá, pessoal, parem de ouvir a mídia, comecem a ouvir os médicos do tratamento precoce, conversem com médicos que estão há quinze meses lutando e ajudando as pessoas a não morrerem”.
Chama a atenção no áudio do falso médico a voz empostada do locutor. Tal como uma notícia cheia de frases de efeito, para conquistar os cliques dos internautas, o conteúdo e a forma do áudio indicam que ele foi produzido para disseminar desinformação, de maneira deliberada, usando os recursos retóricos das mensagens de áudio para seduzir os ouvintes. Mas não se engane, leitor: o falso médico não faz mais do que requentar uma série de fake news que já circularam bastante desde o início da pandemia. A agência Lupa também fez hoje a checagem desse mesmo áudio. Confira aqui.