Estudo americano não é suficiente para comprovar a eficácia da hidroxicloroquina e da azitromicina em pacientes hospitalizados com COVID-19
O Nujoc checagem recebeu, por meio de um seguidor no instagram, o link de um estudo publicado no site “International Journal of Infectious Diseases” (Revista Internacional de Doenças Infecciosas) sobre o tratamento com hidroxicloroquina e azitromicina em pacientes hospitalizados com COVID-19.
O estudo, afirma que o uso isolado de hidroxicloroquina e em combinação com azitromicina foi associado a uma redução significativa da mortalidade hospitalar em comparação com o não recebimento da droga.
O site, cujo estudo foi publicado é um periódico de acesso aberto, onde são divulgadas pesquisas clínicas e laboratoriais, juntamente com relatórios de ensaios clínicos, revisões e alguns relatos de casos que tratam da epidemiologia, diagnóstico clínico, tratamento e controle de doenças infecciosas.
A pesquisa, que foi realizada por membros do Sistema de Saúde Henry Ford, em 2.541 pacientes, revelou que 26% do grupo que não recebeu o tratamento veio a óbito. Já o grupo que utilizou a droga teve taxa de mortalidade de 13%.
De acordo com a pesquisa, as taxas gerais de mortalidade bruta foram de 18,1%. Um grupo que somente foi tratado com hidroxicloroquina teve 13,5%, enquanto os que receberam hidroxicloroquina mais azitromicina teve 20,1%. Pacientes que utilizaram apenas azitromicina registraram 22,4% de óbitos e o grupo em qual não fora aplicado nenhum medicamento, 26,4%.
Entretanto, um estudo recente promovido por instituições participantes da Coalizão Covid-19 Brasil e pela “EMS Pharma”, publicado no dia 23 de junho de 2020, no periódico “New England Journal of Medicine”, concluiu que o uso de hidroxicloroquina e azitromicina não promoveram melhorias na evolução clínica dos pacientes com quadros leves ou moderados da COVID-19, quando hospitalizados.
Os pesquisadores conduziram um ensaio clínico randomizado de 15 dias com três grupos envolvendo um total de 667 pacientes. “Entre os pacientes hospitalizados com Covid-19 leve a moderado, o uso de hidroxicloroquina, sozinho ou com azitromicina, não melhorou o estado clínico em 15 dias, em comparação com o tratamento padrão”, explica os pesquisadores.
Outra alegação encontrada no estudo realizado por membros do Sistema de Saúde Henry Ford se refere ao método científico utilizado na pesquisa: estudo observacional retrospectivo multicêntrico.
Os estudos observacionais são quando indivíduos da amostra não foram designados aos grupos por processo aleatório, mas já estavam classificados nos respectivos grupos no início da pesquisa (não é experimento).
Em entrevista concedida ao site UOL, o membro da diretoria do Instituto Questão de Ciência, Carlos Orsi, explica que “estudos observacionais são logicamente incapazes de provar qualquer coisa. Eles apenas sugerem associações (no caso, entre hidroxicloroquina e menor mortalidade) que depois precisam ser validadas em estudos de intervenção, onde os tratamentos são devidamente controlados”.
Um Relatório de Estatística publicado pela UNICAMP aponta alguns problemas encontrados nos estudos observacionais: não consegue mensurar com exatidão a taxa de erro; não tem grupo controle certo; difícil de manuseá-lo, há fatores de confundimento e não tem um controle sobre o experimento.
Além disso, outro esclarecimento prestado por Carlos Orsi foi em relação ao grupo de pacientes analisados pelos pesquisadores do Sistema de Saúde Henry Ford, segundo ele uma das tabelas apresentadas no estudo informa que apenas 38% dos pacientes do grupo que não receberam hidroxicloroquina ou azitromicina tinham menos de 65 anos, enquanto a taxa de pacientes mais jovens medicados nos outros grupos, era superior a 50%.
“A comparação não é justa, é impossível atribuir o progressos dos pacientes que receberam hidroxicloroquina à medicação, já que eles eram mais jovens, estavam recebendo também outros remédios. Os autores do estudo tentam corrigir essas distorções aplicando técnicas estatísticas para estimar o peso relativo de cada fator (como a idade), mas estatísticas não fazem milagres”, afirmou Carlos Orsi, segundo reportado pelo site UOL.
Portanto, o estudo mais recente, concluiu na sua primeira pesquisa, chamada Coalizão I, que uso de hidroxicloroquina, sozinho ou com azitromicina, não melhorou o estado clínico de pacientes com COVID-19.