Postagem defende uso da ivermectina e levanta suspeita sobre eficácia das vacinas

 Postagem defende uso da ivermectina e levanta suspeita sobre eficácia das vacinas

Fala do jornalista Alexandre Garcia é utilizada para reforçar a suposta ineficácia da vacina de Oxford

No canto esquerdo da tela aparece o jornalista Alexandre Garcia, comentando a recente suspensão em alguns países da vacina Covishield, produzida pela AstraZeneca/Oxford, devido ao surgimento de tromboses. No canto direito, há uma foto da médica Lucy Kerr, ao fundo de uma legenda que afirma a eficácia da ivermectina contra a Covid-19. A mensagem foi enviada para checagem pelo aplicativo Eu Fiscalizo, da Fundação Oswaldo Cruz. O vídeo pode ser acessado aqui.

Alexandre Garcia afirma que a vacina de Oxford foi suspensa em vários países, como Alemanha, França e Itália, “por causa do aparecimento de tromboses no cérebro e no pulmão. Isso é grave. E eu não sabia que isso já tá suspenso na Áustria, na Dinamarca, na Islândia, na Noruega, na Bulgária, na Tailândia e no Congo. Embora a Organização Mundial de Saúde diga ‘Não, não tem problema, pode continuar’, eles pararam. Não são escravos da Organização Mundial de Saúde. Estão preocupados com os casos que apareceram. É o que eu tenho dito aqui: são vacinas experimentais”. A informação sobre a suspensão da vacina de Oxford nos países listados é verdadeira, mas há ressalvas a fazer.

Houve de fato surgimento de tromboses em algumas pessoas que tomaram a vacina de Oxford, e os governos dos países mencionados suspenderam a vacinação com o imunizante, conforme você pode conferir nesta matéria aqui. As autoridades da Agência Europeia de Medicamentos – AEM, no entanto, seguem recomendando o uso da vacina de Oxford, pois ainda não há evidência conclusiva da relação entre os casos e a aplicação da vacina, e o número de complicações é ínfimo comparado aos benefícios da vacinação.

“Segundo a diretora-executiva da agência, Emer Cooke, mesmo que investigações posteriores encontrem uma relação de causa e efeito entre a vacinação e os eventos, eles são muito raros, e deixar de usar o imunizante causaria muito mais mortes, além dos casos de sequela”, conforme essa matéria da Folha de S.Paulo sobre o assunto.

Os efeitos adversos não são uma novidade quando se fala em vacinas, entre os quais costumam ser relatados dor no local da aplicação, febre e dor de cabeça. Quando surgem efeitos mais graves, é necessário investigar as causas e monitorar os casos, para estabelecer a relação entre o imunizante e o efeito, conforme explica o médico infectologista Esper Kallás nesta matéria aqui. É o que está sendo feito atualmente em relação à vacina da AstraZeneca em alguns países europeus. Mas é necessário atentar para os números: foram 25 casos de trombose em 18 milhões de pessoas que receberam a vacina.

No vídeo de Alexandre Garcia, para reforçar a mensagem do jornalista, há no canto direito da tela a seguinte mensagem: “Médica diz que ivermectina tem eficácia maior que vacina e pede para colegas ‘estudarem mais’: ‘Vacina jamais atingirá imunização do medicamento’”. Trata-se de reprodução de uma fala de maio de 2020 da médica Lucy Kerr, cuja foto ilustra a mensagem ao lado da tela de Alexandre Garcia.

A informação de que a ivermectina é mais eficaz do que as vacinas não tem fundamento. No ano passado, a médica Lucy Kerr fez a declaração sobre a suposta eficácia da ivermectina, em vídeo que foi posteriormente apagado do Youtube. Desde então houve inúmeros momentos em que os defensores da ivermectina e de outros medicamentos vieram a público para defender a eficácia do tratamento precoce da Covid-19. Mas a Agência Nacional de Saúde, a Anvisa, não reconhece a eficácia da ivermectina e da cloroquina no tratamento da Covid-19, em que pese a defesa do presidente Jair Bolsonaro e de outras autoridades do chamado tratamento precoce. Confira nesta matéria aqui a série de evidências que mostram a ineficácia dos medicamentos utilizados no chamado tratamento precoce contra a Covid-19.

A médica Lucy Kerr não está sozinha na defesa da ivermectina. Em 23 de fevereiro deste ano, um grupo de médicos assinou e fez circular o “Manifesto pela vida”, uma defesa do tratamento precoce para a Covid-19, que apela à independência do médico para administrar medicações sem eficácia comprovada. As informações em que o manifesto se baseia não têm comprovação científica, conforme elucidou a checagem feita pela agência Lupa, que você confere aqui.

Nesta checagem aqui, feita pelo projeto Comprova, você pode acompanhar os detalhes sobre a fala da médica Lucy Kerr, que foi considerada conteúdo enganoso pela agência de checagem. A médica se baseou em observações, não em estudos clínicos: “Consultada, Lucy Kerr afirmou que a maioria dos pacientes que ela “curou” não fizeram teste de covid-19 nem o teste que verifica se o vírus não está mais no organismo. Disse que a comprovação da eficácia do remédio é observacional”.

Alexandre Garcia e Lucy Kerr: suspeita sobre as vacinas e defesa da ivermectina. Imagem: Reprodução WhatsApp

Efeitos positivos – A fala da médica vem sendo utilizada por grupos antivacina, que aproveitam eventuais efeitos negativos das vacinas para voltar à carga, defendendo o tratamento à base de medicamentos ineficientes. Mas os efeitos positivos da vacinação já começam a aparecer nos segmentos que foram imunizados: esta matéria do G1 mostra que caiu o número de mortos entre os idosos que receberam a vacina. Ou seja, as vacinas são eficazes.

O jornalista Alexandre Garcia já contestou o número de vítimas da Covid, já defendeu o tratamento precoce com hidroxicloroquina e também já se confundiu ao dizer que outras doenças respiratórias mataram mais do que a Covid-19 no Brasil em 2020. Dessa vez, ele reforça novamente sua defesa do governo federal, levantando suspeitas infundadas sobre a eficácia das vacinas.

Equipe NUJOC

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