Ivermectina pode impedir a replicação do vírus em seres humanos?
Essa informação é falsa pois ainda não foi possível comprovar sua eficácia devido a ausência de testes laboratoriais realizados em seres humanos.
A corrida de combate contra o novo coronavirus está cada vez mais acirrada tendo em vista o aumento no número de novos casos registrados em todo mundo, e o anúncio das últimas fases de testagem de vacinas anunciadas contra os malefícios causados pelo virus.
Até a finalização dos testes e distribuição em massa de uma vacina, infelizmente, não há nenhum medicamento comprovado cientificamente que mostre eficácia contra as infecções ocasionadas pelo Sars-Cov-2. Entretanto,algumas apostas são feitas tendo como base estudos preliminares,in vitro, executadas apenas em laboratórios, que apontam resultados promissores para algumas drogas, mas que até o momento não tem todas as fases laboratoriais devidamente finalizadas, sem testes em humanos. É o caso da Ivermectina. A equipe do Nujoc Checagem já realizou verificação de notícias relacionadas a ao uso do medicamento, você pode conferir as reportagens aqui, aqui e nesse endereço.
Em um vídeo divulgado com mais de uma hora de duração em um canal no YouTube,um médico e também político do estado do Rio Grande do Norte, durante uma prolixa e demorada live traz diversas informações a respeito do uso do medicamento de maneira profilática no tratamento contra a covid-19. Ele comenta sobre casos bem sucedidos a partir do uso do remédio, que segundo ele,apresentou redução milagrosa nos números de internações e mortes no estado, ele afirma que o protocolo usado para tratar uma família inteira nos primeiros dias de infecção seria tão eficaz a ponto de serem dispensáveis a construção de hospitais de campanha.
No decorrer do vídeo, o médico ainda recomenda algumas receitas caseiras que, supostamente, ajudariam no tratamento contra a covid-19, algumas até seriam capazes de evitar que o vírus se replique nas células de nosso organismo , portanto atenuando o quadro de sintomas. Dentre as receitas, ele recomenda gargarejos com produtos de higiene bucal, limpeza do nariz com soro fisiológico ou com água morna e sal, e o uso de cânfora, que embora seja administrada há muito tempo como tratamento alternativo, não tem nenhuma ação antiviral atestada por estudos. É um planta com potencial descongestionante e analgésico, entretanto,não reduz o risco de infecções, nem evita que os quadros se agravem. Seria muito bom para população mundial poder contar com tratamentos de tão baixo valor de custo, porém não há estudos que comprovem a utilização desses tratamentos como eficazes.
No final de junho deste ano, a da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) divulgou uma nota para alertar sobre os riscos de tratamentos precoces. “Nos últimos dias, muito tem se divulgado nas redes sociais a respeito do uso de medicamentos para a covid-19. Várias destas divulgações que circulam nas mídias sociais são inadequadas, sem evidência científica e desinformam o público”, diz o comunicado.
Ao que tudo indica há perigos evidentes que se somam as consequências da auto medicação sem prescrição médica ou necessidade constatada,podendo levar pacientes a sofrer de efeitos colaterais bastante adversos, mas principalmente evitáveis. Os atuais protocolos adotados nas redes hospitalares de todo país trabalham com o consentimento do paciente ao tomarem as medicações prescritas, assim como prévias informações dos possíveis riscos dos fármacos receitados.
A Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) também posicionou-se contra essas informações sem validações científicas:
“Redes sociais não são textos médicos e, com frequência, transmitem informações infundadas, impulsionadas por interesses obscuros”,
Ainda sobre a nota da SBI, a entidade reforça que:
“Vivemos uma séria crise de saúde pública. Não podemos colocar em risco a saúde da população brasileira com orientações sem evidência científica”, diz nota assinada pelo presidente da SBI, o infectologista Clóvis Arns da Cunha, em parceria com outros membros da entidade.
Colocar a população em perigo devido aos resultados obtidos apenas em laboratórios sem os devidos procedimentos em humanos é um alerta do qual alguns profissionais da saúde tentam trabalhar para melhorar as informações disseminadas em rede que muitas vezes ferem até mesmo o código de ética da medicina.
“Muitos dos medicamentos que demonstraram ação antiviral in vitro não tiveram o mesmo benefício in vivo (em seres humanos). Só estudos clínicos permitirão definir seu benefício e segurança na covid-19”, alerta a SBI.
Para alguns especialistas, a ivermectina ganhou popularidade em virtude do descrédito sofrido pela cloroquina na qual inúmeros estudos apontam para sua ineficácia no tratamento da covid 19. De certa forma a população brasileira se sente um pouco desesperada por não ter artifícios médicos com os quais possam contar caso caso venham a contrair o novo coronavirus.
A própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma nota de retratação sobre o uso da medicação como forma de terapia alternativa à Covid-19, pontuando que o uso adequado do medicamento,bem como suas indicações para tratamento, limitam-se apenas ao que está descrito na bula, deixando claro também que não há estudos em fase avançada que comprovem a eficácia da Ivermectina contra as infecções ocasionadas pelo vírus,porém, ressaltou também que não há estudos que comprovem o contrário.
É importante lembrar que a covid-19 tem uma grande taxa de transmissão porém estudiosos sugerem que sua letalidade não seja tão alta e grande parte da população que venha a ser vítima de uma infecção possa curar-se sem desenvolver casos grave da doença. Já sobre a ivermectina alguns cientistas são pontuais em descartar sua utilidade para tratamento da Covid-19, pois até agora os estudos que comprovam sua eficácia estão incompletos.
“Não há nenhuma evidência científica de que funciona, zero, nada. O que teve foi esse teste in vitro que mostrou que a ivermectina pode ter uma atividade antiviral, mas a dose necessária para isso também mata as células do organismo. Então, precisaríamos de uma hiperdose, que seria tóxica para nós, para ela funcionar.” diz Alberto Chebabo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e diretor médico do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
De toda forma as medidas sanitárias que mais comprovam eficácia na luta contra a covid-19 apontam para um conjunto de medidas simples e que tem salvado vidas ao redor do mundo, são elas, a higiene das mãos,evitar aglomerações, usar máscaras,evitar tocar as mucosas do rosto com as mãos sujas sem terem sido previamente higienizadas,evitar sair de casa desnecessariamente garantindo assim a manutenção do isolamento social e a quebra do ciclo de transmissão do novo coronavirus na sociedade.
Atualmente, segundo o último boletim referente ao estado do Rio Grande do Norte divulgado em seu site oficial do governo, o estado possui um total de 5218 casos confirmados e 1900 caso de óbitos.
, mantendo-se em posição estável como aponta a média móvel de dados sobre a situação da pandemia por estados.
Portanto, sem as devidas comprovações científicas quanto ao uso da ivermectina no tratamento contra covid-19 não podemos afirmar com toda certeza que o medicamento de fato é eficaz, entretanto resta-nos esperar por novos testes e resultados a fim de nos garantir uma informação segura e confiável quanto ao uso da medicação no tratamento alternativo contra a covid-19.