Novas variantes do coronavírus são muito mais perigosas?
Youtuber Mano Tokio faz previsões alarmantes e sem base nos fatos sobre a disseminação das variantes do novo coronavírus
Pelo seu canal no Youtube, Mano Tokio lê as manchetes e faz um resumo das notícias e jornais do Brasil e do exterior sobre a pandemia no dia 06 de janeiro. O foco da postagem são as variantes do novo coronavírus, que o apresentador assim define: “Acredito eu pelo que eu estou vendo, o andar da carruagem, o coronavírus vai simplesmente colocar de novo o mundo debaixo de seus pés”. O vídeo chegou à equipe do NUJOC Checagem por sugestão do aplicativo Eu Fiscalizo, da Fundação Oswaldo Cruz.
A fala do youtuber tem cerca de 20 minutos de duração, durante os quais ele comenta as manchetes de jornais brasileiros e estrangeiros sobre a disseminação da Covid-19. As manchetes são lidas de forma literal, e correspondem à cobertura da imprensa sobre novas medidas de confinamento em países europeus e na Ásia, devido ao aumento do contágio trazido pelas novas variantes do coronavírus. Todas as manchetes lidas correspondem de fato ao que foi publicado pelos veículos nas datas próximas à da publicação do vídeo.
De fato, nas últimas semanas a imprensa tem trazido diversas informações sobre as variantes da Covid-19 que circulam no Brasil e no mundo, algumas delas analisadas com preocupação pelos cientistas, como a que se disseminou pela África do Sul. Nesta matéria aqui, você encontra um resumo com o que se sabe até agora sobre as variantes e seu grau de contágio e letalidade. Nesta outra aqui, você pode conferir notícia recente sobre o cancelamento da vacina de Oxford na África do Sul, por medida de segurança, depois de testes em um grupo restrito indicarem baixa proteção contra casos leves e moderados da variante local.
Embora traga notícias que de fato foram publicadas pela imprensa no Brasil e no exterior, Mano Tokio faz comentários que podem induzir ao pânico. Ele afirma, por exemplo: “Essa mutação que ocorreu faz com que essas novas variantes sejam de 50 a 70 vezes mais infecciosas do que as outras, ou seja, nós teremos 50 a 70% de mais casos ocorrendo acerca do coronavírus”. Na mesma linha, também orienta: “Essas variantes são superpoderosas, superinfecciosas, e nós não temos ideia do que pode acontecer no próximo ano. A única coisa que eu posso dizer é o seguinte: preparem-se (…), nós não temos a menor ideia da gravidade que será, a médio e longo prazo, caso se nossos filhos forem infectados por essas novas variantes”.
É exagerado afirmar que não temos ideia do quadro de infecção pelas variantes da Covid-19. Os vírus em circulação modificam-se para melhor prosperar, como todos os organismos vivos, mas é improvável que surja uma cepa super-resistente às vacinas que já foram feitas para o combate ao novo coronavírus. Vale lembrar que em menos de um ano a ciência já identificou o vírus e produziu vacinas eficazes contra algumas de suas cepas. Nada nesse cenário aponta para um caminho desconhecido ou sem esperança de cura. Trata-se do caminho natural do vírus, contra o qual a humanidade tem lutado com sucesso.
Na sequência, Mano Tokio opina sobre a eficácia das vacinas para as variantes do vírus: “O mundo todo está se fechando porque sabe, no fundo, no fundo os cientistas já sabem, essas vacinas que estão sendo produzidas, elas não estão preparadas para abater essa nova variante”. Ele também complementa, deixando claro que nesse ponto se trata de sua opinião pessoal: “Eu tenho 99.9% de certeza de que essas picadas, essas vacinas não vão funcionar contra as variantes, certo? Isso é uma opinião minha, deixa bem claro”.
As vacinas que existem atualmente podem ser eficazes inclusive para as variantes: todo o caminho percorrido para a produção dessas vacinas é conhecimento acumulado para lidar com as variantes. As vacinas já em circulação podem ser ajustadas para lidar com as novas cepas do vírus, o que implica em menos tempo em testes e mais eficácia no curto e médio prazo, como explica o biólogo Atila Iamarino neste texto aqui.
O tom do final do vídeo de Mano Tokio é lúgubre: “Nós teremos um ano muito difícil. Me desculpem, senhoras e senhores, mas vai ter gente que vai ter saudade de 2020. Verdade”. O youtuber aconselha as pessoas a abandonar as grandes cidades: “Se você conseguir se preparar nos próximos três anos para sair das grandes cidades, é um conselho que eu quero lhes dar”, pois segundo ele “as grandes cidades ficarão insuportáveis” e “as coisas estão piorando muito rapidamente”.
Embora a situação não seja confortável e a pandemia tenha tido grande impacto sobre o mundo em 2020, é exagerado prever uma situação fora do controle para 2021: hoje temos vacinas e muito mais conhecimento sobe o vírus do que há um ano. Ainda não há certeza quanto à letalidade das variantes, mas sabe-se que elas tendem a ser mais contagiosas, e o contágio maior tende a resultar em mais casos que podem evoluir para casos graves.
Por isso mesmo é importante manter as medidas de distanciamento e de higiene que garantem a proteção até a chegada da imunização para todas as pessoas: isolamento social, uso de máscaras e de álcool em gel para a limpeza das mãos. E sobretudo manter a calma, para que se possa encarar essa nova etapa do combate ao vírus com saúde e serenidade.