Países que mais utilizaram vacinas chinesas tiveram aumento de casos de COVID-19?
O Nujoc recebeu para checagem uma notícia do site Contra Fatos que associa a subida da taxa de infecção por COVID-19 em países que mais aplicaram imunizantes desenvolvidos pela China. A matéria foi encaminhada para verificação por meio do aplicativo Eu Fiscalizo da Fiocruz (Disponível para Android e IOS).
Para sustentar o argumento, o portal se refere ao relatório divulgado pelo The New York Times. “O ponto comum é que as mais de 90 nações estão aplicando fórmulas criadas na China, que agora parecem não responder aos efeitos das novas variantes”, conforme é frisado no texto do Contra Fatos.
Entretanto, a matéria apenas recorta algumas partes do relatório produzido pelo impresso estadunidense, não apontando a fala de autoridades dos referidos países que administram imunizantes da China.
Com informações do mencionado relatório do The New York Times, apesar do aumento de casos, as autoridades de Seychelles e da Mongólia defenderam a vacina da farmacêutica chinesa Sinopharm, dizendo que ela é eficaz na prevenção de casos graves da doença.
Batbayar Ochirbat, pesquisador-chefe do Grupo de Assessoria Científica para Emergências do Ministério da Saúde da Mongólia, disse ao The New York Times que a Mongólia tomou a decisão certa ao usar a vacina chinesa, em parte porque ajudou a manter a taxa de mortalidade baixa no país. Dados da Mongólia mostraram que a vacina da Sinopharm na verdade era mais protetora do que as doses desenvolvidas pela AstraZeneca e pela Sputnik, vacina russa, segundo o Ministério da Saúde daquele país.
O motivo do aumento repentino na Mongólia, disse Batbayar, é que o país foi reaberto muito rapidamente e muitas pessoas acreditaram que estavam protegidas após apenas uma dose.
“Eu acho que você poderia dizer que os mongóis comemoraram muito cedo”, disse ele. “Meu conselho é que as comemorações devem começar após a vacinação completa, então essa é a lição aprendida. Havia muita confiança” relatou ao jornal estadunidense.
Citado na matéria em verificação, o Chile utiliza o imunizante CoronaVac. De acordo com o Instituto Butantan, o presidente da instituição, Dimas Covas, citou os dois relatórios divulgados pelo Ministério da Saúde chileno sobre o desempenho da vacina, que mostrou alta eficiência, e ressaltou que os novos casos que têm aparecido no Chile afetam majoritariamente as populações que não receberam a vacina, principalmente os mais jovens.
Apesar de o Chile ter alcançado uma cobertura vacinal com as duas doses próxima de 50%, estudos têm demonstrado – como é o caso do Projeto S, realizado pelo Butantan na cidade de Serrana – que é necessário ter ao menos uma parcela de 70% de pessoas imunizadas para que se tenha um efeito indireto da vacinação. Isto é, quando a circulação do vírus se reduz a ponto de evitar o contágio de quem ainda não se vacinou.
Outras causas também são apontadas pelos especialistas como fatores para o aumento do número de casos e óbitos no Chile, já que a vacinação não pode ser a única medida adotada para conter o avanço da pandemia. Países como Reino Unido e Israel conseguiram reduzir as taxas de contaminação ao adotarem lockdown paralelamente à vacinação. As flexibilizações das medidas de segurança nestes países só entraram em pauta depois que uma parcela significativa da população já havia sido imunizada.
Vale destacar que a CoronaVac já demostrou ser segura e eficaz com realização de diversos estudos clínicos nacionais e internacionais. Inclusive, o Ministério da Saúde do Chile divulgou pesquisas sobre a eficácia da CoronaVac, um dado oficial e confiável. Os testes constataram 90,3% de eficácia na prevenção de internações em UTI; 86% na prevenção de mortes; 87% na prevenção de hospitalização e 65,3% na prevenção de infecções sintomáticas por Covid-19.