Estudo explosivo afirma provar que cientistas chineses criaram a COVID-19?
Circula nas redes sociais um post do deputado federal Paulo Eduardo Martins (PSC-PR) sobre um estudo que revela a origem da COVID-19 como processo de criação dos cientistas da China. No post, a seguinte afirmação “Estudo explosivo afirma provar que chineses criaram COVID” é atribuída a matéria veiculada no site estadunidense The New York Post de forma a certificar a alegação do parlamentar. A publicação do deputado foi encaminhada até nossa equipe por meio do aplicativo Eu Fiscalizo da Fiocruz (Disponível para Android e IOS).
Com informações das agências de checagem britânica e norueguesa, Full Fact e Faktisk, respectivamente, as informações são falsas. O artigo de autoria do professor britânico Angus Dalgleish e o cientista norueguês Dr. Birger Sørensen traça uma discussão de como surgiu o novo coronavírus. O estudo diz que este é um primeiro passo importante porque suposições equivocadas sobre a origem da SARS-CoV-2 podem criar vacinas ineficazes ou ativamente prejudiciais.
Na sequência, os autores pontuam sobre secções inseridas na proteína spike do vírus, explicando o modo em que o vírus se liga às células humanas. O artigo em sua forma atual publicada e revisada por pares não diz que isso não poderia ter ocorrido naturalmente.
Vale destacar que o trabalho saiu no Quarterly Review of Biophysics Discovery. Confira a publicação aqui.
A professora Anne Spurkland, uma imunologista da Universidade de Oslo que não foi a autora do artigo, disse à NRK, a emissora estatal norueguesa, que isso não é evidência de que o vírus foi feito pelo homem. Outro pesquisador da área consultado, Gunnveig Grødeland, que também não estava envolvido no artigo, afirmou à emissora NRK que essas sequências podem ocorrer quando um vírus sofre mutação e são encontradas em outros vírus, incluindo HIV e outros coronavírus.
De acordo com a Agência Faktisk, Birger Sørensen concedeu entrevista alegando que a as afirmações de que o coronavírus é artificial não fazem parte do referido artigo.
Origens da COVID-19 – A microbiologista Giliane Trindade, da UFMG, explica ao Estadão Verifica que as principais evidências indicam a origem natural do novo coronavírus, mas a linhagem exata do microorganismo ainda é incerta. Isso acontece porque a ciência ainda não foi capaz de identificar o “paciente zero” ou a população de animais específica que poderia carregar o vírus ancestral com o mesmo genoma do SARS-CoV-2.
Cientistas do mundo inteiro pesquisam o sequenciamento do genoma do SARS-CoV-2 e analisam as semelhanças e diferenças com as estruturas de vírus que já foram mapeados anteriormente. Foi assim que um grupo de cientistas de universidades dos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália observou que o novo coronavírus não era muito semelhante a vírus que infectam humanos, mas apresentava até 96% de similaridade com o coronavírus de morcegos RatG13.
A descoberta é um dos indícios que torna a hipótese de fabricação artificial do novo coronavírus bastante improvável. Segundo os pesquisadores, se o vírus fosse projetado em laboratório, sua estrutura seria parecida com a de outros organismos com potencial de infectar humanos.
“Os autores são categóricos ao afirmar que não encontraram indícios de manipulação genética do novo coronavírus”, destaca Giliane. “São pesquisadores renomados, com muita experiência na área, que publicam em revistas de prestígio”.
A revista National Geographic, em abril de 2021, aborda um relatório conduzido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em que pesquisadores internacionais viajaram à China para investigar quatro possíveis hipóteses para o surto inicial do Sars-CoV-2.
No relatório, a equipe concluiu que o vírus provavelmente se deslocou de um animal a outro antes de chegar a nós. Também foram estudadas evidências que fundamentam teorias de que o Sars-CoV-2 teria se deslocado à população humana de forma direta, saindo de um animal hospedeiro original, ou que teria sido transportado pela cadeia de abastecimento de alimentos congelados e refrigerados.