É falso que vacina contra Covid-19 tenha RNA controlado por tecnologia 5G
Veja este e outros boatos compartilhados em áudio de WhatsApp
Circula no WhatsApp o áudio de uma pessoa que se identifica como Tânia, da cidade de Teresina (PI), no qual a interlocutora faz uma série de afirmações e recomendações ao ouvinte. O Nujoc Checagem verificou e traz a checagem do áudio, ponto a ponto. Confira:
“Oscar Chiappano, aquele juiz internacional, tá falando que não é pra ninguém, mas é ninguém, tomar vacina contra o Covid, porque essa vacina tem o RNA, um RNA aí que é o seguinte: que onde tem a internet 5G, você toma a vacina, você fica ótimo. Na hora que eles desligarem o 5G, você ó, puff, cai e morre. Entendeu? Não é brincadeira, gente. Quem está falando é dona Tânia, de Teresina, Piauí”
A fala de Tania relacionando a vacina ao 5G é uma versão de uma outra publicação que foi bastante compartilhada no Facebook, a qual afirmava que “a vacina “chinesa” contém RNA replicável digitalizável, ou seja para controlar a humanidade através das ondas que vai emitir as antenas 5G. você faz assina pensa que está curado E quando eles ativar em si cai duro sem saber porquê”. À Agência Lupa, a professora Kalinka Castelo Branco, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, explicou que não é possível controlar seres humanos através de microchips usando a tecnologia 5G
O movimento antivacina, também chamado “anti-vax”, tem preocupado autoridades de saúde em todo mundo, a exemplo da própria Organização Mundial da Saúde (OMS). Com a pandemia de coronavírus o quadro se torna ainda mais preocupante. Para atingirmos a chamada imunidade de rebanho, a vacina é a via mais segura, confiável e ética.
Entretanto, uma quantidade considerável de pessoas tem rechaçado a ideia de receber a imunização contra o coronavírus. Na França, por exemplo, 26% da população entrevistada, acima dos 18 anos, afirma não ter interesse em tomar a vacina, segundo aponta estudo publicado na revista The Lancet. O estudo levanta, entre outras questões, a queda na confiança nas vacinas e a politização da medida. No caso do Brasil, há muito preconceito contra a “vacina da China”, mesmo tipo de raciocínio que chama o coronavírus de “vírus chinês”.
A pesquisa da antropóloga e diretora fundadora do Vaccine Confidence Project, Heidi Larson, também joga luz sobre essa questão. O estudo mostra como os rumores viajam rápido em um mundo hiperconectado, conforme ela explica neste TED Talk.
“Um cientista político, um colega com quem trabalhamos [na pesquisa], Jon Kennedy, coletou os dados de 28 países europeus, os observou e os correlacionou com as sondagens de opiniões políticas. E o que ele descobriu? Que pessoas com maior probabilidade de votar em um partido populista também eram as com maior probabilidade de discordar veementemente de que as vacinas são importantes, seguras ou eficientes. O que nós aprendemos? As vacinas não conseguem escapar das turbulências sociais e políticas que as cercam. Os cientistas não estavam preparados para esse tsunami de dúvidas, questionamentos e falta de confiança”, assinala.
O estudo sugere que há quatro motivos principais para a resistência às vacinas. São eles: 1) mediação governamental para a implementação de programas de imunização, governos esses com baixa credibilidade entre a opinião pública; 2) a linguagem científica é distante do cotidiano da maior parte da população; 3) liberdade de dividir opiniões em um mundo hiperconectado; 4) a vacina interfere nas vidas das pessoas em todo o planeta.
“Aquele Doria em São Paulo, ele trouxe a vacina pra cá pro Brasil e a coisa é feia! Talvez o Exército vá até intervir nesse negócio dessas vacinas bem aí, porque o negócio é sério”
Não existe evidências até o momento de que o Exército Brasileiro irá intervir nesta questão. O governador de São Paulo, João Doria, realizou uma parceria com o laboratório chinês Sinovac, por meio do Instituto Butantan, para a realização de testes (já iniciados) e possível produção de uma vacina caso os testes aprovem o composto.
“Estão botando nas portas dos bancos aquele aparelhozinho que mede a temperatura da sua cabeça, pra saber se você está com febre, pra você poder entrar entrar. Hoje eu fui entrar na Caixa Econômica e não entrei. O cara veio com aquele negócio. Eu digo: ‘você vai apontar esse negócio pra minha cara, eu lhe derrubo, eu passo-lhe uma rasteira e lhe derribo’ (sic). [Imitando o funcionário:] “Não senhora, aqui é só pra tirar a temperatura”. Eu digo assim: ‘o senhor é um idiota, porque o gerente não veio fazer isso bem aí? Botar esse negócio na testa do povo? Porque ele sabe que vai pegar irradiação (sic), essa irradiação aí é pra matar as pessoas, pra acabar com o neurônio das pessoas. Eu não… Pra mim, se você apontar aqui, eu lhe derrubo aqui e ainda lhe mato aqui, lhe enforco aqui’. Ele disse: ‘não, senhora’. Eu digo: ‘pois é, se só entrar dentro da Caixa Econômica for com esse negócio aí, eu não entro’. E aí quem tava do lado de fora, ninguém entrou, ninguém quis entrar. Eu digo: ‘vocês quiserem morrer, deixa eles apontarem esse negócio aí pra cabeça de vocês. Isso aí, isso aí é um raio laser, que acaba com os seus neurônios, que quando você sai da fila bem aqui, você vai bem prali (sic), você não sabe nem o que está se passando com você. Aí dizem que é só um termômetro… Só um termômetro é uma pinóia'”
Não há evidências de que esse tipo de termômetro cause qualquer dano ao cérebro ou que tampouco produza radiação.
“A China tá aqui dentro querendo matar todo mundo. Esses vagabundo chinês (sic) que tão aqui mandando com esse Foro de São Paulo. A gente tem é que pegar esses chinês tudim, aonde aparecer um, fazer o que tem que fazer, entendeu?”
Mais uma mostra da politização do debate acerca do coronavírus, permeado por um discurso xenofóbico, sugerindo o extermínio dessa população. Assim como as demais falas de Tânia, é falso que a China tenha algum plano para matar a população brasileira ou de qualquer outro país com o coronavírus ou uma de suas vacinas.