Médica afirma que falta de sol é causa principal da pandemia
Para Lorena Velho, a carência de vitamina D explicaria o número de mortos pela Covid-19
Recebemos pelas redes sociais um vídeo em que a médica Lorena Velho, da Clínica Vida, afirma que a falta de vitamina D é a principal causa da pandemia do novo coronavírus. Em sua fala, de cerca de quatro minutos, a médica traz inicialmente os dados de uma pesquisa que segundo ela mostraria a correlação entre falta de vitamina D e número de óbitos pela Covid-19.
A pesquisa, segundo ela conduzida por Cícero Coimbra, da UNIFESP, mostraria que, quanto maior o nível de vitamina D no organismo, menos casos de óbito. Os valores acima de 34 teriam zero mortes, e acima disso as pessoas tiveram sintomas leves ou nenhum sintoma. Na outra via, quanto menos vitamina D, mais óbitos: “Todos os casos que tiveram vitamina D abaixo de 17 morreram”, reporta a médica.
Os dados da pesquisa citada pela médica não são conclusivos e se chocam com outras pesquisas sobre o mesmo assunto. Neste documento aqui, do Ministério da Saúde, estão reunidos os principais estudos sobre a vitamina D e o novo coronavírus. Nas conclusões, o documento aponta: “Não foram identificadas nos estudos identificados por busca sistemática, evidências robustas e conclusivas quanto à eficácia do uso da vitamina D na prevenção ou tratamento de pacientes com COVID-19”.
Com base na pesquisa de Cícero Coimbra, a médica afirma que a pandemia do novo coronavírus se deve à falta de sol: “O que significa isso? Que a nossa verdadeira pandemia mundial é a falta de sol”.
A causa da pandemia é o novo coronavírus, que surgiu no final de 2019 no extremo oriente e de lá se espalhou para o restante do planeta. A falta de sol, que dificulta a síntese da vitamina D pelo organismo, é no máximo um fator que pode contribuir para a evolução do quadro dos infectados.
Argumento – A vitamina D, que na verdade é um hormônio, está associada à imunidade e sua carência deixa o organismo mais suscetível a doenças. A principal fonte de vitamina D é a luz do sol, sintetizada pelo corpo humano. Muitos profissionais da área médica adotaram o raciocínio segundo o qual, com o lockdown, as pessoas ficaram privadas da luz solar. Por conseguinte, teriam carência de vitamina D e ficaram imunodeprimidas. Estando deprimidas, ficaram mais vulneráveis ao novo coronavírus.
Mas, se o raciocínio parece lógico, faltam ainda dados que o comprovem.
A ideia de que o sol faz grande diferença para os números da pandemia não se sustenta nos fatos e já foi refutada por especialistas da área médica. Nesta matéria do Fato ou Fake, projeto de checagem do G1, a pesquisa mencionada pela médica foi checada e classificada como fake news.
Os médicos ouvidos pela reportagem do G1 afirmam que, por enquanto, não há estudos que comprovem a relação de causa e efeito entre os níveis de vitamina D e a prevenção ou recuperação de casos da Covid-19. O equilíbrio vitamínico por si só não representa defesa contra o novo coronavírus, embora um corpo saudável esteja sempre melhor preparado para responder a qualquer doença.
O elevado número de mortos no Brasil – que já tem mais de 110 mil vítimas do ovo coronavírus –, um país tropical que recebe generosa incidência de luz solar o ano inteiro em boa parte do território, por si só já põe em xeque a hipótese levantada pela médica e outros que defendem a tese da exposição ao sol como panaceia contra a Covid-19.
Outros benefícios – A médica aponta que a vitamina D tem diversas outras propriedades que beneficiam o organismo e contribuem para a resposta imunológica, como o combate ao raquitismo, e recomenda a reposição do nutriente para compensar o tempo de isolamento devido à quarentena.
De fato, a vitamina D tem vários benefícios para a saúde, auxiliando a fortalecer o sistema ósseo e o sistema imune. Mas a recomendação de reposição de vitamina D por meio de ingestão de compostos vitamínicos é controversa, pois também pode desencadear malefícios à saúde, como pedras nos rins, perda da função renal e, nos idosos, confusão mental e desidratação. O acompanhamento de um profissional é imprescindível nesses casos. Como mostra esta matéria da Folha de S.Paulo, quando o assunto é vitamina, tanto o excesso como a falta podem ser prejudiciais.
Há também riscos associados à exposição demasiada ao sol, em virtude dos raios ultravioleta, que podem desencadear formas agressivas de câncer de pele. Por isso, recomenda-se cautela na exposição. Na mesma matéria da Folha, você pode conferir as recomendações sobre melhor horário para a síntese de vitamina D e os cuidados necessários.
O NUJOC já checou informação semelhante sobre os supostos benefícios da vitamina D e da exposição ao sol no combate à Covid-19, em matérias que você pode conferir aqui e aqui.