É falso estudo que afirma que nanopartículas de mRNA foram encontradas no organismo de vacinados causando infertilidade
Mais uma desinformação no tocante a vacinação contra a Covid-19 tem colocado em risco a credibilidade da vacina que tem salvado vidas e até o momento, é o tratamento mais indicado para o novo coronavírus.
A equipe do Nujoc Checagem, por meio do aplicativo Eu Fiscalizo da Fiocruz (disponível para Android e iOS), teve acesso a uma matéria publicada pelo site Estudos Nacionais que cita que japoneses, através de estudos, teriam encontrado nanopartículas de mRNA no cérebro, coração, fígado, ovários, testículos e outras partes de vacinados.
A pesquisa intitulada “Pfizer Confidencial”, conduzida no Japão, mostra que nanopartículas lipídicas (LNPs) contendo o código do mRNA foram encontradas amplamente no corpo de ratos após a vacinação. Segundo o estudo conhecido como estudo de bio-distribuição, que usa enzimas “luciferase” e marcadores de radioisótopos para rastrear com precisão a distribuição dos LNPs de mRNA da Pfizer no corpo dos animais após a aplicação da vacina, o experimento foi feito somente em ratos de laboratório justamente pela sua semelhança fisiológica com humanos.
A pesquisa revela ainda que os LNPs de mRNA são distribuídos por todo o corpo, afetando ovários e testículos, levantando preocupações sobre fertilidade em quem recebe vacinas de mRNA como a da Pfizer e a Moderna. Segundo o estudo, Dr. Byram W. Bridle, médico veterinário pró-vacina, em entrevista para o podcast “On Point”, afirma que um grande erro foi cometido. “Resumindo, a conclusão é que cometemos um grande erro. Vimos que a proteína spike era um ótimo antígeno-alvo. Não consideramos que a proteína spike, em si mesma, era uma toxina e uma proteína patogênica. Assim, ao vacinar as pessoas, estamos inadvertidamente inoculando-as com uma toxina e, em algumas pessoas, isso entrará na circulação. Quando isso acontece em algumas pessoas, pode causar danos, principalmente no sistema cardiovascular. Não temos tempo, mas há muitas outras questões vitais sobre a segurança a longo prazo desta vacina. Por exemplo, com o acúmulo nos ovários. Uma das minhas perguntas é: vamos tornar os jovens inférteis? Alguns deles inférteis? Então, vou parar por aí”, disse ele.
Com informações da Agência Lupa e de outros portais, a equipe do Nujoc Checagem após verificar os fatos, constatou que o estudo em questão é falso, ou seja, a vacina da Pfizer não causa acúmulo de nanopartículas de mRNA no organismo, nem causa infertilidade.
Segundo a Agência Lupa, o suposto “relatório secreto” que na verdade está disponível publicamente no site do governo japonês, é um estudo pré-clínico que descreve o trajeto que um componente da vacina da Pfizer percorre no corpo de ratos de laboratório. Os dados apresentados não sugerem qualquer anomalia, e os pesquisadores concluíram que elementos da vacina são eliminados pelo metabolismo ou por excreção fecal.
Como parte dos estudos para o desenvolvimento da vacina, pesquisadores da Pfizer avaliaram o trajeto feito por essas nanopartículas lipídicas, que servem apenas para proteger o mRNA, no corpo de ratos, em relatório que atualmente está disponível no site da Pharmaceuticals and Medical Devices Agency (PMDA), órgão japonês equivalente à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Nesse estudo, foi apresentada uma tabela que mostra a concentração das nanopartículas lipídicas em órgãos do corpo e em diferentes momentos após a aplicação, indo de 15 minutos a 48 horas. Foram encontradas concentrações desses “envelopes” de gordura em diversas regiões do organismo, mas quase sempre em quantidade inferior a 1 micrograma (o equivalente a 0,000001 grama) para cada grama. Após 48 horas, foi detectada uma concentração de 165 microgramas no local de injeção e quantidades superiores a 10 microgramas no fígado, no baço, nas glândulas suprarrenais e, no caso de fêmeas, nos ovários.
Com base nessa tabela, o site afirma que a concentração das nanopartículas nos ovários levanta “preocupações sobre fertilidade em quem recebe vacinas de mRNA, como a da Pfizer e a Moderna”. Para a professora da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Teresa Dalla Costa, no entanto, não é possível fazer essa interpretação com base nas informações apresentadas. “Esses dados são ‘brutos’ e não há nenhuma referência sobre valores-alvo. Isolada, essa tabela não diz muito”, explica. Ainda de acordo com ela, os dados deveriam estar contextualizados dentro de um relatório para serem analisados devidamente. O relatório da Pfizer, por sua vez, conclui que as substâncias foram posteriormente eliminadas por meio do metabolismo ou da excreção fecal.
A Pfizer, por sua vez, se manifestou por meio de uma nota afirmando que não há “pedaços do vírus ou toxinas” presentes em seu imunizante. Além disso, ela declarou também que não houve qualquer evidência de achados macroscópicos ou microscópicos nos ovários após a vacinação, nem de eventual interferência na fertilidade constatada em suas pesquisas, “que foram avaliadas pelas diferentes agências regulatórias no mundo”.
Além do estudo, a fala do médico veterinário Byram W. Bridle também é falsa. Em entrevista a um podcast canadense, ele cita que a proteína spike é patogênica, uma toxina que pode causar danos em nosso corpo se entrar em nossa circulação. Para aprofundar os ataques aos imunizantes contra a Covid-19, o site Estudos Nacionais, que repercute os estudos feitos por Japoneses, mistura a pesquisa com a fala de Byram, professor nos Estados Unidos.
A fala de Bridle, por sua vez, foi rebatida por especialistas e não possui qualquer relação com o relatório geral ao qual o texto publicado no sites se refere. “A proteína Spike é uma glicoproteína utilizada pelo vírus para diversas funções, entre elas a ligação ao receptor ACE-2 humano, por exemplo. Não há evidências de que essa proteína apresente toxicidade por si só”, afirmou Mellanie Fontes-Dutra, biomédica, pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e divulgadora científica pela Rede Análise COVID-19.
De acordo com a Agência Lupa e segundo a biomédica, também não há evidências de que a proteína Spike esteja relacionada a casos de trombocitopenia trombótica imune induzida pela vacina (TTIIV), que ocorre quando o paciente desenvolve baixa contagem de plaquetas e pequenos coágulos sanguíneos depois de tomar vacina. “Todas as análises de mecanismos feitas até o presente momento não apontaram a Spike como um agente causador desse fenômeno. Segundo levantamento do portal Pebmed, [a TTIIV] é algo extremamente raro — 269 casos de trombose descritos após 34 milhões de doses aplicadas da vacina. Se fosse algum mecanismo ligado à Spike, a incidência seria extremamente mais elevada”, disse Mellanie.
Até o presente momento, não há nenhum estudo que comprove a ineficiência da vacina ou que ateste que a mesma causa risco àqueles que a tomam. Ao contrário dos protocolos de prevenção, a vacina tem salvado vidas e tem sido a maneira mais eficaz de evitar a Covid-19. Por isso, se quando chegar à sua vez, vacine-se.