Lockdown geral no Brasil, enquanto acontece partida de futebol na Holanda?
Recebemos, por meio do aplicativo Eu Fiscalizo da Fiocruz (Disponível em Android e IOS), uma mensagem que se encontrava no aplicativo de conversas whatsapp. No diálogo, os usuários tecem afirmações em relação aos torneios de futebol sendo realizados na Holanda. As alegações proferidas são que enquanto o Brasil tem um clima desfavorável à transmissão da COVID-19, clima tropical e quente, vive medidas de restrições e lockdown. Em contrapartida, a Holanda com clima temperado e frio, situação favorável à transmissão como frisa a mensagem, promove partidas de futebol.
Com informações do Globo Esporte, a Holanda está realizando partidas de futebol. Contudo, é permitido a entrada de 5 mil torcedores para acompanhar o evento e todos têm que apresentar o teste negativo contra a COVID-19.
Atualmente, o país segue com medidas restritivas decretadas até o dia 20 de abril. De acordo com a Valor Econômico, o primeiro-ministro interino do país, Mark Rutter, afirmou que o alto número de casos da doença e um recente aumento nas taxas de ocupação nos hospitais não permitem que ele cumpra uma promessa feita anteriormente de flexibilizar algumas das medidas durante o período da Páscoa.
Nesse sentido, bares e restaurantes permanecem fechados no país, com exceção de serviços de delivery ou para retirada no estabelecimento. O toque de recolher inicia às 22h com término às 4h30.
A Holanda contabiliza um total de 16.731 mortes e 1,33 milhões de pessoas infectadas por COVID-19. A média móvel de óbitos nos últimos sete dias é de 22 pessoas.
É possível comparar com o Brasil? – Não. Além de ter um número populacional superior a Holanda, são 211 milhões contra 17,28 milhões do país europeu, o Brasil faz parte do pódio de índices de óbitos e transmissão da COVID-19. Até a redação desta matéria, o Brasil possui 349 mil óbitos com um total de 13,4 milhões de casos e uma média móvel de vidas perdidas em 2930.
O Brasil não teve um lockdown nacional e simultâneo em todo território, as medidas de restrição são implementadas a partir dos governadores e prefeitos de cada estado e município, respectivamente.
Na capital do Rio Janeiro, por exemplo, bares e restaurantes estão funcionando até às 21h, enquanto praias e boates permanecem fechadas. Já em São Paulo, que retorna para a fase vermelha na segunda-feira (12), continua sem o funcionamento de bares e restaurantes e toque de recolher entre 20h às 5h.
Por último, sobre a questão climática influenciar a transmissão, não há impedimento de disseminação em climas tropicais com altas temperaturas. Tal informação é baseada em estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e das universidades federais de Goiás (UFG) e de Jataí (UFJ), através do grupo de trabalho em “Macroecologia Humana” do Instituto Nacional de Ciência & Tecnologia (INCT) em Ecologia, Evolução e Conservação da Biodiversidade (EECBio).
“O clima não tem sido uma barreira para conter a disseminação do vírus”, afirma o professor Ricardo Dobrovolski, do Instituto de Biologia da UFBA, que integra o grupo de pesquisadores. O estudo preliminar, em fase de revisão científica para publicação, foi apresentado em preprint publicado no site medrxiv (servidor de preprints especializado na área de saúde), em 06 de abril de 2020.
Dobrovolski aponta o exemplo do Brasil, país de clima tropical e altas temperaturas, que teve a segunda maior taxa de crescimento exponencial da Covid-19 identificada pelo estudo (0.27), atrás apenas dos Estados Unidos (0.29), conforme aponta o mapa. Os resultados demonstram que as condições climáticas não impactam nas taxas de crescimento do vírus nos diferentes países, ao contrário do que sugeriam alguns estudos prévios sobre o comportamento de outros tipos de vírus sob altas temperaturas.
*Imagem da capa: Piroschka van de Wouw/Reuters