Vídeo que sugere que uso de máscaras é um paliativo dispensável para conter o avanço do Coronavírus traz informações imprecisas
Um vídeo que circula pelas redes sociais traz um conteúdo delicado e concernente ao não uso das máscaras pela população.
O vídeo, cujo narrador se diz médico, sem no entanto, detalhar sobrenome ou especialidade ou local de trabalho, portanto, de difícil comprovação de sua narrativa, parece ter sido produzido em um estúdio e se utiliza de inúmeras imagens sociais do atual momento de pandemia da COVID 19 para enriquecer sua narrativa que possui dois vieses principais de sustentação.
De um lado, defende o isolamento social vertical que atinja somente as pessoas com perfil de comorbidades prévias e, de outro, concentra-se no argumento de que para finalização da pandemia é necessário que 90% da população mundial seja contaminada e, que portanto, a recuperação geral e a extinção do vírus se dê pelas defesas naturais do nosso organismo.
O conteúdo principal do vídeo é referente ao questionamento que vem sendo amplamente discutido na sociedade neste período de pandemia e tem como ponto focal o uso ou não, de máscaras pela população. Nesse sentido, os argumentos vão se sobrepondo ao longo do vídeo, como a sugestão de liberação do uso de vários medicamentos, sem esquecer a polêmica hidroxicloroquina, mas sempre em direção à defesa do não uso da máscara.
Nesse cenário proposto pelo autor (es) do vídeo e considerando a taxa de letalidade do corona vírus hoje no Brasil, por exemplo, que está em torno de 6,1% aproximadamente, caso 90% da nossa população venha a se contaminar teremos cerca de 11,5 milhões de mortos.
Logo a estratégia de vencer o vírus naturalmente se equivale a uma estratégia eugênica de limpeza social, visto que o vírus se alastra com maior velocidade e atinge maior letalidade nas camadas populacionais mais vulneráveis, extrapolando o viés da comorbidade prévia e matando jovens e adultos.
O vídeo mistura informações falsas com linguagem técnica, própria da literatura da medicina e pouco usual no cotidiano da população brasileira e que, para espectadores mais leigos, conduz facilmente a equívocos e más interpretações sobre a importância de usar máscaras atualmente.
A princípio, o narrador traz um panorama de conceitos que versam sobre as definições do que vem a ser um vírus e em quais situações dentro do cotidiano hospitalar o uso de máscaras se faz presente e necessário, como em casos de cirurgias.
Mais adiante, o vídeo explana sobre condições das quais podemos inferir sobre o fim de uma pandemia, sendo estas, duas situações: a imunização por meio de vacinação e/ou por meio de imunização comunitária, quando o corpo humano adapta-se ao vírus e produz defesas naturais (anticorpos) contra as infecções causadas pelos patógenos, como explanamos acima.
Dada às experiências anteriores referentes a pandemias de escala global, alguns fatores são essenciais para o achatamento da curva de contaminação e mortes, sendo estes, o isolamento social, medidas sanitárias de higiene das mãos e superfícies e a prevenção de contaminações, ou seja, a exposição de pessoas a situações e lugares de risco, ou, aglomerações.
Nesta linha de raciocínio, o que diferencia o novo corona virus das epidemias anteriores? Em primeiro lugar, um ponto que deve ser elucidado é que o novo Corona vírus (SARS-Cov-2) tem uma alta taxa de transmissibilidade, superior aos da influenza H1N1, bem como sua alta taxa de mortalidade.
A (H1N1) na época chamada de gripe suína, levou a óbito cerca de 18 mil pessoas entre 2009 e 2010, números bem inferiores aos números registrados por mortes pelo corona vírus nos dias atuais, segundo balanço da OMS (Organização Mundial da Saúde). Dados do dia 25 de maio confirmam que cerca de 5,5 milhões de pessoas no mundo já foram contaminadas pelo corona vírus, destes mais de 342 mil pessoas vieram a óbito.
Neste contexto, o Brasil é o segundo país do mundo com maior incidência de casos confirmados, registrando mais de 23.000 mortes por COVID 19, como aponta o relatório do Ministério da Saúde.
Outra informação que se deve atentar e que está contida no vídeo é a do uso de algumas drogas para o tratamento e controle de doenças infecciosas que surtiram efeitos nos quadros anteriores de epidemias.
O narrador diz que ” ivermectina, hidroxicloroquina, azitromicina, anticoagulantes, corticóides e anti retrovirais” quando administrados no início da infecção e não no desenvolver dos casos poderiam curar pessoas das infecções causadas pelo vírus. Entretanto, alguns desses medicamentos não se aplicam ao espectro da doença COVID 19 ou estão em fase inicial de pesquisa, como bem afirma a cientista Kylie Wagstaff em relação ao uso da ivermectina, que ainda carece de maiores investigações.
Já a cloroquina, em estudos recentes, feito com mais de 96 mil pacientes não apresenta benefícios comprovados no tratamento da Covid-19, além apresentar possiblidade de disritmia e morte iminente, além de outras sequelas. Para ver os resultados do estudos, clique aqui.
No tocante ao uso de anticoagulantes e anti retrovirais, foi constatado que em casos graves da síndrome respiratório aguda, pode haver coagulação do sangue e até trombose. “Por este motivo, um grupo de especialistas chineses propôs o tratamento com anticoagulantes, mas com eficácia ainda não validada”. Explica o infectologista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, Leonardo Weissman.
E quanto aos antivirais, apenas o Remdevisir apresentou uma melhora no quadro de recuperação dos pacientes segundo pesquisas, porém em escala pouco significativa se comparadas ao quadro de mortalidade dos pacientes. Os resultados preliminares da pesquisa original podem ser consultados aqui.
O uso das máscaras, finalmente, se faz necessário neste momento de pandemia, pois é por meio desses cuidados minuciosos que será possível evitar o esgotamento total do sistema básico de saúde para o tratamento de pacientes vítimas da COVID-19. Sem estas precauções não será possível evitar um total colapso dos sistemas hospitalares, o que em regra, nos levará a um número muito maior de mortes causadas pelo vírus.
Vale destacar que os casos leves ou assintomáticos podem ser tratado em casa seguindo os protocolos de isolamento para evitar o contágio domiciliar, mas sempre com acompanhamento médico. Deixando assim, apenas que casos graves, que necessitem de internação e intubação sejam direcionados aos hospitais de referência.
Por outro lado, a população pode acessar os aplicativos CORONA Vírus-SUS disponibilizado pelo Ministério da Saúde para se informar e tirar dúvidas sobre a doença, assim como, o MONITORA disponilizado pelo COMITÊ CIENTIFICO DE COMBATE À COVID 19 do Consórcio Nordeste podendo, inclusive, no último caso, acionar atendimento médico.
A falta de uma vacina que reduza o número de contaminados, ou de medicamentos eficazes para cura da doença, também nos leva a crer que é preciso evitar o crescimento da curva de contaminação, objetivando evitar o crescimento do número de óbitos.
O vídeo diz claramente que máscaras não ajudam em nada. O uso de máscaras, assim como boas condutas de higiene e limpeza pessoal e ambiental, além de evitar aglomerações e saídas desnecessárias do isolamento, por enquanto, se mostram as melhores medidas a serem tomadas para reduzir o quadro de infecções.
Ao final do vídeo, o autor lista oito remédios naturais a serem tomados pela população, sendo estes, ar puro, água em abundância, sono regular de no mínimo 8 horas, exercícios físicos, alimentação saudável, exposição solar, temperança, fé em Deus e suplementação vitamínica do complexo D3 e C. Tais medidas, comprovadamente, aumentam as defesas do organismo e a imunidade fisiológica, porém, nada garante que um corpo saudável está imune ao novo coronavirus.
Denúncia repassada pelo aplicativo #eufiscalizo