Mensagem tenta deslegitimar a pandemia de COVID-19 e propõe suposto controle mental na população por parte dos governos no mundo
Parece absurdo, mas circula nas redes sociais uma mensagem que sugere que a pandemia por COVID-19 seja uma farsa, desconsidera as medidas adotadas pelas instituições sanitárias como isolamento social, uso de máscara, além de julgar que tudo não passa de um processo de “controle mental a partir do trauma das mortes e restrições”. A mensagem foi recebida por nossa equipe através de parceria com o aplicativo Eu Fiscalizo da Fiocruz (disponível para Android e iOS).
Confira a mensagem na íntegra abaixo:
Com informações da Isto é, as fake news que envolvem a contestação da pandemia com um suposto “golpe planetário”, utilizado pelos líderes mundiais para “impor um governo tecno-totalitário baseado no controle, na hipervigilância e na redução das liberdades civis” tem ligação com uma notícia falsa disseminada na argentina.
O NUJOC Checagem investigou e descobriu que a informação falsa que deu origem a teoria da conspiração que estamos referenciando neste texto veio de uma falsa declaração atribuída e não comprovada pelo jogador Lionel Messi. Segundo o projeto argentino Chequeado, a informação falsa começou a circular no facebook, por meio de uma postagem com a imagem do jogador de futebol Lionel Messi com o seguinte texto: “Messi comprometido: aqui houve um golpe planetário” (sic), em relação às medidas adotadas por diferentes países do mundo diante da pandemia do novo coronavírus. No entanto, a postagem não indica onde ou quando ele teria afirmado isso e não há registros de que o jogador argentino do Barcelona tenha feito essas declarações.
A postagem ainda vinha acompanhada de um comentário no qual se acrescentam mais frases supostamente pronunciadas por Messi: “’Não somos contra a quarentena’, afirmou categoricamente, ‘como medida sanitária para tratar de um problema de saúde”, esclareceu. E ressaltou ainda: ‘Somos contra as medidas (não sanitárias) que se tomam nas costas da sociedade (ou sob o pretexto do coronavirus) para impor um governo tecno-totalitário baseado no controle, na hipervigilância e na redução da liberdade civil, o que está acontecendo ao mesmo tempo não só na Argentina, mas em um número considerável de países no mundo, ENQUANTO estamos em quarentena ‘”.
Após ser consultado pelo Chequeado, a equipe de comunicação oficial de Lionel Messi negou as declarações foram concedidas pelo jogador.
Conforme já elucidado acima, a mensagem aqui checada não só faz alusão a um possível “golpe”, como também desconsidera as medidas defendidas pelas instituições como o isolamento social e o uso de máscaras.
Uso de Máscaras – Em outras ocasiões, o NUJOC Checagem verificou os questionamentos acerca do uso de máscaras, e a partir da fala das autoridades de saúde demonstrou a eficácia como mecanismo de proteção.
A OMS passou a recomendar o uso de máscaras pelo público geral a partir do dia 05 de junho. Na entrevista coletiva em que foi realizado o anúncio da mudança na recomendação, o órgão explicou que a decisão veio da conclusão de novos estudos que apontavam a eficiência das máscaras como parte da estratégia para o controle do espraiamento da doença. Na mesma data, a OMS ainda publicou documento que reúne essas conclusões e indica como usar corretamente a proteção facial em diferentes ambientes e situações. O documento expõe 80 referências, que reúnem pesquisas conduzidas pelo próprio órgão e por pesquisadores de centros de pesquisa de diversos países.
No site da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS-OMS), há uma publicação de 09 de junho que aponta a importância do uso de máscara, além do uso por profissionais da área de saúde, pessoas com comorbidades, idosos e público em geral. O texto na íntegra, você pode ver aqui.
As máscaras devem ser usadas como parte de uma estratégia abrangente de medidas para suprimir a transmissão do coronavírus e salvar vidas. O uso somente delas, sem outras ações, é insuficiente para fornecer um nível adequado de proteção contra a COVID-19. Também é importante manter uma distância física mínima de pelo menos 1 metro de outras pessoas, limpar frequentemente as mãos e evitar tocar no rosto e na máscara.
Em junho, o NUJOC Checagem também publicou a conclusão de um estudo desenvolvido pela The Royal Society Publishing da Inglaterra. O trabalho é mais uma comprovação científica que atesta a eficácia do uso de máscaras aliado à conduta pública de distanciamento social e lock-down como possibilidades de diminuir o índice de contaminação pelo novo coronavírus.
Isolamento Social – Com informações da RedEscola vinculada à Fiocruz, Em um estudo publicado na revista científica The Lancet no início de abril, pesquisadores da Universidade de Hong Kong avaliaram a eficácia de medidas restritivas implementadas desde 23 de janeiro de 2020 em quatro cidades e 10 províncias na China. Eles concluíram que essas medidas foram responsáveis por diminuir substancialmente a taxa de infecção não somente por casos importados, mas também por contaminação local. De acordo com os dados compilados no estudo, o número de pessoas contaminadas por dia nas cidades analisadas chegou a ser superior a 600 no início de fevereiro, no momento em que as medidas de restrição foram adotadas. No final do mesmo mês, quando as limitações estavam em pleno vigor há algum tempo, a taxa caiu para menos de 200 casos por dia. No país asiático, foram estabelecidas regras rigorosas para o cumprimento da quarentena, como checagem de temperatura corporal de quem estivesse em estabelecimentos públicos, suspensão imediata das atividades acadêmicas, entre outros. Previsões matemáticas do estudo alertaram também para o fato de que o relaxamento drástico e prematuro dessas medidas não só pode levar ao retorno das altas taxas de transmissibilidade, provocando uma segunda onda de infecções, como deve afetar de forma drástica as regiões mais pobres.
Esta conclusão veio a partir da análise do risco de morte daqueles que testaram positivo para a Covid-19 em diferentes partes da China, mostrando uma variação significativa de acordo com o desenvolvimento econômico e a disponibilidade de recursos médicos. A taxa de mortalidade na província de Hubei, por exemplo, foi de 5,91%, quase seis vezes maior do que nas províncias onde, segundo o estudo, o serviço de saúde é melhor. Nestas, a taxa foi de 0,98%.
Defendido pela OMS desde o início da pandemia, seja para quem se infectou, seja como medida protetiva para evitar o aumento no número de contágio, o isolamento social provou ser eficaz. No site da Organização Pan-Americana Saúde (OPAS), o isolamento social é mencionado como uma medida não farmacológica no combate à COVID-19.
Além disso, a Diretora da OPAS, Carissa F. Etienne, reforça o cuidado para os países tomarem ao promover o relaxamento das medidas de isolamento social. “Somos uma região de sistemas de saúde pública frágeis e subfinanciados, que lidam com muito mais do que a COVID-19. Estamos lidando com malária, sarampo, dengue e muitas outras doenças”, disse a diretora da OPAS. “Isso significa que devemos ser especialmente determinados e adaptáveis às circunstâncias únicas de nossa região, muito diversificada. E devemos lembrar que nem todos os países, cidades e comunidades são afetados da mesma maneira”.
As principais lições da pandemia sobre distanciamento social são ter cuidado e “não abrir muito rápido ou correr o risco de ressurgimento da COVID-19, o que pode ameaçar as conquistas obtidas nos últimos meses. Considerar uma abordagem geográfica para bloquear e abrir com base na transmissão em locais específicos, conforme apropriado”, afirmou a diretora da OPAS. “O distanciamento social diminui a transmissão para que os serviços de saúde possam testar casos suspeitos, rastrear contatos e tratar e isolar pacientes”, ressaltou.