Vídeo de homem passando mal em maca não prova que as vacinas são perigosas
Material de origem russa tem sido compartilhado no Instagram por negacionistas da vacinação
O vídeo tem 36 segundos e mostra uma fila de pessoas, algumas com máscara, esperando em frente a um prédio. Na sequência, aparece um homem sendo levado em uma maca por agentes de saúde. A voz de uma mulher narra a cena em russo. O material está circulando no Instagram e vem sendo repostado por pessoas que fazem comentários contra as vacinas. O aplicativo Eu Fiscalizo, da Fundação Oswaldo Cruz, enviou o vídeo para verificação pela equipe do NUJOC.
Efetuamos busca por imagem a partir de trechos do vídeo, e a pesquisa nos levou a uma página do Youtube em russo. Tentamos contato com a pessoa que publicou o vídeo no Youtube, mas não obtivemos resposta até a publicação desta matéria. Alguns elementos do vídeo, como as inscrições que aparecem e a língua falada pela mulher que narra a cena, indicam que foi feito na Rússia, mas não há como saber pelas imagens se de fato o homem está tendo uma reação depois de tomar a vacina russa contra a Covid-19, a Sputnik V, como sugerem os comentários do Instagram.
O vídeo foi repostado em página de perfil conservador e religioso do Instagram e traz o seguinte comentário: “Local de vacinação na Rússia. As pessoas esperam na fila para tomar uma injeção, enquanto uma pessoa wow recebeu a dose é retirada de ambulância ao sofrer reações!”. Outras pessoas comentam também: “Mais uma vez estão tornando a vida das pessoas um inferno, desta vez, sem darem um mísero tiro”, diz uma delas. Outra ironiza: “Mas os negacionistas somos nós, né?”. E outra pessoa ainda se indigna: “Já vi um povo falando: ‘melhor morrer da vacina do que do vírus’ a lavagem cerebral foi espetacular”. A conclusão para um dos comentaristas é a seguinte: “Eu pesquisei muito sobre as vacinas e minha conclusão é: Não vou vacinar”.
É falso afirmar, com base nas imagens do vídeo, que as vacinas não têm eficácia e que estão sendo usadas como resultado de uma “lavagem cerebral”. Pelo contrário, todas as vacinas atualmente aprovadas para imunização contra a Covid-19 foram amplamente testadas antes de serem aprovadas pelas agências de saúde e são seguras. Não se pode equiparar a propaganda feita pelos governos em prol da imunização a lavagem cerebral, pois são campanhas baseadas na ciência, que visam ao bem da população. Já os que negam as vacinas costumam embasar suas convicções em teorias sem fundamento, e o vídeo parece ser mais um exemplo retirado do contexto para alimentar teorias da conspiração.
Para além disso, mesmo que o vídeo seja de fato uma reação à vacina – o que não é possível afirmar até o momento –, é absurdo afirmar que as vacinas são um perigo para a saúde, como sugerem os comentários do Instagram. Elas são o resultado do trabalho árduo de milhares de cientistas em todo o planeta, e até o momento a arma mais eficaz na luta contra a Covid-19. Para que sejam efetivas é importante que sejam adotadas por toda a população. O nível de reações adversas é considerado baixíssimo para todas as vacinas aprovadas, e plenamente aceitável, na relação custo/benefício. Saiba mais sobre a segurança das vacinas nesta matéria aqui.
Contexto – Embora não se possa afirmar até o momento que o homem do vídeo tenha tomado vacina contra a Covid-19, a vacina Sputnik V, desenvolvida pela Rússia, teve lenta aceitação da própria população russa. Isso porque a fase de testes foi pouco transparente, o que gerou desconfiança da população, como narra esta matéria. Mas agora as coisas já estão mudando, sobretudo depois que a revista Lancet confirmou em fevereiro eficácia de 91,6% do imunizante.
A falta de transparência do governo russo também tem sido um entrave para a aprovação da Sputnik V no Brasil, onde a vacina foi recentemente aprovada com restrições pela Anvisa, como você pode conferir aqui. Tanto Rússia como China são pouco transparentes na divulgação de informações claras sobre assuntos ligados à pandemia, o que contribui para aumentar a desconfiança e as teorias conspiratórias sem fundamento.
O NUJOC Checagem já verificou outras mensagens envolvendo notícias falsas ou controversas sobre a China e a Rússia. Nesta aqui, por exemplo, verificamos mensagem que difamava os costumes chineses, e nesta outra, os números controversos da eficácia da vacina russa.