Evidências científicas garantem a eficácia das máscaras, ao contrário do que afirma o Instituto Rothbard
Recebemos, por meio de parceria com o aplicativo Eu Fiscalizo da Fiocruz (disponível para Android e iOS), uma mensagem que circula acerca de publicação do Instituto Rothbard sobre o uso de máscaras durante a pandemia do novo coronavírus. O post intitulado “Pelo direito básico de respirar: a tirania (anticientífica) das máscaras tem que acabar” indica uma série de apontamentos que questionam a eficácia do uso das máscaras, seja cirúrgica, seja de tecido, independente do modelo
A publicação traz afirmações, como por exemplo as máscaras terem a capacidade de reduzir a entrada de oxigênio, levando à toxicidade do dióxido de carbono, além de pontuar que os germes ficam presos perto da boca aumentando o risco de infecção. Fica claro, que as intenções do post seguem em via oposta às recomendações defendidas pelas instituições sanitárias e pela Organização Mundial de Saúde.
O conteúdo elencado no texto é, portanto, falso. Conforme já mencionado, as alegações de não existir evidências capazes de provar a eficiência da proteção facial ou que seu uso pode causar intoxicação e aumentar o risco de contaminação pelo novo coronavírus e outros vírus e bactérias não dispõem de sustentação argumentativa científica.
Com informações do projeto Comprova, que entrou em contato com o Instituto Rothbard, a equipe do site afirmou que o texto não contraria as recomendações dos órgãos de saúde porque comunicados contrários ao uso de máscaras já foram emitidos pelas entidades. O site, no entanto, não leva em conta o contexto em que tais comunicados foram feitos e ignora as mudanças de posicionamento das autoridades.
Ainda de acordo com a equipe do Instituto, as organizações e entidades sanitárias são “órgãos burocráticos que se contrariam a si próprios[sic], o tempo todo. E, de modo algum, eles são nossa referência e deviam ser a referência de qualquer pessoa”.
Acerca da eficácia do uso de máscaras, o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC), por exemplo, indica em seu site 19 artigos publicados em diferentes revistas científicas que atestam a efetividade do uso de máscaras como parte da estratégia para controlar a pandemia. A OMS, por sua vez, conta com uma Divisão Científica que subsidia a elaboração das normas da organização e que produz inúmeras pesquisas na área da saúde pública.
Com informações do jornal da USP, o uso de máscara, além do distanciamento social correspondem em medidas protetivas levantadas por pesquisadores e instituições médicas. De acordo com Chao Lung Wen, chefe da Disciplina de Telemedicina da Faculdade de Medicina da USP, as recomendações para o combate do novo coronavírus são: se vai fazer atividade fora de casa, usar máscara, respeitar o distanciamento, fazer higienização das mãos e ter cuidados ao tossir.
Em meio à batalha contra um agente de taxas altíssimas de contágio, tão importante quanto utilizar máscaras é utilizá-las corretamente. O professor comenta que, quando passamos a recomendar sua utilização para todos, “estamos admitindo que não conseguimos mais saber quem está transmitindo o vírus”, frisou.
As orientações de manejo são parecidas para máscaras descartáveis e caseiras. Não devemos utilizá-las por mais de três horas seguidas, visto que o acúmulo de umidade propicia não só a entrada do novo coronavírus, mas também de outros agentes infecciosos. A higienização deve ser feita com água sanitária diluída; após 30 minutos mergulhada na solução, deve ser lavada com água e sabão; então, secada no sol, já que o vírus é sensível aos raios UV. Já as descartáveis devem ser isoladas e identificadas, ao serem colocadas no lixo, para que profissionais de limpeza e descarte possam manejar adequadamente.
Em junho, o NUJOC Checagem também publicou a conclusão de um estudo desenvolvido pela The Royal Society Publishing da Inglaterra. O trabalho é mais uma comprovação científica que atesta a eficácia do uso de máscaras aliado à conduta pública de distanciamento social e lock-down como possibilidades de diminuir o índice de contaminação pelo novo coronavírus.
O que diz propriamente a OMS sobre o uso das máscaras? – A OMS passou a recomendar o uso de máscaras pelo público geral a partir do dia 05 de junho. Na entrevista coletiva em que foi realizado o anúncio da mudança na recomendação, o órgão explicou que a decisão veio da conclusão de novos estudos que apontavam a eficiência das máscaras como parte da estratégia para o controle do espraiamento da doença. Na mesma data, a OMS ainda publicou documento que reúne essas conclusões e indica como usar corretamente a proteção facial em diferentes ambientes e situações. O documento expõe 80 referências, que reúnem pesquisas conduzidas pelo próprio órgão e por pesquisadores de centros de pesquisa de diversos países.
No site da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS-OMS), há uma publicação de 09 de junho que aponta a importância do uso de máscara, além do uso por profissionais da área de saúde, pessoas com comorbidades, idosos e público em geral. O texto na íntegra, você pode ver aqui.
As máscaras devem ser usadas como parte de uma estratégia abrangente de medidas para suprimir a transmissão do coronavírus e salvar vidas. O uso somente delas, sem outras ações, é insuficiente para fornecer um nível adequado de proteção contra a COVID-19. Também é importante manter uma distância física mínima de pelo menos 1 metro de outras pessoas, limpar frequentemente as mãos e evitar tocar no rosto e na máscara.
As máscaras cirúrgicas (ou médicas) podem proteger as pessoas que a usam de serem infectadas e impedir que aqueles que apresentam sintomas espalhem o vírus. A OMS recomenda que os seguintes grupos usem máscaras médicas:
• Trabalhadores de saúde
• Qualquer pessoa com sintomas sugestivos de COVID-19, incluindo pessoas com sintomas leves
• Pessoas que cuidam de casos suspeitos ou confirmados de COVID-19 fora das unidades de saúde
Máscaras cirúrgicas também são recomendadas para os seguintes grupos de risco, quando estão em áreas de transmissão generalizada e não podem garantir uma distância de pelo menos 1 metro de outras pessoas:
• Pessoas com 60 anos ou mais
• Pessoas de qualquer idade com comorbidades de base, como doença cardiovascular ou diabetes, doença pulmonar crônica, câncer, doença cerebrovascular e imunossupressão
Já as máscaras de tecido não cirúrgicas estão sendo usadas por muitas pessoas em áreas públicas, mas as evidências sobre sua eficácia são limitadas e a OMS não recomenda seu amplo uso entre o público para o controle da COVID-19. No entanto, para áreas de transmissão generalizada, com capacidade limitada para implementar medidas de controle e especialmente em locais onde o distanciamento físico de pelo menos 1 metro não é possível – como transporte público, lojas ou outros ambientes confinados ou lotados – a OMS aconselha os governos a incentivarem a população em geral a usar máscaras não cirúrgicas de tecido.
A combinação ideal de materiais para máscaras de tecido não-cirúrgicas deve incluir três camadas: 1) uma camada mais interna feita de material hidrofílico (por ex., algodão ou misturas de algodão); 2) uma camada mais externa feita de material hidrofóbico (por ex., polipropileno, poliéster ou misturas desses materiais), para limitar a contaminação externa por penetração até o nariz e a boca do usuário; 3) uma camada intermediária hidrofóbica feita de material sintético não tecido, como polipropileno, ou uma camada de algodão, para melhorar a filtração ou reter gotículas.
Certifique-se de construir ou comprar uma máscara que permita respirar enquanto fala e caminha rapidamente.
Sobre o Instituto Rothbard – Em sua página, o Instituto Rothbard intitula-se como “o epicentro de disseminação da Escola Austríaca de economia e do libertarianismo”. Conforme o site, a Escola Austríaca defende “a proliferação irrestrita de territórios livres e independentes, até que o alcance da jurisdição do estado se esvaeça”. No site também são localizados diversos textos que criticam a atuação dos governos e de organizações supranacionais, como a OMS.
Com informações da checagem do Comprova, o portal agrupa uma série de conteúdos sobre a pandemia que relativizam a gravidade da emergência sanitária e criticam as medidas adotadas para frear seu avanço. Em um dos textos, o portal destaca a manifestação convocada por grupos neonazistas contra o isolamento social, que ocorreu em Berlim no dia 1º de agosto, para afirmar que os “europeus estão acordando para a tirania da covid”.
Em outra situação, o site defende o desembargador que humilhou guardas metropolitanos após levar uma multa por estar sem máscara na cidade de Santos, no litoral paulista. Segundo o portal, que define aqueles que usam máscaras como “paranoicos”, caberia unicamente ao desembargador a decisão de usar ou não a proteção facial. Além disso, o portal traz inúmeras referências aos conteúdos produzidos pela “The Healthy American”, uma associação anti máscaras estadunidense. A associação também se refere às decisões para frear o espraiamento da pandemia como “ tirania” e mantém uma campanha para que lojas abram em horários distintos para atender aqueles clientes que não desejem usar máscaras.