Pandemia está prestes a acabar no Brasil e mídia brasileira é culpada por não noticiar essas informações?

 Pandemia está prestes a acabar no Brasil e mídia brasileira é culpada por não noticiar essas informações?

Vídeo no Instagram sugere que a pandemia acabará em breve e que a mídia tem omitido informações a respeito da diminuição de casos.

Circula um vídeo na internet onde afirma-se que a pandemia está prestes a chegar ao fim no Brasil e que a mídia brasileira tem exagerado nos números notificados pela imprensa e instaurado pânico na população.

Essa informação é falsa pois atualmente o Brasil ainda apresenta um alto índice de contaminação pelo novo coronavírus, tendo inclusive, em muitos estados, tendência de alta no número de casos.

Que a epidemia causada pelo novo coronavírus uma hora irá acabar, isso é um fato incontestável. A pergunta que devemos nos fazer é: Ao custo de quantas vidas será preciso nos valermos para aprender que o número de mortes só irá começar a cair quando o nível de conscientização da população brasileira acerca das medidas de isolamento, distanciamento e higiene pessoal estiverem incorporadas no consciente da nação, a ponto de todos se sentirem responsáveis por sua própria vida e pela vida de outras pessoas, diminuindo assim  a circulação do vírus na população.

Não agir apenas por conta própria, desacreditando instituições científicas e propagando notícias falsas a respeito da crise estabelecida pela Covid-19 são medidas simples que salvam vidas.


Perdeu a linha. Imagem: Reprodução Instagram

O número de mortes pelo novo coronavírus no Brasil passou a triste marca de mais de cem mil óbitos essa semana. Tais números não foram fabricados pela imprensa e mídias de massa, nem tanto retirados de uma página qualquer das redes sociais ou grupos em WhatsApp. Essas informações nos são garantidas por meio de instituições sérias, com estudos científicos baseados em pesquisas de amostragem, protocolos de segurança, boletins epidemiológicos, registros de óbitos em cartórios, diagnósticos hospitalares e, finalmente, por meio de dados do Ministério da Saúde e da própria Organização Mundial da Saúde. São algumas fontes que garantem o respaldo e o mérito da informação.

“Chegar a 100 mil é um sinal da nossa incompetência. Certamente, poderíamos ter feito melhor”, diz Natália Pasternak, doutora em microbiologia pela Universidade de São Paulo (USP) e presidente do Instituto Questão de Ciência, dedicado à divulgação científica.

No início da pandemia erramos bastante por confiar em diversos métodos para combater as infecções ocasionadas pelo Covid-19, sem os devidos resultados  pautadas em comprovações científicas, o que fez com que muitas pessoas se expusessem ao vírus de maneira desnecessária. Equívocos que em grande parte custaram a vida de muitas pessoas. Antes não acreditávamos que usar máscara e ficar em casa pudesse salvar a vida de tantas pessoas. Diante do todo caos que o mundo vive agora uma coisa podemos afirmar: o Brasil não se preparou o suficiente para lidar com uma pandemia e pode ser que até hoje não esteja tomando as devidas precauções e medidas necessárias para conter o avanço do vírus pela população brasileira.

Esforços incipientes – “Já era falado há algum tempo que poderia acontecer, que não era ficção como muita gente pensava, mas os esforços internacionais para sermos capazes de responder a isso ainda eram incipientes”, diz a médica, professora da Faculdade de Medicina da USP, Ester Sabino, que fez parte do grupo que fez o mapeamento genético do novo coronavírus no Brasil.

Ainda não realizamos testagem em massa, ainda não conseguimos lidar com as internações em leitos de UTIs visto que muitos profissionais não receberam a devida capacitação para operar dentro das condições previstas para monitoramento e acompanhamento de pacientes diagnosticados com covid-19, quadro que mostra que muitos profissionais da saúde acabaram por infectar-se e alguns chegaram a ir a óbito.

Outras questões referem-se à falta de equipamentos nos hospitais, falta de instrumentos individuais de proteção suficientes para profissionais da linha de frente e, principalmente, falta de um diálogo e consenso entre os governos Federal, estaduais e municipais para elaborar uma estratégia  eficiente  na contenção das taxas de transmissão por covid-19. Tudo o que um governo fala durante uma epidemia tem peso.

Medicamentos – Ninguém deve apostar no uso medicamentos sem comprovação científica ou estudos que não se mostrem minimamente com resultados positivos em testes realizados em seres humanos. A disseminação de informações falsas e um total desencontro entre as forças institucionais por parte do governo e as demais contribuições da ciência devem estar alinhados no momento em que se instaura uma crise sanitária como a que vem ocorrendo com o novo coronavírus.

“Controlar uma epidemia é difícil, mas não é impossível. Só que a gente precisa formular um bom plano para isso. E até hoje não temos um, a não ser aguardar por uma vacina ou esperar a pandemia passar”, diz Ester Sabino.

Existe a possibilidade de muitos casos de morte por covid-19 serem relatados de maneira tardia. Porém isso não altera a taxa de letalidade dos óbitos ocorridos em âmbito nacional em decorrência da doença.

Prazos legais – Segundo o Portal da Transparência de Registro Civil, “a atualização do Portal da Transparência pelos registros de óbitos lavrados pelos Cartórios de Registro Civil obedece a prazos legais. A família tem até 24h após o falecimento para registrar o óbito em Cartório que, por sua vez, tem até cinco dias para efetuar o registro de óbito, e depois até oito dias para enviar o ato feito à Central Nacional de Informações do Registro Civil (CRC Nacional), que atualiza esta plataforma”.

Outro dado importante a ser considerado com relação ao número de mortes, é em decorrência da falta de testagem em massa. O número atualizado pelo consórcio entre veículos de comunicação pode apresentar atraso, porém estes números podem ser ainda maiores, devido à pesquisa sorológica não conseguir abranger boa parte da população brasileira. A pandemia evidencia que Brasil gasta pouco e mal em saúde pública.

Mesmo com a diminuição de casos registrados diariamente em alguns estados, algo a ser levado em conta é que pode haver uma segunda onda de contaminação se a reabertura das atividades econômicas iniciar de maneira equivocada sem os devidos cuidados necessários para contenção do vírus, sem o devido planejamento por meio de protocolos de segurança e no tempo inadequado para retomada de atividades.

Pico – Caso essas atividades sejam retomadas em um período em que a curva de contágio é muito alta, o pico da curva epidemiológica pode demorar mais do que se imagina para atingir o seu ápice devido à alta circulação do vírus. Há países que foram “exemplo” de contenção de circulação do vírus mas sofrem agora com segunda onda de Covid-19.

Atualmente o Brasil se encontra em estágio de estabilidade das mortes e de casos por Covid-19 em alguns estados, o que não garante que o número na taxa de infecção e de mortes esteja em queda. Alguns estados apresentam tendências de alta em virtude do não cumprimento de medidas de isolamento, abertura precoce do comércio, precariedade dos serviços de saúde e grande circulação de pessoas nas ruas sem proteção.

Números – Segundo o G1, o Brasil tem 101.136 mortes por coronavírus confirmadas até as 20h de domingo (9), segundo levantamento do consórcio de veículos de imprensa a partir de dados das secretarias estaduais de Saúde, já são 3.035.582 brasileiros com o novo coronavírus desde o começo da pandemia, 22.213 desses confirmados no último dia. A média móvel de casos foi de 43.137 por dia, uma variação de -7% em relação aos casos registrados em 14 dias.

Portanto, não temos bases sólidas para afirmar que o Brasil atualmente demonstra queda de casos de infecção por coronavírus. Em reportagem do G1, o epidemiologista da Fiocruz e professor da UERJ Paulo Nadanovsky ressalta: “O que nos interessa é a velocidade com que ele está se transmitindo. O que nos interessa é o seguinte: um tempo atrás a gente tinha 60 mil mortos, depois rapidamente passamos para 70, depois para 80 e chegamos a 100 mil. Essa velocidade de contágio que é demonstrada por esse número, aumento do número de mortes registradas, mostra a velocidade da pandemia no Brasil, mostra claramente que ela não está contida. Se você está no momento de não estabilidade, instável, de aumento, não adianta calcular o impacto porque logo, logo esse impacto vai ser outro. Então, ele não te diz nada na verdade. Você nem sabe qual ser o impacto daquela doença ainda”, explica Paulo Nadanovsky.

Logo, baseados em comprovações científicas de levantamento de dados e das pesquisas sorológicas compiladas de diversas secretarias de saúde dos estados brasileiros não podemos afirmar que o Brasil está decrescendo no número de mortes. Nem tampouco cabe culpabilizar a mídia brasileira ao dizer que há um exagero a respeito da notificação de casos respaldados em boletins oficiais dos governos de cada estado da nação brasileira.

O serviço de imprensa também tem prestado um importante trabalho na notificação das medidas sanitárias, das formas de evitar o contágio e principalmente na transmissão de conteúdos necessários para conscientização da população brasileira em torno das questões que pairam sobre o novo coronavírus.

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