É verdade: EUA pedem mais investigações sobre a origem do novo coronavírus

 É verdade: EUA pedem mais investigações sobre a origem do novo coronavírus

Notícia sobre hospitalização de cientistas chineses em novembro de 2019 reacendeu o debate sobre possível origem em laboratório

Pesquisadores do instituto de virologia de Wuhan adoeceram em novembro de 2019, segundo relatório da inteligência americana. A cidade é o local onde foram detectados os primeiros casos de infecção pelo novo coronavírus. A informação, levada ao ar pela CNN Brasil, foi compartilhada no Twitter do deputado estadual Bruno Engler (PRTB-MG), com a mensagem: “Você acredita que esse vírus que derrubou todas as economias (menos a chinesa) teria surgido do nada?”. A informação foi enviada à equipe do NUJOC pelo aplicativo Eu Fiscalizo, da Fundação Oswaldo Cruz, e pode ser acessada neste link.

A notícia sobre o pedido de investigações feito pelo governo americano é verdadeira, mas há ressalvas a fazer quanto a suas consequências para o debate acerca da origem do novo coronavírus.

A matéria, de pouco mais de dois minutos, baseia-se em relatório do serviço de inteligência americano, segundo o qual virologistas da cidade de Wuhan teriam adoecido em novembro de 2019, um mês antes do primeiro caso do novo coronavírus. O portal de notícias UOL também publicou matéria sobre o assunto, como você pode conferir aqui. Isso não quer dizer que já se tenha certeza sobre qual a origem do vírus, muito menos que ele foi criado intencionalmente em laboratório pelo governo chinês.

Em março deste ano, um relatório da Organização Mundial da Saúde – OMS concluiu que a origem do Sars-Cov-2 era provavelmente pela transmissão do vírus de um animal para um humano. Também afirmava que a hipótese de criação em laboratório era a mais improvável. Confira os detalhes nesta matéria do UOL.

Sobre o pedido feito pelo presidente americano, Joe Biden, ele se baseia em relatório do serviço de inteligência, feito na gestão do ex-presidente Donald Trump. Não há detalhes sobre o adoecimento dos cientistas, como o tipo de sintomas e o diagnóstico da doença, mas os rumores bastaram para reacender a hipótese da origem em laboratório do novo coronavírus. A declaração do deputado Bruno Engler sugere que a China produziu o vírus intencionalmente, para aumentar seu domínio na geopolítica mundial.

Não há prova de que a China produziu o Sars-Cov-2 em laboratório. Cientistas têm insistido sobre a muito provável origem natural do novo coronavírus. Também não é verdade que o gigante asiático não sofreu impactos econômicos decorrentes da pandemia. Todos os países foram afetados pelas medidas restritivas adotadas, a China incluída, cujo PIB ficou positivo em 2,3%. “Apesar do dado positivo, que mostra um retorno de fato ao patamar pré-crise, o crescimento chinês é o mais baixo desde 1976, quando houve contração quase na mesma magnitude”, diz esta matéria da Folha de S.Paulo.

Twitter do deputado Bruno Engler: especulações sobre a origem do vírus. Imagem: Captura de tela/WhatsApp

Queda de braço – Embora não haja uma resposta definitiva sobre a origem do novo coronavírus, a briga pela supremacia mundial travada por EUA e China tem contribuído para distorcer os fatos e envenenar o debate sobre as questões científicas. O ex-presidente Donald Trump, com seu estilo agressivo – chamava o novo coronavírus de “vírus chinês” e sempre acusou a China de ter criado o vírus intencionalmente –, acirrou essa disputa. De seu lado, a postura hostil da China quanto à transparência dos dados tem dificultado o escrutínio público sobre as origens do novo coronavírus, o que serve para alimentar teorias conspiratórias de todos os tipos.

Insatisfeito com os resultados das investigações conduzidas até o momento, o governo Biden quer uma investigação independente, que responda à questão sobre a origem do vírus. Conforme esta matéria aqui, da Folha de S.Paulo, a certeza quanto à origem do coronavírus pode ser decisiva para enfrentar outros vírus semelhantes: “Xavier Becerra, o secretário de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, disse em uma reunião anual da OMS na terça (25) que se preparar para a próxima pandemia exige um estudo mais completo das origens desta”.

Ainda conforme Becerra, a fase 2 do estudo das origens da Covid “deve ser lançada com termos de referência que sejam transparentes, baseados na ciência, e deem a especialistas internacionais a independência para avaliar plenamente a fonte do vírus e os primeiros dias do surto”.

A China nega as informações do relatório da inteligência americana, qualificando-o como uma “mentira completa dos Estados Unidos”, e mantém a versão de que o novo coronavírus surgiu naturalmente. A OMS, no relatório produzido por especialistas em março, mantém posição de que a origem do vírus se deu provavelmente pelo contato de humanos com animais.

Sobre a origem do vírus, portanto, ainda não há certeza absoluta, e é preciso insistir para que os países cooperem com as investigações. Os casos de pesquisadores doentes na cidade chinesa de Wuham, epicentro da doença no início da pandemia, precisam ser esclarecidos de forma transparente para que a verdade prevaleça. O NUJOC já fez outras checagens sobre as origens do novo coronavírus, como você pode conferir aqui.

Equipe NUJOC

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