O lockdown adotado na Itália é um modelo sociopolítico autoritário?
Jornalista brasileira Karina Michelin que reside na Itália atribui tal afirmação ao novo lockdown decretado na Itália até meados de dezembro
Recebemos, por meio de parceria com o aplicativo Eu Fiscalizo da Fiocruz (disponível para Android e iOS), um vídeo publicado pela jornalista brasileira Karina Michelin que mora na Itália. No vídeo, são apresentados fatos com a intenção de construir um panorama após a adoção das medidas restritivas desde o dia 03 de novembro na Itália.
A jornalista, então, faz as seguintes afirmações: “O pesadelo da segunda onda chegou e, com ela, o caos e uma raiva contagiosa: toque de recolher, lockdown, decretos, desemprego, depressão, exército nas ruas, resultaram em guerrilhas urbanas”. Além destas afirmações, Karina Michelin questiona a necessidade de um novo lockdown e responde: “A resposta é clara e de natureza política. Este é um novo modelo sociopolítico autoritário e desumano que explora o medo e o terror para dominar e disputar as divergências políticas […]”.
O Lockdown na Itália – Com informações do G1, O primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, assinou no dia 03 de novembro um decreto para instaurar um novo toque de recolher em todo o país, em meio à segunda onda de Covid-19 na Europa. A restrição acontece no período de 22h às 5h, começando no dia 05 de novembro e vai até 3 de dezembro.
O anúncio ocorre dias após Alemanha, França e Reino Unido anunciarem lockdowns para frear a nova onda de contágio que se espalha pelo continente.
As restrições mais rígidas incluem a proibição de entrar e sair da região afetada por ao menos duas semanas e o fechamento de todas as lojas, exceto as de itens essenciais como alimentos. Para isso, o país foi dividido em três áreas: zonas vermelhas, laranjas e verdes.
Uma das áreas afetadas é a região da Lombardia, cuja capital financeira é Milão e já foi a mais atingida pela primeira onda da pandemia.
No dia 31 de outubro, o país registrou um recorde de 31.756 novos infectados, mas o número de mortes continua bem abaixo das registradas na primeira onda, entre março e abril.
Indo em contramão ao argumento da jornalista, a própria Federação Nacional das Ordens dos Médicos da Itália (Fnomceo) também pediu a instauração de um lockdown em todo o território do país.
Segundo o portal Terra, “A Ordem dos Médicos pede lockdown total em todo o país”, diz uma mensagem postada pela federação em sua página no Facebook, proposta que foi reforçada pelo presidente da entidade, Filippo Anelli, à imprensa local.
A Fnomceo vem pressionando por medidas mais rígidas desde meados de outubro, quando já alertava para o risco de saturação de UTIs por todo o país.
Seguindo a mesma linha, o presidente da associação nacional de anestesistas de UTIs, Alessandro Vergallo, disse nesta segunda-feira (9) que o número de internações em terapias intensivas pode dobrar em uma semana se a tendência atual se mantiver.
Atualmente, a Itália tem 2.749 pacientes da Covid-19 em UTIs, maior número desde 17 de abril (2.812). “Ainda estamos aguardando eventuais benefícios do último decreto, que podem aparecer apenas depois de 10 dias”, declarou Vergallo.
“As UTIs já estão sob pressão. Considerando isso, a proposta de um lockdown nacional é racional”, acrescentou. O país vem registrando recordes seguidos de casos diários de Sars-CoV-2, e o número de mortes a cada 24 horas – 331 no último domingo (8) – voltou ao patamar do início de maio.
Em matéria veiculada no Uol, a situação pandêmica na Itália caminha para um cenário preocupante. O Instituto Superior de Saúde (ISS), órgão vinculado ao governo da Itália, afirma em relatório que o país se encaminha para uma “rápida piora” da pandemia de coronavírus Sars-CoV-2 e que a situação pode se tornar “incontrolável” em breve. “Todas as regiões e províncias autônomas estão classificadas no risco alto de uma epidemia não controlável e não gerenciável no território ou em risco moderado com alta possibilidade de progredir para o risco alto nas próximas semanas. É essencial reforçar as medidas de mitigação em todas as regiões e províncias autônomas”, diz o relatório semanal.
Considerando os dados até o dia 7 de novembro, a Lombardia é a região com o índice de transmissão (Rt) mais alto, com 2,08, seguida por Basilicata (1,99), Piemonte (1,97), Molise (1,88) e província autônoma de Bolzano (1,87). Para controlar a pandemia, é preciso que o RT fique abaixo de 1,0, ou seja, quando 10 pessoas contaminam outras nove. No caso da Lombardia, por exemplo, cada 10 pessoas estão contaminando pouco mais de 20.
E quem vive na Itália o que pensa do novo lockdown? – Francesco Migliaccio conta ao Nujoc Checagem que o governo italiano demorou a agir depois que o número de mortes caiu no país. “Depois do bloqueio março-abril passamos um verão muito normal sem nenhuma regra em combate a COVID-19, as pessoas saíam sem máscara e sem respeitar o distanciamento social. A partir de setembro tudo recomeçou, os alunos voltaram às escolas e os trabalhadores voltaram a trabalhar, o que causou um grande aumento nas infecções, porque as medidas adotadas para preveni-las não foram suficientes. O transporte público não funciona bem, eu mesmo todas as manhãs para ir à escola pego um ônibus onde não há distância e muitas pessoas não usam máscara, o transporte público é um problema que deveriam ter resolvido durante este verão”, ressaltou o italiano que vive na província de Potenza, localizada ao sul da Itália.
Vivendo a quatro anos em Milão, o escocês Lloyd Robertson relata que apenas sai de casa para trabalhar e todo mundo tem horário para retornar para casa. “No momento há um lockdown, mas não é como antes. Ainda vamos trabalhar, mas há muitos testes para a COVID-19. Temos que voltar para casa por volta das 22h e só devemos sair por um motivo relacionado à nossa saúde, se não for ao trabalho”, pontuou. Diferente da situação em Potenza, Lloyd elogiou o fato das pessoas sempre estarem utilizando máscaras, além do transporte está funcionando: “o metrô está muito tranquilo”.
Aumento no número de suicídios na Itália? – Infelizmente a pandemia aumentou em todo mundo os fatores de risco para suicídio. De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), o coronavírus está afetando a saúde mental de muitas pessoas. Estudos recentes mostram um aumento da angústia, ansiedade e depressão, especialmente entre os profissionais de saúde. Somadas às questões de violência, transtornos por consumo de álcool, abuso de substâncias e sentimento de perda, tornam-se fatores importantes que podem aumentar o risco de uma pessoa decidir tirar a própria vida.
“Neste ano de 2020 nos encontramos em circunstâncias muito inesperadas e desafiadoras devido ao enfrentamento da pandemia da COVID-19. O impacto do novo coronavírus provavelmente afetou o bem-estar mental de todos. E é por isso que neste ano, mais do que nunca, é fundamental que trabalhemos juntos para prevenir o suicídio”, destacou Renato Oliveira e Souza, chefe de Saúde Mental e Abuso de Substâncias da OPAS.
É muito importante que as pessoas estejam conectadas umas às outras, atentas aos sinais de alerta e a como reagir para prevenir o suicídio. Mesmo nestes momentos de maior distanciamento físico, as pessoas podem manter vínculos sociais e cuidar da saúde mental.
Nesta mesma publicação da OPAS recortada aqui, também há informações que alertam e estratégias de prevenção ao suicídio.