Ministro da Educação Milton Ribeiro utiliza Hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina durante o tratamento contra a COVID 19
O NUJOC Checagem recebeu, por meio de parceria com o aplicativo Eu Fiscalizo da Fiocruz (disponível para Android e iOS), uma mensagem que circula nas redes sociais sobre o ministro da educação, Milton Ribeiro, declarar utilizar os medicamentos hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina durante o tratamento contra a COVID 19. O depoimento do ministro ganhou mais amplitude após ser veiculado pelas redes sociais do Conselheiro Nacional de Juventude do governo Bolsonaro, Carmelo Neto. A liderança apoia o uso dos medicamentos.
Milton Ribeiro, advogado e pastor, concedeu depoimento no dia 21 de julho, mas o diagnóstico com novo coronavírus aconteceu no dia anterior. No entanto, no sábado 25 Ribeiro relatou, por meio das redes sociais que foi diagnosticado com “início de pneumonia”, apesar de estar sendo medicado com hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina, todos prescritos por seu médico. O ministro também tomou antibiótico para tratar a pneumonia.
Vale ressaltar aqui a necessidade em respeitar o contrato ético entre médico e paciente. Como no momento não há medicamentos exclusivos para tratamento da COVID 19, uma vez que os fármacos seguem em testes para, posteriormente, serem aplicados, o médico pode decidir o que é melhor para o paciente dentro da situação limítrofe.
Conforme noticiado em outro momento no NUJOC Checagem, a Sociedade Brasileira de de Pneumologia e Tisiologia emitiu comunicado com alerta sobre os tratamentos que têm eficiência comprovada para a Covid – 19, o perigo de se confiar em informações não verificadas nas redes sociais e como prevenir a contaminação pelo coronavírus. Entre os pontos apresentados no texto, vale ressaltar sobre o uso dos medicamentos discutidos aqui:
Não existem evidências científicas de que quaisquer das medicações disponíveis no Brasil, tais como ivermectina, cloroquina ou hidroxicloroquina, isoladas ou associadamente, sejam capazes de evitar a instalação da doença em indivíduos não infectados. Isso também é verdade para vitaminas, como, por exemplo, a C e D, e suplementos alimentares contendo zinco ou outros nutrientes.
Além da referida instituição, outras associações médicas brasileiras também emitiram notas, como a de cardiologia, medicina intensiva, de infectologia e de pneumologia. Todas com o mesmo posicionamento alinhado de não recomendar o uso da hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina.
Em informe veiculado no dia 30 de junho, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) confirma seu alinhamento com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a FDA (agência reguladora de medicamentos dos EUA), a Sociedade Americana de Infectologia (IDSA) e o Instituto Nacional de Saúde Norte-Americano (NIH). Os órgãos não recomendam o uso da cloroquina, nem da hidroxicloroquina em pacientes com COVID-19.
O comunicado ainda aponta uma série de estudos conduzidos pela Universidade de Oxford, demonstrando que não houve benefícios clínicos para pacientes hospitalizados. As pesquisas ainda indicam que a administração do medicamento pode aumentar os riscos de arritmia cardíaca:
A associação da hidroxicloroquina com o antibiótico azitromicina foi descrita em estudos observacionais e não trouxe benefícios clínicos. Além disso, os dois medicamentos estão associados ao prolongamento do intervalo QTc no eletrocardiograma, que predispõe à arritmia cardíaca. O uso combinado pode potencializar esse efeito adverso, com eventual desfecho clínico fatal, especialmente em pacientes com doenças cardíacas, uma vez que a própria infecção pela COVID-19 pode causar dano ao órgão. Também se deve levar em consideração que antibióticos não têm indicação em infecções virais; seu uso indiscriminado e inadequado favorece a resistência bacteriana. O potencial benefício clínico do efeito “antiinflamatório ou imunomodulador¨ da azitromicina em pacientes com COVID-19 ainda está por ser comprovado.
Em coletiva de imprensa no dia 14 de julho, o gerente de incidentes para COVID da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) afirmou que a OMS, além de não recomendar o medicamento, suspendeu o tratamento à base de hidroxicloroquina por “não observar os benefícios do medicamento” e que, por isso, a organização “não recomenda o uso da hidroxicloroquina em pacientes da covid-19”, disse.
Quanto a administração de azitromicina e ivermectina, com informações do Estadão Verifica, a azitromicina é um antibiótico e, portanto, não ataca o novo coronavírus, já que antibióticos são indicados apenas contra bactérias. Enquanto isso, a ivermectina é utilizada para o tratamento de condições ocasionadas por vermes e parasitas, sem relação com a covid-19.
Ainda de acordo com o periódico, há pesquisas com essas drogas para monitorar se elas podem auxiliar no tratamento contra a COVID 19. Contudo, os resultados não foram finalizados, descartando a possibilidade de uso na prevenção ou no tratamento da população, principalmente sem prescrição médica. Segundo o Estadão, o Brasil tem mais de 70 estudos sobre coronavírus, sendo 21 testes de possíveis tratamentos.
No entanto, ainda que a OMS e outros órgãos de saúde não recomendem o uso de antibióticos para o tratamento da COVID 19, alguns médicos estão adotando. Isso, porque pacientes que chegam a desenvolver pneumonia e são internados em UTI, possuem grande chance de desenvolver infecções secundárias. Nesse sentido, o quadro é chamado de infecção secundária, quando a pessoa que já está acometida por uma infecção em desenvolvimento e passa a apresentar um novo quadro, em decorrência do contato com outro tipo de microorganismo.
Assim como a hidroxicloroquina, os antibióticos só devem ser administrados quando acontecer a prescrição médica. Ressaltando novamente o caráter de não haver medicamentos exclusivos para o tratamento da doença em questão.